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Fumaça e cheiro de queimado: como está a qualidade do ar com as queimadas na Grande BH?

Na manhã desta quarta-feira (1º), o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) ainda combatia chamas na Mata da Baleia, na Região Leste da capital

Incêndio de grandes proporções visto do Aglomerado da Serra, em BH

Desde o início da semana, moradores de Belo Horizonte têm reclamado de um cheiro forte de queimado, fuligem e uma camada de fumaça que encobriu a cidade. Devagar, começaram a pipocar reclamações nas redes sociais, seguidas de imagens de incêndios em vários pontos da cidade.

“Surreal o cheiro de fumaça. Virou moda em BH essa fumaceira nesta época do ano”, publicou um usuário no X (antigo Twitter). Outra internauta comentou: “BH amanheceu tomada pelo cheiro de fumaça do incêndio na Serra do Curral. Tá forte demais”.

Também houve relatos de fuligem: “Parece que a cidade está completamente em chamas (e deve estar mesmo)”, escreveu uma moradora.

Mas até quando deve continuar? E como fica a qualidade do ar da capital mineira? A reportagem conversou com Lucas Oliver, professor de Geografia e cientista do clima.

Segundo ele, o motivo são os múltiplos focos de incêndio na capital e na Região Metropolitana. Os principais pontos começaram no domingo (28), em Sabará, e espalharam nos dias seguintes.

Na segunda-feira (29), atingiram a Serra do Curral, na Região Centro-Sul da capital mineira. Na terça-feira (30), avançaram para áreas próximas da Mata da Baleia e do Parque das Mangabeiras, já em Belo Horizonte. “Este é considerado o maior incêndio ativo dentro da capital”, informou Oliver.

Na manhã desta quarta-feira (1º), o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) continuava o combate às chamas por lá. A atuação ocorre por terra e conta também com aeronaves para alcançar pontos de difícil acesso.

“Como os focos estão a Leste da cidade e o vento sopra de Leste para Oeste, a fumaça é transportada diretamente sobre BH”, explicou.

Leia também: Tempo seco em BH: umidade cai para 20% nesta quarta-feira (1º)

Qualidade do ar

Embora o cenário preocupe, a qualidade do ar da capital mineira, por enquanto, não atingiu níveis críticos como em anos anteriores, graças a um fator climático paradoxal: o vento. Oliver explica que, ao mesmo tempo em que espalha a fumaça pela cidade, o vento também impede que ela se concentre.

“Temos muita fumaça, mas também muito vento. Isso piora a propagação do fogo, porque o vento espalha as chamas e dificulta o combate, mas, ao mesmo tempo, dissipa a fumaça mais rapidamente sobre Belo Horizonte”, detalhou.

Ele lembra que o quadro atual contrasta com o de 2024, ano considerado “extremo” em relação à qualidade do ar. Na ocasião, Belo Horizonte enfrentou uma longa estiagem, que ultrapassou 100 dias sem chuva. A umidade relativa do ar chegou a ficar abaixo dos 20%, e o cenário foi marcado pelo “ar esfumaçado”, semelhante a uma neblina, além do forte cheiro de fumaça.

“No ano passado, tivemos vários focos de incêndio e, por causa de um bloqueio atmosférico, o ar poluído ficou preso. Hoje, apesar da fumaça visível, a qualidade do ar está melhor que naquele período”, disse.

O boletim desta quarta-feira (1º), divulgado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), classificou a qualidade do ar como “boa” em todas as três estações de monitoramento da capital.

Previsão preocupante

Para os próximos dias, a previsão favorece a formação de outros focos de queimada.

Isso porque, segundo Oliver, a chegada de uma nova massa de ar polar deve trazer ventos ainda mais fortes, mas sem perspectiva de chuva no curto prazo.

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“Teremos aumento da intensidade dos ventos, o que dificulta o controle das chamas. Não há previsão de chuva imediata; talvez apenas em cerca de uma semana. O vento ajuda a evitar a concentração de fumaça sobre a cidade, mas, nas áreas de queimada, torna o trabalho dos brigadistas mais difícil”, avaliou o geógrafo.

“Com temperaturas máximas previstas entre 25 °C e 27 °C, a expectativa é de que bombeiros e brigadistas consigam controlar os incêndios antes que as condições climáticas adversas agravem ainda mais a situação”, acrescentou.

Em alerta

A Defesa Civil emitiu um alerta para índices de umidade relativa do ar em torno de 30% no decorrer da tarde, válido até as 18h de sexta-feira (3).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 20% e 30% é estado de atenção; abaixo de 20% é estado de alerta. O nível ideal de umidade do ar para o organismo humano gira entre 40% e 70%.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.