“Cuido do quarteirão como se fosse minha casa”. A frase resume a vida de José Santil Agripino, de 62 anos, que há 52 trabalha como lavador e guardador de carros no Barro Preto, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Entre baldes, flanelas e conversas diárias com motoristas, ele transformou o trecho da Rua dos Aimorés, perto do Hospital Felício Rocho, em ponto fixo de trabalho e convivência.
Começo precoce
Nascido em uma família com sete irmãos, Santil começou a trabalhar ainda criança. “Com oito anos, eu já buscava água e ajudava em casa. Aos dez, vim entregar compras aqui e vi um grupo lavando carros. Fiquei encantado e comecei também”, lembra.
O primeiro carro que lavou, ele conta, foi um Fusca, e desde então não deixou mais as ruas. “Naquela época, eu queria comprar um par de chinelos. Hoje, sustentei três filhos lavando carro”, afirma.
A profissão e o preconceito
Entre 1973 e hoje, Santil acompanhou o crescimento da cidade, a troca de modelos nas garagens e também o preconceito que sempre rondou a categoria. “Muita gente ainda acha que guardador é problema, mas a gente ajuda, cuida dos carros, evita furto e vandalismo”, diz.
A profissão é reconhecida por lei desde 1977, mas segundo ele, ainda falta respeito. “Já participei de audiências públicas, ajudei a criar o sindicato e a fundar a associação da categoria. A luta é para sermos vistos como trabalhadores de utilidade pública.”
Luta e reconhecimento
Em mais de cinco décadas de ofício, Santil já arborizou o quarteirão onde trabalha, ajuda pessoas em situação de rua e mantém amizade com os motoristas que estacionam ali. “Sou grato a Deus e aos donos de carros que me ajudam a sustentar minha casa”, diz.
Ele acredita que a profissão carrega uma função social importante. “A gente dá segurança, organiza, ajuda o trânsito. O reconhecimento ainda é pequeno, mas a população, em sua maioria, apoia nosso trabalho.”
De BH para o Brasil
Segundo Santil, os guardadores e lavadores de carro estão presentes nas principais capitais do país. Ele defende que o poder público insira a categoria em políticas sociais e de trabalho. “A democracia verdadeira é aquela em que todos são tratados por igual. Ainda não chegamos lá, mas sigo acreditando”, conclui.