As tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros devem entrar em vigor nesta sexta-feira (1º) e já causam preocupação em setores estratégicos da economia nacional. A medida afeta diversas exportações e tem levado empresas a adotar ações emergenciais para se adaptar ao novo cenário. Em entrevista ao Jornal da Itatiaia, o professor de economia Paulo César Feitosa comentou o impacto da medida, destacando a imprevisibilidade do governo norte-americano.
“Todas as decisões econômicas são baseadas em expectativas sobre o futuro, que já é incerto por natureza. O problema é que o presidente Trump é ainda mais imprevisível do que essas incertezas. Ele pode simplesmente acordar e decidir adiar ou manter o que anunciou, sem qualquer padrão de comportamento anterior que nos permita prever algo com segurança”, afirmou o economista.
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Segundo Feitosa, fontes do governo norte-americano e o Departamento de Estado indicam que as tarifas serão mantidas para a maioria dos produtos — com exceção de itens como minério de ferro e aço, que já são taxados há mais tempo.
O especialista chama a atenção para a dependência de empresas brasileiras, especialmente do agronegócio, em relação ao mercado dos EUA.
“Muitas companhias concentram suas exportações em um único grande comprador, como os Estados Unidos. Quando esse país adota uma medida como esse tarifaço, os produtos brasileiros se tornam tão caros no mercado americano que sua venda fica inviável. Isso atinge diretamente as empresas, que já começam a programar férias coletivas, suspender ou reduzir atividades”, explica.
Feitosa relata que várias empresas no interior de São Paulo e em outras regiões produtoras já tomam medidas para enfrentar a crise. A primeira etapa, segundo ele, costuma ser a concessão de férias coletivas. A próxima, mais temida, é o aumento do desemprego.
“Esse impacto é imediato. E o trabalhador já começa a ver o desemprego como uma expectativa próxima”, alerta.
Setores mais afetados
Entre os produtos mais atingidos estão frutas como manga, uva, laranja e banana. No caso da laranja, o impacto pode ser ainda maior, já que os Estados Unidos dependem quase totalmente da fruta brasileira para a produção de suco.
“O café, por ser armazenável, pode ser direcionado ao mercado interno, mas isso gera um excesso de oferta e provoca queda nos preços. Já frutas frescas têm menor margem de manobra. Se não forem colhidas e vendidas a tempo, apodrecem. Algumas já estão na época da colheita, como a banana, e os preços no atacado já começaram a cair”, observa Feitosa.
Embraer
O professor também citou a situação da Embraer, que pode ser afetada pela restrição ao mercado norte-americano.
“Uma alternativa seria o governo brasileiro criar um programa de financiamento via BNDES para incentivar companhias aéreas nacionais a renovarem suas frotas com aviões da Embraer. Essa substituição por aeronaves nacionais ou até europeias da Airbus funcionaria como uma retaliação indireta, sutil, mas estratégica. É uma resposta que não alimenta represálias, mas protege a indústria nacional”, avaliou.