Indústrias ampliam o reuso de materiais e transformam resíduos em insumos valiosos

Diagnósticos da FIEMG mostram potencial de circularidade, redução de custos e novos modelos produtivos em distritos industriais

Embalagens, paletes e vasilhames retornáveis são exemplos de materiais reaproveitados em diversos distritos industriais

A adoção do reuso de materiais nos processos produtivos tem avançado entre indústrias de Minas Gerais, revelando oportunidades antes invisíveis de economia, eficiência e sinergia entre empresas. Segundo estudos da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), distritos industriais do estado já observam resultados concretos ao reintegrar resíduos e subprodutos aos ciclos produtivos.

“O reuso hídrico representa uma das rotas mais eficazes para redução de custos e impactos ambientais”, afirma Mateus Oliveira Claudino, analista de Sustentabilidade da Federação, à Itatiaia. A partir dessa avaliação, o especialista reforça que a recirculação de água e efluentes tem se mostrado uma das estratégias mais robustas dentro da economia circular.

Rotas de reaproveitamento e diagnóstico técnico

De acordo com Claudino, o potencial de circularidade é amplo e se torna claro quando há estruturação técnica. “Esse amplo potencial de reaproveitamento, entretanto, só se torna completamente visível quando existe um diagnóstico técnico estruturado que permita enxergar fluxos, quantidades e compatibilidades entre processos.”

Ele explica que é esse diagnóstico que revela quais resíduos podem ser reaproveitados internamente ou entre empresas, gerando simbiose industrial.

O estudo da FIEMG indica que resíduos sólidos industriais como madeira, cavaco, sucatas metálicas, papelão e aparas plásticas, estão entre os materiais com maior potencial de retorno ao ciclo produtivo. O mesmo vale para paletes, big bags, vasilhames e embalagens diversas, que podem ser reutilizados com tratamentos mínimos.

Em alguns distritos, a recirculação hídrica já chega a 97,5%, demonstrando a viabilidade técnica e econômica dessa rota.

Redução de custos e ganhos operacionais

Os resultados financeiros também chamam atenção. Claudino destaca que “indústrias que adotaram práticas de economia circular alcançaram aumento médio de 20% na lucratividade”, efeito direto da redução do consumo de matérias-primas virgens, do menor volume de resíduos enviados a aterros e da diminuição de gastos logísticos.

Ele reforça que parte desses resultados vem da redução de despesas com destinação, do reaproveitamento de água e da reutilização de embalagens logísticas.

A FIEMG desempenha papel central nesse processo ao apoiar empresas na análise técnico-econômica das rotas de reuso, na elaboração de inventários de materiais e na articulação entre indústrias que podem trocar insumos e subprodutos.

Tecnologia, qualidade e segurança

Quando pergunta-se sobre os requisitos para garantir que um material reutilizado mantenha padrões adequados, Claudino é categórico: “a garantia da qualidade e segurança dos materiais reutilizados depende de um conjunto integrado de tecnologias, controles e processos.”

Ele se refere a sistemas de separação, tratamento, classificação, higienização, monitoramento e rastreabilidade que já estão presentes nos Planos de Negócios Coletivos coordenados pela FIEMG.

Além disso, tecnologias de tratamento físico-químico e biológico permitem que efluentes retornem aos processos industriais mantendo conformidade técnica e regulatória.

Para fluxos mais complexos, o especialista explica que são necessários investimentos em pesquisa e desenvolvimento, testes e certificações — etapas em que a FIEMG atua de forma direta, articulando empresas, universidades e centros de pesquisa.

Desafios regulatórios e resistência cultural

A transição para modelos circulares ainda encontra barreiras significativas nas indústrias brasileiras. Claudino aponta que um dos entraves mais comuns é a presença de barreiras legais e tributárias relacionadas à classificação de resíduos. Segundo ele, muitas empresas evitam avançar por medo de inconsistências com a PNRS ou por falta de clareza sobre enquadramentos e responsabilidades.

Outro obstáculo é a resistência cultural. De acordo com o especialista, ainda há empresas que enxergam a circularidade como ruptura, e não como oportunidade.

Para enfrentar esses desafios, a FIEMG promove workshops de sensibilização, elabora inventários, organiza encontros técnicos e estrutura Planos de Negócios Coletivos que aproximam oferta e demanda de materiais.

Competitividade e impacto nos negócios

A adoção da economia circular gera ganhos além da eficiência operacional. Claudino observa que “organizações que incorporam o reuso passam a desenvolver novas tecnologias, redesenhar processos e atrair investimentos”, tornando-se mais competitivas e inovadoras.Segundo ele, esse movimento fortalece a imagem institucional, melhora a aderência às exigências regulatórias, contribui para os ODS e aumenta a previsibilidade financeira das empresas ao reduzir a dependência de insumos virgens.

Desde 2009, a FIEMG lidera ações de economia circular no Estado por meio da Rede de Economia Circular e dos Planos de Negócios Coletivos, que orientam empresas, conectam cadeias produtivas e oferecem suporte técnico completo para que a circularidade avance com segurança.

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Erem Carla é jornalista com formação na Faculdade Dois de Julho, em Salvador. Ao longo da carreira, acumulou passagens por portais como Terra, Yahoo e Estadão. Tem experiência em coberturas de grandes eventos e passagens por diversas editorias, como entretenimento, saúde e política. Também trabalhou com assessoria de imprensa parlamentar e de órgãos de saúde e Justiça. *Na Itatiaia, colabora com a editoria de Indústria.

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