Estudos de engenharia reversa da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) identificaram novas vulnerabilidades em TV boxes não homologadas pelo órgão. O levantamento envolveu, ainda, técnicos da Agência Nacional de Cinema (Ancine) e da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA).
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Os especialistas constataram a presença de malware que permite que criminosos assumam o controle do dispositivo para capturar informações dos usuários. Entre os dados coletados estão registros financeiros ou arquivos e fotos que estejam armazenados em equipamentos que compartilhem a mesma rede.
Além de ampliar a variedade de modelos testados, a Anatel avaliou a existência de outras vulnerabilidades. “Foram identificadas falhas de segurança no processo de atualização dos aplicativos. Assim, toda informação trocada pode ser capturada e modificada por invasores, que podem, ainda, instalar aplicativos maliciosos nos dispositivos”, diz Moisés Moreira, conselheiro da agência.
Outra possibilidade verificada pelos técnicos é o fato de o sistema operacional dos aparelhos admitir que acesso irrestrito de terceiros ao dispositivo com privilégios de administrador. Em colaboração com a ABTA foi realizada uma “prova de conceito” para explorar as vulnerabilidades. Os especialistas simularam um ambiente de rede residencial e conectaram uma TV box ao mesmo roteador utilizado para os demais dispositivos do usuário.
Os equipamentos conectados na mesma rede que a TV box foram invadidos. “Neles, foi realizada a execução remota de aplicativos, ações de captura de tela estática, visualização e gravação em tempo real da tela do usuário. Tudo isso sem que o usuário pudesse perceber”, conta Hermano Tercius, superintendente de fiscalização da Anatel.
O processo de avaliação da conformidade e homologação do órgão busca garantir padrões mínimos de qualidade e segurança para equipamentos de telecomunicações comercializados e utilizados no Brasil. Dispositivos não homologados destinados à recepção de sinais de TV a cabo ou de vídeo sob demanda podem acessar conteúdos protegidos por direitos autorais, o que é crime.
Tanto a comercialização quanto a utilização de produtos para telecomunicações irregulares são passíveis de sanções administrativas que podem ir de advertência a multa, além da apreensão dos equipamentos. No âmbito do Plano de Ação de Combate à Pirataria (PACP), órgãos da administração pública têm atuado em conjunto.
Além da Anatel, isso inclui os Ministérios da Justiça e da Economia, a Receita Federal, a Ancine e as Polícias Federal e Rodoviária Federal. Nos últimos dois anos, mais de 5,6 milhões de produtos não homologados foram retirados do mercado, com valor estimado de R$ 496,3 milhões. Entre eles, mais de um milhão eram TV boxes.