Há alguns anos tenho visto diversos vídeos e reportagens na internet demonstrando a falta de mão de obra não só no interior do país, mas também, nas grandes cidades. Na última semana um acontecimento me chocou, um agricultor gravou um vídeo que viralizou nas redes sociais, mostrando sua plantação de mexericas com os frutos maduros, apodrecendo nos pés, devido à falta de trabalhadores para colhê-los.
Para o agronegócio as dificuldades vão além dos citados acima, existe também, por partes dos jovens, uma falta de interesse nas atividades rurais, que inclui inclusive, os próprios herdeiros desses negócios. O trabalho rural também exige grande esforço físico, perigos diversos e na maioria das vezes é mal remunerado, fatores que têm esvaziado as fazendas do nosso país. Tudo isso apresentado, se soma a uma realidade ainda mais desafiadora para os empreendedores brasileiros, os programas de benefícios sociais.
A sociedade brasileira tem vivenciado, nas últimas décadas, um intenso debate acerca dos impactos dos benefícios sociais, como o Bolsa Família, no desenvolvimento socioeconômico do país. Enquanto programas de transferência de renda cumprem um papel fundamental de mitigar a fome e reduzir as desigualdades, críticas apontam que, se não acompanhados de políticas que promovam a autonomia, podem se tornar um fator que limita o fortalecimento de projetos de qualificação profissional e a geração de empregos pela iniciativa privada.
Inicialmente, é importante reconhecer que o Bolsa Família e programas similares são essenciais para a garantia de uma rede de proteção social. No entanto, a dependência exclusiva desses benefícios pode criar um ambiente de desincentivo à busca de qualificação e à inserção no mercado de trabalho formal. Esse é um cenário que me desafia inclusive, nas consultorias que faço para empresas que precisam de mão de obra e que, apesar de financiarem projetos que promovem a capacitação profissional gratuita, não conseguem sequer fechar uma turma por falta de interesse da população local acostumada a receber o Bolsa Família e temerosa em perder o valor caso participe de alguma qualificação profissional.
Esse texto não tem a intenção de julgar quem se acostuma a receber o benefício, até porque, em um país onde não se tem o básico, esse pouco que o Estado oferece acaba se tornando a única saída para famílias carentes e numerosas terem o mínimo para viver. A falta de visão de futuro, o que denominei “anestesia social”, desse público, muitas vezes exausto de tanto sofrer, os torna “escravos” desses programas sociais. Quando os cidadãos se acomodam na inércia propiciada por uma renda mínima, a pressão por mudanças estruturais e pela diversificação de fontes de renda acaba se enfraquecendo.
A quem interessa a “anestesia social”?
A grande pergunta que precisamos fazer é a quem interessa manter essas pessoas sem uma visão de futuro e oportunidades reais para se tornarem bem sucedidos financeiramente?
Grande parte da classe política não tem interesse em criar políticas de desenvolvimento econômico nesses locais carentes, é o interesse pessoal, acima do interesse do povo. Afinal, pessoas com menos escolaridade, dependentes dos benefícios do Estado, são garantia de voto para quem os oferece “migalhas”.
Sim, existem localidades no nosso território brasileiro onde os programas sociais são a única alternativa para amenizar a carência da população que não possui um comércio desenvolvido, a presença de indústrias, fábricas ou agronegócio. Para essas pessoas é necessário a utilização de políticas públicas como o Bolsa Família, mas também, que haja um programa de desenvolvimento socioeconômico e de empreendedorismo apoiado pelo Estado em parceria com empresas comprometidas com a responsabilidade social. O Bolsa Família precisa ser o meio e não o fim!
A falta de integração entre políticas públicas e iniciativas privadas pode levar a um cenário de desperdício de oportunidades e isso tem acontecido especialmente nos centros urbanos. Enquanto o governo foca em programas assistenciais, a iniciativa privada encontra barreiras para expandir seus esforços em educação e treinamento, seja por limitações orçamentárias, burocracia, falta de interesse da população local ou de parcerias estratégicas. Não é difícil passar por obras e ver placas enormes solicitando diversos tipos de profissionais, essa “dor” é geral para comércio, indústrias etc. Falta mão de obra qualificada e falta interesse de quem se acostumou com os benefícios onde há oportunidades.
É preciso que seja trabalhada também a mentalidade das pessoas que já recebem o benefício para que elas enxerguem a importância de terem uma visão de trabalho como oportunidade para uma vida melhor. Um caso que também me chamou a atenção foi o do prefeito de Bento Gonçalves (RS), Diogo Siqueira (PSDB),que resolveu retirar do Programa Bolsa Família pessoas que estavam aptas à trabalhar, oferecendo a elas capacitação profissional gratuita e encaminhamento para o mercado de trabalho.
“O que a gente quer é fazer com que todas as pessoas trabalhem. Eu acredito, de uma maneira muito sensata, que o Bolsa Família, da maneira com que ele está sendo feito no Brasil, é prejudicial para todo o país. Todas as pessoas que podem ter uma oportunidade de trabalho, que tenham saúde, elas devem trabalhar”, afirmou.
“A gente deve deixar o Bolsa Família para aquelas mães que tem 4 ou 5 filhos e que não conseguem fazer um planejamento familiar. Essas pessoas merecem. Mas eu não consigo admitir um homem saudável, com condições de trabalhar, que não tem esposa ou filhos e que esteja recebendo esse auxílio”, diz o prefeito. (fonte, CNN, 01/03/2025)
O cenário no Brasil é tão alarmante que para se ter uma ideia, das 20,6 milhões de famílias inscritas no Bolsa Família, 7 milhões recebem dinheiro do programa há 10 anos, sendo o Estado do Maranhão o recordista em beneficiários do programa tendo 669 mil empregos formais contra 1,2 milhão de famílias beneficiárias pelos programas sociais.
Em resumo, embora os benefícios sociais sejam um pilar crucial para a redução da desigualdade no Brasil, é fundamental buscar o equilíbrio entre a assistência imediata e o desenvolvimento de iniciativas que estimulem a qualificação e a empregabilidade. A união entre políticas públicas efetivas e ações privadas bem orientadas pode abrir caminho para uma sociedade mais autossustentável, onde os indivíduos não apenas sobrevivam, mas prosperem por meio da educação, empregabilidade, da inovação e do empreendedorismo.