Pelo que vale a pena vai viver? Essa é uma das perguntas que nos invade, que entra em nossa mente sem pedir licença, sobretudo, nos momentos de crise. A vida vai acontecendo enquanto estamos distraídos com coisas que julgamos mais importantes. Chega um momento, após termos conquistado muita coisa, ou quase tudo o que se queria, em que todos iremos perceber que nenhuma pessoa, ou projeto, ou compra pode realmente ter valido a pena nosso investimento.
Se essa pergunta nunca lhe encontrou até hoje: “pelo que vale a pena viver”, oremos para que ela, em algum momento, não lhe empurre. E o grande desafio para os nossos tempos é que há expectativas demais sobre a felicidade, sobre o bem-estar, sobre a vida. Nunca antes, na história da humanidade, a “felicidade” foi uma condenação. Hoje a gente quer casar, trabalhar, estudar porque tem “obrigação” de ser feliz.
Ledo, engano. Quem casa, trabalha, estuda para ser feliz está condenado a se decepcionar...
Bom, vamos começar de traz para frente, justificando esse “oximoro”, pois curiosidade gera engajamento. O estudo é um processo natural de investimento. Quando alguém se arrisca a aprender algo terá que se confrontar com a dor da própria ignorância, com o desconforto do não-saber.
Estudamos sempre em função de algo a ser adquirido, num vislumbre de que quem tem uma “noção das coisas” larga sempre na frente. Com relação ao trabalho, nenhuma dedicação profissional será suficiente para alguém ser insubstituível.
O foco do trabalho, independentemente de qualquer pirraça é a entrega. Empenho diferenciado não é coisa que se mensura em contracheque. Colocar o sentido da vida no desempenho mecânico de tarefas, na procura por reconhecimento, realização pessoal imaginando que a(o) chefe irá curar nossa alma do seu crônico desamparo é marcar compromisso com a frustração.
Ah, e sobre o casamento, ser feliz não é uma condição pré-estabelecida de nenhuma relação. Uma pessoa que busca se casar para ser feliz não entendeu nada! O casamento é sobre um compromisso de preservar o outro da infelicidade e sobre uma confiança de que esse “outro”, apesar de suas “meias-verdades”, tem o mesmo compromisso. Claro que o que não for recíproco será tóxico. Claro que não dá para ficar num relacionamento em que se quebram os “acordos”. Todavia, viver a relação na busca da própria felicidade é roubar o emprego da outra parte. É melhor pular fora dessa. Não vai dar certo!
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É da decepção nessas áreas tão importantes em nossa existência que a gente costuma pensar que não vale a pena viver. Num português claro, não vale! É muito investimento, frustração, dor de cabeça. Qualquer um que tenha chegado aqui, há alguns segundos, é como criança já tenha chorado, saberá que custa muito viver...
Mas então, o que vale a pena? Ah, o que vale a pena na vida é encontrar um sentido pelo qual morrer. Estudamos para adquirir diferencial. O sentido do trabalho é dar condições de estar com aqueles que amamos, em momentos de distração. Casamos porque uma vida sem ter alguém que, com seus versos e avessos, coloca nosso coração para fora, seria muito sem graça.
Neste domingo de Páscoa, olhar para o Homem-Deus, que dá a vida (Jo 10), provoca-nos. Sua Ressurreição é um paradoxo, nestes tempos em que a busca pela própria felicidade é uma condenação. A Ressurreição de Jesus ensina que a vida só vale a pena quando encontramos um motivo pelo qual valeria, vale, valerá a pena morrer...