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100 dias do governo Lula, mais do mesmo... claro!!!

Uma análise do que aconteceu até aqui e dos desafios que seguem postos

Presidente Lula

Um mandato de quatro anos tem 1460 dias e, não sei por que, escolheu-se a marca de 100 dias para se fazer um balanço dos governos eleitos. Já que a marca existe, vamos falar do início do governo Lula nestes primeiros 100 dias.

O governo começou bem conturbado, com a tentativa de golpe no dia 08 de janeiro. A tomada dos três poderes por radicais eleitores do ex-Presidente Bolsonaro só não alcançou seus objetivos porque nossas instituições demostraram resiliência e força para retomar os caminhos decididos pelas urnas na última eleição.

Sobre este caminho que me valho para fazer a análise dos 100 dias. Muitos analistas falam que não viram nada de novo, que o governo ainda não começou ou mesmo que a “picanha e a cerveja” continuam distantes da maioria da população brasileira que teria sido vítima de um estelionato eleitoral.

Mas o fato é que o Presidente Lula foi eleito com a expectativa de que a vida dos brasileiros pudesse ser próxima do que era quando ele foi Presidente. E neste sentido algumas marcas do antigo governo precisavam de serem retomadas, entre elas o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos e o aumento real do salário-mínimo.

Já temos 100 dias de governo e o que Lula fez? Lula retornou com os mesmos programas com ajustes e melhorias. O Bolsa Família tem valores bem superiores ao programa anterior, o Minha Casa Minha Vida retoma obras paradas para ter mais efetividade e o Mais Médicos não opera mais com os médicos cubanos e busca a redistribuição, principalmente dos profissionais recém-formados por áreas mais longínquas e vulneráveis deste país.

Do ponto de vista da economia a herança foi bem aceita e o estímulo do governo continua na mesma direção. Por mais que se fale em aumento dos gastos públicos, o novo arcabouço fiscal busca também o aumento da receita garantindo a solidez das contas públicas.

Do ponto de vista humanitário o governo demarca suas diferenças, seja no acompanhamento e investimento em áreas de risco afetadas pelas chuvas, seja na proteção dos povos originários e o combate ao garimpo e ao extrativismo ilegal.

Oriundo desta nova forma de ver a natureza e os povos originários vem um novo marco nas relações internacionais com o reconhecimento da importância do Brasil nos acordos internacionais e nos novos protocolos que regem os países mais desenvolvidos.

Na relação com a imprensa vem outra mudança importante com reconhecimento do protagonismo dos veículos de comunicação como mensageiros principais das ações de governo.

Contudo, por mais que tenha acertado mais que errado neste início, três desafios ficam postos:

  1. Do ponto de vista da comunicação o governo pode ser considerado mais analógico que digital e a construção de uma estratégia de bons usos dos meios digitais se faz necessária e urgente.

  1. É urgente também a construção de um discurso que sintetize o que pensa o governo. É fato que o Presidente tem vacilado em algumas falas e o governo conta, em seus ministérios, com uma ampla gama de partidos e perfis diferentes de políticos. Quanto ao Presidente, uma atenção da assessoria ou mesmo o uso de um porta-voz pode ser a solução. Já as diferenças de partidos e perfis, estas devem ser tratada como virtude, com alianças em prol da implantação de políticas públicas e, também com a formação de um pensamento que seja plural no atendimento de diferentes necessidades sem esquecer das prioridades.

  1. O maior desafio destes 100 dias está na relação com o Congresso, o governo ainda não foi testado e não dá para dimensionar o tamanho de sua base e, por consequência, de sua força. Contudo, caso as ações anteriores alcancem sucesso, certamente o Congresso vem a reboque da opinião pública e da busca por vantagens individuais para os parlamentares.

Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e comentarista político da Rádio Itatiaia. Marido, pai de família, atleta amador e apaixonado por lugares, pessoas e aventuras.