Implementação de cobots para montagem automotiva avança com rapidez e segurança

Marlon Pasqualini Faza, do Senai-MG, explica que robôs colaborativos já são parte da estratégia para fábricas digitais

Robôs colaborativos ganham espaço em etapas de pré-montagem, inspeção e parafusamento

A chegada dos robôs colaborativos — os cobots — está mudando a lógica de automação na cadeia automotiva. Antes restrita a células isoladas e investimentos altos, a robótica agora se torna mais flexível, acessível e integrada ao trabalho humano.

Para Marlon Pasqualini Faza, analista de Tecnologia do Senai-MG, essa virada tecnológica reflete uma evolução que começou há décadas, mas só se consolidou quando sensores, normas de segurança e interfaces amigáveis permitiram que máquinas e operadores passassem a dividir o mesmo espaço de trabalho.

“Os primeiros robôs industriais eram máquinas fortes, rápidas e precisas, mas incapazes de trabalhar próximas às pessoas”, explica à Itatiaia. “Eles exigiam grades e barreiras físicas. O cenário mudou quando surgiram sistemas mais leves, sensíveis ao toque e com controle inteligente que, na década de 2010, consolidou comercialmente os cobots.”

Faza lembra que o movimento foi reforçado pelas normas internacionais ISO 10218 e ISO/TS 15066, que estabeleceram parâmetros claros de segurança. Isso abriu caminho para uma convivência mais integrada entre humanos e robôs.

“Hoje, os cobots não substituem a automação tradicional, eles a complementam”, afirma. Segundo ele, enquanto os robôs industriais seguem indispensáveis em solda e pintura, os colaborativos ganham espaço na pré-montagem, inspeção por visão, parafusamento e alimentação de linhas.

Da análise de tarefa ao piloto: como implementar cobots de forma eficiente

O processo de implantação também mudou. Segundo Faza, a lógica atual é mais enxuta, rápida e orientada à tarefa, não mais à máquina. “Primeiro aplicamos o Lean Manufacturing. Depois mapeamos a tarefa, e não a tecnologia. Só então avaliamos se um cobot faz sentido”, explica.

A partir daí, as etapas seguem um fluxo maduro:

  • Mapeamento detalhado do processo, considerando ergonomia, repetitividade e custo.
  • Análise de risco conforme as normas ISO, garantindo interação segura.
  • Pilotos rápidos (PoCs), que validam ciclo, ergonomia e retorno antes do investimento.
  • Engenharia de integração, com visão, ferramentas, intertravamentos e ajustes finos.
  • Treinamento intensivo, envolvendo operadores desde o início.
  • Conexão com sistemas MES e dados de fábrica, consolidando a digitalização.

“Com os cobots, a implantação se tornou mais ágil. Hoje, eles já fazem parte do ecossistema de dados, contribuindo para monitoramento, OEE e manutenção preditiva”, afirma.

Produtividade, ergonomia e qualidade: ganhos concretos na cadeia automotiva

Os efeitos são diretos na operação. “A indústria automotiva sempre teve alta produção, mas pouca flexibilidade. Com os cobots, conseguimos automatizar volumes menores, fazer setups rápidos e manter alta repetitividade”, diz Faza.

Entre os principais benefícios, ele destaca:

  • Produtividade com flexibilidade, adaptando linhas a variantes de veículos.
  • Precisão e qualidade, sobretudo em parafusamento, inspeção e selagem.
  • Melhor ergonomia, reduzindo afastamentos e lesões em tarefas repetitivas.
  • Acesso à automação para pequenos fornecedores, democratizando tecnologia antes restrita a grandes montadoras.

Relatórios do IFR mostram que, em 2023, os cobots já representavam cerca de 10,5% das instalações robóticas globais, um marco da expansão dessa tecnologia.

Trabalhador no centro: a nova relação entre pessoas e robôs

A interação também mudou. “Antes, o operador ficava distante da célula robótica. Hoje, ele ensina pontos, ajusta rotinas e acompanha tudo em tempo real”, afirma Faza. Técnicos passam a atuar em calibração e integração, enquanto engenheiros ampliam o foco para dados, visão e conectividade.

Essa mudança só é possível com capacitação. “Instituições como o SENAI já estruturam formações práticas para operadores, técnicos e engenheiros. Esse alinhamento entre educação e indústria é decisivo”, destaca.

Retorno financeiro acelerado e pressão competitiva global

Segundo Faza, o investimento em cobots tem retorno rápido. “Os robôs tradicionais exigiam CAPEX alto e payback longo. Os cobots reduzem retrabalho, aumentam produtividade e melhoram ergonomia. Em alguns casos, o retorno vem em poucos meses”, afirma.

Ele destaca ainda que a tecnologia reduz dependência de mão de obra em tarefas repetitivas e melhora a resiliência da fábrica, aumentando competitividade em um cenário de alta personalização de veículos.

O futuro próximo, diz ele, será marcado por cobots com inteligência artificial, visão avançada e integração profunda com sistemas de dados. “Veremos robôs capazes de aprender rapidamente, executar inspeções complexas e alimentar plataformas de decisão em tempo real”, projeta.

Para Faza, o recado é direto: “Modernizar não é opcional, é estratégia para manter competitividade. Os cobots devem ser vistos como porta de entrada para a fábrica digital.”

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Erem Carla é jornalista com formação na Faculdade Dois de Julho, em Salvador. Ao longo da carreira, acumulou passagens por portais como Terra, Yahoo e Estadão. Tem experiência em coberturas de grandes eventos e passagens por diversas editorias, como entretenimento, saúde e política. Também trabalhou com assessoria de imprensa parlamentar e de órgãos de saúde e Justiça. *Na Itatiaia, colabora com a editoria de Indústria.

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