Viajar de avião ficou ainda mais caro para o brasileiro: os preços das passagens aéreas aumentaram 81,93% entre setembro e dezembro, conforme a prévia da inflação oficial do governo, o IPCA-15, divulgada na última quinta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A passagem aérea foi o principal impulsionador da taxa de 0,40% do IPCA-15 em dezembro, representando 22,5% da variação. O gerente da pesquisa, André Almeida, destacou fatores como a proximidade das férias e o aumento do preço do querosene de aviação como possíveis influências.
Em relação à inflação, até dezembro de 2023, a passagem aérea registrou 48,11% no IPCA-15: a maior alta em 12 anos. Esse é o terceiro ano consecutivo de aumento, seguindo altas de 16,76% em 2021 e 24,02% em 2022. Essa tendência segue o cenário de 2020, o primeiro ano da pandemia, quando os preços das passagens chegaram a cair significativamente em maio e junho, mas se recuperaram nos meses seguintes, conforme a necessidade de isolamento social para lidar com a crise sanitária de Covid-19 diminuiu.
Por que viajar de avião no Brasil é tão caro?
Conforme apontado em relatório Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a tarifa média aérea doméstica bateu recorde em setembro de 2023, registrando 747,66 reais, maior valor registrado desde 2010.
A agência realiza o cálculo considerando a média de preços de todos os assentos vendidos durante o período, excluindo taxas aeroportuárias e ajustando os valores conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Essa abordagem foi implementada a partir de junho de 2010 e o dado mais recente disponível é referente a outubro deste ano, em que a média registrada foi de 741,47 reais.
A situação tende a piorar nos meses seguintes, visto que as passagens aéreas foram o componente mais impactante no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro e novembro. A elevação acumulada das passagens aéreas já atinge 35,24% no ano, conforme estudo disponibilizado pelo IBGE no início de dezembro.
O doutor em Economia, Márcio Salvato, explica que a alta no preço das passagens é resultado de uma combinação de fatores. O especialista explica que, apesar de uma certa estabilização do dólar, é preciso inicialmente entender que, o aumento das passagens aéreas não é um problema exclusivo do Brasil, e que a pandemia de Covid-19 fez com que muitos mudassem seus planos de viagem, alterando a demanda nos últimos meses. “A demanda de fluxo aéreo estava reprimida e com o aumento da demanda a oferta não consegue acompanhar”, destaca.
O economista também menciona o preço do querosene para aviação. Em 2022, A Anac divulgou que preço médio da Querosene de Aviação atingiu o maior marco da série histórica: 5,83 o litro. Atualmente, os combustíveis impactam cerca de 40% dos custos de operação das companhias aéreas, no entanto, o especialista destaca que o valor do querosene está caindo, o que enfraquece a teoria de ser o principal responsável pelo valor das passagens. “Se olharmos a política da Petrobrás, desde setembro nós tivemos três quedas seguidas no preço do Querosene para aviação. Também é previsto uma queda para primeiro de janeiro de 9,4% conforme anúncio da Petrobrás, o que vai fazer com que o preço tenha 27,5% de queda, ou seja, ainda estamos com preço acima do que ela pré-pandemia, mas o momento atual é que o preço do querosene já não está mais impactando tanto para explicar o aumento dos preços da passagem”, explica.
O que explica o aumento dos preços?
O economista Márcio Salvato chama atenção para a desarticulação da cadeia de abastecimento de atividade aérea no pós-pandemia da Covid-19. “Para você reconstruir novamente toda essa cadeia produtiva de oferta dos serviços aéreos, é necessário novos trechos, novas rotas, novos acordos entre as empresas para operar nos aeroportos, o que demanda tempo. Temos uma sobre demanda aquecida e uma oferta que não vai acompanhar.” diz.
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) esclarece o atual cenário do preço de passagens aéreas no Brasil, segue um movimento global e também destaca aspectos como sazonalidade, além do valor de oscilação das passagens ao longo dos meses.
A Abear ainda afirma que “a aviação é um setor fortemente afetado pelo câmbio do dólar” além de “Em todo o mundo, as companhias aéreas ainda buscam neutralizar os impactos gerados pela maior crise de sua história. Nos Estados Unidos, por exemplo, a tarifa aérea média do segundo trimestre de 2023 segue 10% acima do mesmo período em 2019. Enquanto isso, no Brasil, o valor médio dos bilhetes não teve aumento. Estudo da empresa de análise de aviação Cirium revela que os preços médios dos bilhetes para centenas das rotas mais populares do mundo aumentaram 27,4% desde o início de 2022.” afirma nota enviada à Itatiaia.
Como é calculado o valor da passagem?
O valor de um bilhete aéreo é influenciado por diversos fatores, incluindo a oscilação do preço internacional do barril de petróleo (utilizado na produção de combustível para aeronaves), taxa de câmbio, estratégias competitivas das empresas, distância da rota e demanda por trajetos específicos.
A Anac ainda ressalta outros elementos, como antecedência da compra, dia da semana, presença de escalas, opções de refeições a bordo, posição do assento e canal de venda da passagem, também desempenham um papel crucial. Em alguns casos, voos domésticos podem apresentar custos superiores aos destinos internacionais, especialmente em nações vizinhas ao Brasil.
Especialistas indicam que essa disparidade é resultado da extensa extensão territorial brasileira, resultando em viagens de longa distância. Além disso, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), aplicado em setores como combustíveis, contribui para elevação de custos em determinadas regiões do país. Vale ressaltar que o preço das passagens aéreas é dinâmico, variando conforme esses fatores a qualquer momento, o que pode levar diferentes consumidores a pagar valores distintos mesmo em assentos semelhantes em um mesmo voo.