Ouvindo...

‘A Droga da Obediência’, livro de Pedro Bandeira que marca adolescentes há 40 anos, chega aos cinemas em 2027

Anúncio da estreia foi feito na Bienal do Livro no Rio de Janeiro nesta sexta (20), em conversa entre autor, roteirista e produtora do longa

Carolina Sanches, Juliana Capelini, Pedro Bandeira e Luca Paiva Mello em conversa na Bienal do Livro Rio 2025

“Foi o date mais longo da minha vida” brincou o roteirista e produtor Luca Paiva Mello na Bienal do Rio nesta sexta (20). Com quem foi o tal date? Com Pedro Bandeira, escritor de 83 anos, que depois de dezoito meses de encontros, happy hours e reuniões aceitou o convite de Luca e topou transformar o livro “A droga da obediência” em filme.

Essa história foi contada durante a conversa mediada por Carolina Sanches na Bienal, que também teve participação de Juliana Capelini, produtora do longa. Ela, da Conspiração Filmes, que produziu o oscarizado “Ainda Estou Aqui”. Luca, da Scriptonita, empresa responsável pelo roteiro. Além das duas empresas e do escritor, o filme também terá a participação da Globo. A previsão é de que o longa seja gravado em 2026 e lançado nos cinemas brasileiros em 2027.

Leia também

‘A Droga da Obediência’

Lançado em 1984, o livro “A Droga da Obediência” é um dos maiores sucessos de Pedro Bandeira e apresentou aos leitores os Karas. São adolescentes, todos estudantes de um colégio de elite de São Paulo. Miguel, Calu, Crânio, Magri e Chumbinho formam o grupo de estudantes inteligentes e destemidos que se comunicam por meio de códigos secretos e desvendam mistérios que muitos adultos não conseguem.

Quem leu, sabe: a gente queria ser como eles, ser parte dos Karas (eu me incluo nessa). E hoje, 40 anos depois do lançamento, quando se usa o Chat GPT para pesquisar no lugar dos recortes de jornais e cada um tem seu próprio ‘orelhão’ nas mãos, essa vontade permanece. Bastava olhar a plateia para ver muitos adolescentes com seus exemplares, emocionados ao ouvir o autor. Muitos acompanhados de suas mães e pais, que se encantaram pelas mesmas obras em sua época.

História atual

O que torna esse livro ainda tão atual? “Eu tenho uma opinião muito clara em relação ao Pedro. Eu não acho que o Pedro faça literatura infantil juvenil, acho que ele escreve para futuros adultos conscientes e cidadãos. É uma obra ética, é uma obra formativa, é uma obra política”, diz Luca Paiva Mello. “Acho que isso explica os 40 anos de sucesso, os 40 anos de de de carreira desse livro e da obra do Pedro”.

Pedro Bandeira avalia que os Karas são símbolos e, por isso, seguem atuais como as ideias e posicionamentos que representam. “Eles não são iguais aos leitores, nenhuma criança ou adolescente vai fazer aquelas coisas que eles fazem” explica. “Mas espero que os espectadores [do filme] digam ‘que legais essas ideias que eles têm’. Eles têm ideias críticas. Sabem dizer não quando algo faz mal, eles aprenderam isso antes”.

Adaptação

Ainda que o pano de fundo da história siga atual, transformar uma história da linguagem escrita para o cinema exige adaptações. Juliana explica que, o que norteou esse trabalho, foi “atualizar a história, mas manter a essência, as características e a linha principal da história, essa era a premissa mais importante”.

Os fãs podem ficar tranquilos - Pedro Bandeira foi extremamente criterioso e fez questão de conservar o que é importante para preservar o mistério que os Karas resolvem, o risco e os perigos que eles correm ao longo da história.

Mas, claro, tem mudanças sim. É o próprio Pedro quem conta um ‘spoiler': "[no livro] o líder deles descobre que está havendo muitos sequestros na cidade e vê recortes de jornais. Tudo bem, agora ele vai na internet, não muda nada. Hoje é muito mais fácil ir na internet do que pegar recortes de jornais”. E completa: “Se o Bentinho tivesse celular, mudava a história do Dom Casmurro? Não mudava!”. As adaptações, explica, são para que o filme se pareça com a vida de hoje, mas o fundo, o sumo da história, está lá.

Montagem com a capa do livro “A Droga da Obediência” e foto do autor, Pedro Bandeira, na Bienal do Livro do Rio

Obedecer ou desobedecer?

Quer outro ‘spoiler’? Os três foram unânimes sobre a cena mais importante, que não poderia faltar. O embate entre Miguel e o Dr. Q.I., um dos pontos mais altos do livro e que promete ser tão marcante quanto no filme.

“Essa é a cena que sumariza o ideário dos Karas. Uma reunião de inteligência, união e coragem, um tripé que vence todo e qualquer sistema opressor, essa cena é emblemática”, diz Luca Paiva Mello.

Pedro complementa, citando uma frase de Miguel, líder dos Karas: “A obediência só serve para eternizar velhas ideias. É a desobediência e move o mundo”. Ao que adiciona: “Uma nova ideia é muito necessária, você não pode viver só com as velhas ideias. Não vou dizer que todas as ideias antigas sejam ruins, mas elas envelhecem com o progresso humano. Então, a nova ideia é importante. Por isso que os 21 anos de ditadura no Brasil foram tão tristes, não havia novas ideias”, afirmou. “Eu luto pela liberdade do meu leitor”, disse Pedro Bandeira em outro momento da conversa.

Legado à humanidade

Ao fim da conversa, a mediadora Carolina Sanches leu a pergunta de Vanessa Costa - professora de língua portuguesa e literatura brasileira, leitora de Pedro desde os 10 anos: “qual legado você quer deixar para a humanidade?”

Ao que Pedro respondeu: “eu quero deixar o amor. Meu amor pelo ser humano, pelo futuro, por essa criança. Meu legado, no fundo, é contar como eu amo vocês e como eu amo o meu país”. Palavra de um autor que já produziu mais de 200 obras, sendo 20 best-sellers e vendeu mais de 20 milhões de exemplares.

Coordenadora de jornalismo digital na Itatiaia. Jornalista formada pela UFMG, com mestrado profissional em comunicação digital e estratégias de comunicação na Sorbonne, em Paris. Anteriormente foi Chefe de Reportagem na Globo em Minas e produtora dos jornais exibidos em rede nacional.