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Cuidado deficitário

A incapacidade de cuidar do outro surge quando se age na mediocridade, ignorando princípios éticos e morais

Cuidado deficitário

O ser humano nasce e se desenvolve cercado de cuidados essenciais para sua sobrevivência, crescimento e amadurecimento. Contudo, a dimensão do cuidado tem sido cada vez mais negligenciada, dando lugar à indiferença e à ambição desmedida, que submetem a vida ao poder do dinheiro e instauram conflitos que penalizam toda a sociedade, inclusive os mais privilegiados, muitas vezes alheios ao verdadeiro sentido da existência. A incapacidade de cuidar do outro surge quando se age na mediocridade, ignorando princípios éticos e morais. Investir no cuidado, priorizando o semelhante, é fundamental para superar práticas predatórias à natureza e manipulações que beneficiam grupos privilegiados. A ausência da cultura do cuidado agrava crises interligadas como mudanças climáticas, migrações forçadas e fome.

A ciência do cuidado é decisiva para eliminar do coração humano a mesquinhez, o egoísmo e a cegueira, que afastam a humanidade da solidariedade, do respeito ao meio ambiente e do compromisso com o outro. É urgente fortalecer valores como a gentileza, o cuidado e a caridade para combater nacionalismos, racismos, xenofobias e guerras crescentes. Cultivar a disponibilidade para o cuidado é essencial para construir a paz e integrar desenvolvimento e progresso com solidariedade e fraternidade. A inspiração maior vem da vida e ministério de Jesus de Nazaré, que se ofereceu em sacrifício pela humanidade, mostrando o verdadeiro cuidado que se contrapõe ao egoísmo.

O ensinamento de Santo Ambrósio, no século IV, em Milão, inspira o aprendizado da cultura do cuidado. Santo Ambrósio diz que a natureza concedeu todas as coisas aos homens para uso comum, produzindo um direito comum para todos. Reconhecer os direitos fundamentais de cada pessoa é vital para consolidar a cultura do cuidado, promovendo a dignidade humana que não pode ser reduzida a mera utilidade social. Cada indivíduo é protagonista na família, na sociedade e nas instituições. A solidariedade é o caminho eficaz para restaurar a capacidade de cuidar, valorizando o amor ao próximo e o princípio de que todos são responsáveis por todos.

Ver o outro como pessoa e não como dado estatístico, ouvir o grito dos necessitados e da criação, alimentar a ternura e a compaixão são atitudes necessárias para superar violências e construir sociedades justas. Investir na cultura do cuidado é também promover novas relações entre nações, pautadas na fraternidade, no diálogo e no respeito à dignidade humana. O ponto de partida para essa grandiosa missão é a gentileza e a ternura do cuidado.

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O Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e publica semanalmente aos sábados no Portal Itatiaia.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.