Ouvindo...

Edifício JK: irmão e sucessor da síndica renuncia a cargo de subsíndico

Ele ocupava a subsindicação ao lado da irmã desde dezembro; Maria das Graças, que está há 40 anos no cargo, segue internada

Edifício JK em Belo Horizonte tem mais de 1,1 mil apartamentos

O subsíndico do Edifício JK, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, Caio Rômulo Delgado de Lima, de 57 anos, irmão da síndica Maria Lima das Graças, de 78, renunciou ao cargo. A informação foi confirmada na manhã desta quinta-feira (11) pelo advogado Faiçal Assruy, representante do condomínio.

Caio dividia a função de subsíndico com o gerente administrativo Manoel Gonçalves de Freitas Neto. Ambos foram nomeados em 7 de dezembro, durante a Assembleia Geral Ordinária (AGO) realizada no auditório do Cruzeiro Esporte Clube, no Barro Preto, quando Maria Lima foi reeleita para o cargo de síndica.

Segundo o advogado, Caio abriu mão de assumir a rotina administrativa por falta de tempo, desconhecimento da gestão do condomínio e por estar focado na recuperação da irmã. Ainda de acordo com a defesa, o quadro de saúde de Maria das Graças é estável. A causa da internação não foi divulgada, mas, conforme moradores, ela está hospitalizada desde 18 de agosto.

Com a ausência da síndica, Manoel responde interinamente pela gestão. “Caso seja necessário o afastamento definitivo ou aconteça algo que a impeça de continuar o mandato, o conselho vai se reunir, deliberar e decidir qual será a solução”, explicou Assruy.

Leia também: JK pode exigir pagamento de condomínio em dinheiro? Entenda essa e outras polêmicas do edifício histórico em BH
Síndica do Edifício JK pode ser afastada após 40 anos; entenda os próximos passos

O anúncio foi feito após moradores denunciarem uma suposta manobra do gerente, Manoel Gonçalves de Freitas Neto, e da própria administração do condomínio. Três pessoas ouvidas pela reportagem da Itatiaia, que preferiram não se identificar por medo de represálias, relataram que circula a informação sobre a tentativa de convocar uma assembleia extraordinária, com a possível formação de uma nova chapa composta por Manoel e um funcionário, em oposição ao irmão da síndica, Caio.

Sobre os relatos acima, o advogado Faiçal Assrauy afirmou não ter conhecimento. “Mas, certamente, caso sejam convocadas novas eleições, todos que atenderem às exigências do estatuto poderão concorrer”, disse.

Audiência marcada vai definir rumos

Maria das Graças e Manoel foram denunciados em 2024 pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por crimes contra o patrimônio cultural, devido à falta de manutenção em áreas tombadas. A audiência que pode resultar no afastamento judicial da síndica está marcada para 7 de outubro.

Enquanto Maria das Graças permanece internada, ainda não há definição sobre a realização da sessão. A defesa informou, nessa quarta-feira (10), que avalia se pedirá o adiamento.

Um relatório elaborado pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil, em abril de 2023, mostrou que a sede do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), que funciona na sobreloja do edifício, apresenta sérios danos causados por infiltrações.

O problema atingiu teto, paredes, fachadas e áreas comuns. Também foram identificados descolamento de revestimentos, manchas de umidade, rachaduras, danos ao piso de madeira original e risco a quadros e obras de arte. Além do prejuízo ao acervo, conforme a denúncia do MPMG, a umidade constante provoca mofo e fungos, que podem afetar a saúde de funcionários e visitantes.

Confira a linha do tempo

  • 1966 – Governo de Minas doa ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) o imóvel no JK;
  • 1967 – IHGMG recebe a escritura de doação em comodato, com área de 500 m² na sobreloja do JK;
  • 2007 – Conselho do Patrimônio Cultural de BH abre processo de tombamento do Conjunto JK;
  • 2008 – O Conjunto Praça Raul Soares/Avenida Olegário Maciel, incluindo o JK, é protegido;
  • 2020 a 2024 – Apontada omissão dos responsáveis em adotar medidas de preservação, levando à deterioração do prédio;
  • 2021 – DPCA faz vistoria no JK e aponta danos; Conselho aprova tombamento provisório do edifício;
  • 2022 – Tombamento definitivo do Edifício JK é aprovado;
  • Abril/2023 – Laudos da Polícia Civil confirmam avarias e deterioração do imóvel;
  • Dezembro/2024 – Ministério Público denuncia Maria Lima das Graças, Manoel Gonçalves de Freitas Neto e o Condomínio do JK por crimes contra o patrimônio cultural; processo é distribuído para a 1ª Vara Criminal de BH;
  • 18/dezembro/2024 – Juíza nega afastamento imediato dos denunciados de suas funções;
  • 07/outubro/2025 – Marcada audiência de instrução e julgamento.

Advogado rabate

O advogado destacou que o condomínio é tombado pelo patrimônio histórico e composto por moradores de baixa renda. Segundo ele, as intervenções estão sendo realizadas, mas não na velocidade esperada pelo Ministério Público.

Leia também

“É praticamente impossível fazer chamadas extras (financeiras), pois isso sufocaria os moradores e aumentaria a inadimplência. A obra de impermeabilização já foi concluída, com autorização das autoridades competentes, e o próximo passo será a regularização do AVCB. Por fim, aproveito o espaço para sensibilizar o promotor a direcionar verbas públicas para nos auxiliar nessas demandas”, concluiu.

A reportagem tentou contato com Caio Rômulo Delgado de Lima. O espaço segue aberto caso ele queira se manifestar. Também foi procurado Manoel Gonçalves de Freitas Neto, que não respondeu até a publicação desta matéria.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.