A oficina do futuro: o que muda na manutenção automotiva com os híbridos e elétricos

Vendas de veículos eletrificados disparam no Brasil, mas oficinas não estão prontas; estudo do Senai aponta que mecânico é profissão mais impactada

A revolução elétrica não é apenas sobre o que dirigimos, mas sobre quem manterá esses veículos em movimento

O ronco silencioso dos carros elétricos tomou conta das ruas brasileiras. O que era uma aposta distante virou um fenômeno de mercado. Em 2024, as vendas de veículos eletrificados (híbridos e elétricos puros) cresceram 89% no Brasil, com 177.358 novas unidades emplacadas, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). A projeção é que 2025 ultrapasse 200 mil veículos.

Mas, enquanto as vendas aceleram, uma pergunta freia o otimismo: como fica o conserto desses carros? A infraestrutura de manutenção, acostumada a pistões e óleo, assiste à uma revolução para a qual ainda não está preparada.

O mecânico em xeque

Um estudo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), chamado ‘Profissões do Futuro’, é direto: o Profissional de Manutenção Automotiva é a ocupação mais impactada pela chegada do carro elétrico.

A mudança é profunda. A manutenção, historicamente focada em graxa, escapamentos e trocas de óleo, está migrando abruptamente para o domínio do software, da eletrônica de potência e da química de novos materiais.

Da graxa ao gigabyte: a nova oficina

Em entrevista à Itatiaia, o engenheiro mecânico Júlio Cézar de Alvarenga Pires, coordenador de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Senai, explica que a lógica do conserto e da avaliação mudou completamente. O foco agora é a segurança da bateria.

Pires detalha que os testes são rigorosos, avaliando “estabilidade térmica” (para evitar superaquecimento ou incêndio) e “resistência mecânica”, para garantir que a bateria resista a colisões e ao uso severo.

O estudo do Senai complementa essa visão. A oficina do futuro precisará de especialistas em:

  • Calibração de sensores e radares (essenciais para carros semiautônomos)
  • Novos compósitos e polímeros (materiais leves usados na estrutura)
  • Impressão 3D para a produção de peças de manutenção
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As profissões que estão nascendo

Se o mecânico tradicional está ameaçado, o Senai aponta o surgimento de pelo menos duas novas profissões cruciais para a era elétrica.

A primeira é o Técnico em conectividade veicular (VEICONICS). Este profissional é, na prática, o “técnico de TI” do carro. Ele será responsável por “diagnosticar e reparar a conectividade”, “configurar periféricos” e, o mais importante, “atualizar softwares dos sistemas”.

A segunda é o Técnico de energias para o setor automotivo. Este cuidará da infraestrutura de recarga, sendo capaz de “instalar sistemas de geração de energias” e “configurar sistemas smart grids” (as redes inteligentes que gerenciam a energia).

A revolução elétrica, portanto, não é apenas sobre o que dirigimos, mas sobre quem manterá esses veículos em movimento. A era do mecânico está em transformação e já começou a era do especialista em tecnologia automotiva.

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Amanda Alves é graduada, especialista e mestre em artes visuais pela UEMG e atua como consultora na área. Atualmente, cursa Jornalismo e escreve sobre Cultura e Indústria no portal da Itatiaia. Apaixonada por cultura pop, fotografia e cinema, Amanda é mãe do Joaquim.

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