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Zé de Abreu de volta aos palcos; ator se apresenta em BH com o espetáculo ‘A Baleia’

A peça do dramaturgo norte-americano Samuel D. Hunter, chega a Belo Horizonte para duas apresentações nos dias 23 e 24 de agosto

Zé de Abreu em cena na peça “A Baleia”

A peça “A Baleia”, do dramaturgo norte-americano Samuel D. Hunter, chega a Belo Horizonte para duas apresentações nos dias 23 e 24 de agosto. O espetáculo marca o retorno do ator Zé de Abreu aos palcos após mais de mais de dez anos longe do teatro. Em conversa com a Itatiaia, ele explicou os motivos de sua ausência e detalhou os desafios do novo trabalho.

Afastamento dos palcos e vida na Europa

O ator revelou que a decisão de se afastar dos palcos e do Brasil se deu em razão da busca de uma vida mais tranquila e anônima. “Eu queria viver num lugar onde eu não era conhecido.” A rotina de gravações de novelas na TV Globo passou a ser dividida com constantes viagens para a França, onde o ator também fixou residência.

Outro fator que, segundo o ex-ator da Globo, contribuiu para o afastamento dos palcos foi o cenário político no Brasil. “Eu era muito visado por defender a Dilma na época do golpe. Não estava num astral legal para ficar aqui”, disse o ator, referindo-se à época dos governos Temer e Bolsonaro, quando se dedicava mais ativamente a se posicionar diante das pautas políticas do país, especialmente através das redes sociais.

Foi justo no início dos anos de grande turbulência política e social no Brasil, por volta de 2013, que o ator teve o primeiro contato com o texto da peça “A Baleia” de Samuel Hunter, alguns anos antes do lançamento da produção hollywoodiana que tornou a história mais conhecida mundialmente.

“A Baleia”

O ator afirma que a escolha de montar e protagonizar a peça de Hunter não foi imediata. Zé de Abreu teve contato com o texto, escrito em 2010 e apresentado no teatro em Nova York pela primeira vez em 2012, por volta de 2013. No entanto, de acordo com o artista, a conjuntura política que se sucedeu esvaziou o apoio às produções culturais e inviabilizou a produção. “Imagine se alguém ia me dar autorização para eu montar uma peça no tempo do governo Bolsonaro, nem pensar”, comentou.

A montagem da peça só avançou após o lançamento do filme “A Baleia”, que deu o Oscar de melhor ator para o norte-americano Brendan Fraser. Segundo Zé, a produção de Hollywood, teve pouca repercussão no Brasil. “Achei que o filme ia matar a peça. Depois eu vi que não. O filme foi muito falado, mas pouca gente viu”, explicou. Após entender que a existência do longa não prejudicaria o interesse pela peça, Zé decidiu seguir com a montagem ao lado do produtor Felipe Lima e da diretora Amanda Reis.

Desafios do personagem

Na peça, Zé de Abreu interpreta Charlie, um homem que sofre de obesidade severa e vive recluso e atormentado pela culpa. Um dos grandes desafios é o figurino bastante volumoso, que simula o corpo do personagem. “No começo foi difícil, mas como a gente ensaiou por três meses, e o figurinista em um mês e meio já estava com esse corpo pronto, deu para se adaptar a tempo”, afirmou o ator. Apesar de constituir um desafio importante, a dificuldade maior na composição do personagem não é a questão física, mas a complexidade psicológica do personagem.

Zé de Abreu comparou a experiência de interpretar Charlie com a montagem teatral de “O Beijo da Mulher Aranha” em 1980, peça que também exigiu um elaborado trabalho psicológico. O ator destaca que Charlie é um personagem que “só vê a beleza das pessoas”, e carrega uma culpa imensa pela morte de Alan, seu namorado e aluno.

Na obra, Alan acaba morrendo na verdade, vítima da homofobia, após ser submetido a um episódio de “cura gay” imposto pela família conservadora. “Isso cria uma dor profunda no Charlie e ele não sabe lidar com isso”, disse.

A produção da peça contou com o acompanhamento de profissionais da saúde e psicologia. Uma médica especialista em obesidade esteve presente nos ensaios para auxiliar a equipe e o ator a compreender as nuances e camadas emocionais e psicológicas dessas pessoas que estão em constante batalha contra o próprio corpo.

Diferenças entre peça e filme

Zé de Abreu comentou sobre as diferenças entre a peça e o filme, apontando que Hollywood tende a “piorar” as adaptações para atingir um público maior. “Você não escreve uma peça de teatro para milhões de pessoas”, destacou. O ator criticou a forma como o filme abordou alguns pontos, como a relação de Charlie com a filha e a ex-mulher, tornando-os mais "óbvios” e “violentos” do que na peça original.

“O meu Charlie, que é o Charlie do teatro, jamais faria coisas que ele faz no filme”, exemplificou, citando uma cena em que o personagem do filme leva o namorado para casa da filha, trecho que não aparece na peça.

O espetáculo, segundo o ator, segue uma estrutura de “mosaico”, em que o espectador vai construindo gradativamente a história, associando os fatos apresentados e costurando o sentido da narrativa. “Durante a peça você vai montando um quebra-cabeça”, explicou.

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Recepção do público

A recepção do espetáculo pelo público tem sido positiva. “Eu choro de emoção, porque eu nunca tinha visto isso, o público todo em pé gritando bravo”, relatou o ator que também mencionou o impacto emocional que a peça provoca, levando as pessoas a um estado de “catarse”.

O autor da peça, Samuel D. Hunter, esteve presente para assistir a estreia no Brasil, algo que nunca havia acontecido em outros países onde a peça foi montada. Hunter já escreveu 19 peças e ganhou o prêmio “Genius Grant” por seu trabalho como dramaturgo.

Zé de Abreu finalizou a entrevista destacando a complexidade do personagem Charlie e a forma como a peça leva o público a refletir sobre preconceitos e emoções. “Não dá para não se apaixonar pelo Charlie”, concluiu.

Serviço

  • Espetáculo “A Baleia”
  • Datas 23 e 24 de agosto
  • Local: Grande Theatro Unimed-BH, no Cine Theatro Brasil
  • Endereço: Av. Amazonas, 315, Centro

Os ingressos estão disponíveis para compra no site do Eventim e na bilheteria do teatro.
Funcionamento da bilheteria: Seg – Sáb: 12:00 – 21:00 e Dom e feriados: 15:00 – 20:00.
Horário especial nos feriados.
Telefone: (31) 3201.5211 ou (31) 3243.1964

Amanda Alves é graduada, especialista e mestre em artes visuais pela UEMG e atua como consultora na área. Atualmente, cursa jornalismo no UniBH e é estagiária do Digital na Itatiaia. É apaixonada por cultura pop, fotografia e cinema e mãe do Joaquim