Os principais obstáculos enfrentados pelos exportadores brasileiros continuam concentrados em problemas de logística e infraestrutura. É o que mostra a nova edição da pesquisa Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras, divulgada nessa terça-feira (9) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O levantamento ouviu empresas para mensurar o peso de 50 entraves no desempenho das vendas externas nos últimos dois anos.
Transporte internacional é o entrave mais citado
Segundo o estudo, o custo do transporte internacional permanece como o maior problema para as empresas que vendem ao exterior. Para 58,2% das indústrias exportadoras, esse fator tem impacto elevado ou crítico nos embarques.
Na sequência aparecem a ineficiência dos portos para manuseio e embarque (48,5%), as limitações de rotas marítimas, contêineres e espaço disponível (47,7%) e as tarifas portuárias (46,2%). A volatilidade cambial é o primeiro entrave da lista que não está ligado à logística, apontado por 41,8% dos entrevistados.
A CNI observa que esses fatores internos pesam diretamente na competitividade da indústria brasileira, em um contexto internacional marcado por tensões comerciais e medidas restritivas adotadas por diversas economias.
Estrutura regulatória e burocracia também entram na lista
O estudo aponta que a competitividade das exportações brasileiras é afetada por entraves estruturais e institucionais. Entre os destaques estão a burocracia alfandegária, a complexidade das normas do comércio exterior e a falta de previsibilidade regulatória.
A pesquisa indica que 29,1% das empresas veem a insegurança jurídica como entrave crítico, enquanto leis conflitantes ou pouco efetivas foram citadas por 25% dos respondentes.
A multiplicidade de documentos e a falta de integração entre órgãos também geram dificuldades: 27,3% mencionaram o excesso de documentação, 26% a ausência de janela única de inspeções e 25% a falta de sincronização entre instituições envolvidas nos processos.
Restrição ao acesso a mercados e barreiras externas
Entre as barreiras relacionadas ao acesso a mercados, a ausência de acordos comerciais com países de destino é o entrave mais citado, apontado por 25,8% das empresas. Outras dificuldades incluem barreiras tarifárias (22,7%), barreiras não tarifárias (21,7%) e regulamentações ambientais consideradas restritivas (9,7%).
Do total de empresas consultadas, 31% relataram ter enfrentado barreiras nos mercados compradores. Entre elas, 67,2% afirmaram que tarifas de importação são o principal obstáculo, seguidas por burocracia aduaneira (37,8%), normas técnicas (37%) e medidas sanitárias e fitossanitárias (25,2%).
Estados Unidos e China são citados pelas empresas como prioridades para novos acordos de cooperação e facilitação de investimentos.
Tributação é vista como crítica para parte das empresas
A pesquisa revela ainda que 32,1% das empresas consideram crítica a alta tributação na importação de serviços utilizados para exportação. A complexidade dos regimes especiais e as dificuldades no ressarcimento de créditos tributários também são apontadas como limitadores.
Instrumentos como o Drawback seguem relevantes, mas a adesão permanece limitada pela burocracia e pela falta de informação.
Comparação com 2022 mostra piora em pontos-chave
O custo do transporte internacional foi igualmente o principal entrave apontado na pesquisa anterior, realizada em 2022, mas a ineficiência dos portos teve avanço expressivo: de 14ª posição, passou a ocupar a segunda colocação em 2025.
Houve melhora pontual no transporte doméstico, mas os empresários relatam agravamento de problemas logísticos e institucionais, como a operação portuária e a pressão dos juros elevados.
Indústria apresenta propostas para melhorar competitividade
Com base nos resultados, a CNI lista um conjunto de propostas para reduzir obstáculos e ampliar a participação do Brasil no comércio internacional. As sugestões incluem:
- Modernização dos instrumentos de financiamento à exportação;
- Simplificação de regimes especiais e ampliação de acordos para evitar dupla tributação;
- Implantação de sistemas como a Janela Única Aquaviária e o Sistema Comunitário Portuário;
- Avanço do Portal Único de Comércio Exterior e fortalecimento do Programa Operador Econômico Autorizado;
- Priorização de acordos comerciais envolvendo Mercosul, União Europeia, EFTA, EUA e Canadá;
- Criação de um observatório de competitividade e definição de metas anuais.
A pesquisa é realizada pela CNI desde 2002 e serve de base para o desenho de políticas voltadas ao incremento das exportações brasileiras.