Desde o início da semana, moradores de Belo Horizonte têm reclamado de um cheiro forte de queimado, fuligem e uma camada de fumaça que encobriu a cidade. Devagar, começaram a pipocar reclamações nas redes sociais, seguidas de imagens de incêndios em vários pontos da cidade.
“Surreal o cheiro de fumaça. Virou moda em BH essa fumaceira nesta época do ano”, publicou um usuário no X (antigo Twitter). Outra internauta comentou: “BH amanheceu tomada pelo cheiro de fumaça do incêndio na Serra do Curral. Tá forte demais”.
Também houve relatos de fuligem: “Parece que a cidade está completamente em chamas (e deve estar mesmo)”, escreveu uma moradora.
Mas até quando deve continuar? E como fica a qualidade do ar da capital mineira? A reportagem conversou com Lucas Oliver, professor de Geografia e cientista do clima.
Segundo ele, o motivo são os múltiplos focos de incêndio na capital e na Região Metropolitana. Os principais pontos começaram no domingo (28), em Sabará, e espalharam nos dias seguintes.
Na segunda-feira (29),
Na manhã desta quarta-feira (1º), o
“Como os focos estão a Leste da cidade e o vento sopra de Leste para Oeste, a fumaça é transportada diretamente sobre BH”, explicou.
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Qualidade do ar
Embora o cenário preocupe, a qualidade do ar da capital mineira, por enquanto, não atingiu níveis críticos como em anos anteriores, graças a um fator climático paradoxal: o vento. Oliver explica que, ao mesmo tempo em que espalha a fumaça pela cidade, o vento também impede que ela se concentre.
“Temos muita fumaça, mas também muito vento. Isso piora a propagação do fogo, porque o vento espalha as chamas e dificulta o combate, mas, ao mesmo tempo, dissipa a fumaça mais rapidamente sobre Belo Horizonte”, detalhou.
Ele lembra que o quadro atual contrasta com o de 2024, ano considerado “extremo” em relação à qualidade do ar. Na ocasião, Belo Horizonte enfrentou uma longa estiagem, que ultrapassou 100 dias sem chuva. A umidade relativa do ar chegou a ficar abaixo dos 20%, e o cenário foi marcado pelo “ar esfumaçado”, semelhante a uma neblina, além do forte cheiro de fumaça.
“No ano passado, tivemos vários focos de incêndio e, por causa de um bloqueio atmosférico, o ar poluído ficou preso. Hoje, apesar da fumaça visível, a qualidade do ar está melhor que naquele período”, disse.
O boletim desta quarta-feira (1º), divulgado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), classificou a qualidade do ar como “boa” em todas as três estações de monitoramento da capital.
Previsão preocupante
Para os próximos dias, a previsão favorece a formação de outros focos de queimada.
Isso porque, segundo Oliver, a chegada de uma nova massa de ar polar deve trazer ventos ainda mais fortes, mas sem perspectiva de chuva no curto prazo.
“Teremos aumento da intensidade dos ventos, o que dificulta o controle das chamas. Não há previsão de chuva imediata; talvez apenas em cerca de uma semana. O vento ajuda a evitar a concentração de fumaça sobre a cidade, mas, nas áreas de queimada, torna o trabalho dos brigadistas mais difícil”, avaliou o geógrafo.
“Com temperaturas máximas previstas entre 25 °C e 27 °C, a expectativa é de que bombeiros e brigadistas consigam controlar os incêndios antes que as condições climáticas adversas agravem ainda mais a situação”, acrescentou.
Em alerta
A Defesa Civil emitiu um alerta para índices de umidade relativa do ar em torno de 30% no decorrer da tarde, válido até as 18h de sexta-feira (3).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 20% e 30% é estado de atenção; abaixo de 20% é estado de alerta. O nível ideal de umidade do ar para o organismo humano gira entre 40% e 70%.