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Cartório nega registro de bebê com nome Tumi Mboup em BH e mãe denuncia racismo

Família relata frustração após impedimento de registrar filha; Justiça deve analisar caso em outubro

Uma família de Belo Horizonte enfrenta dificuldades para registrar a filha recém-nascida com o nome Tumi Mboup, escolhido para resgatar a ancestralidade e valorizar a identidade cultural. O nascimento ocorreu no dia 22 de setembro, no Hospital Sofia Feldman, mas ao tentar realizar o registro no cartório da unidade, os pais foram surpreendidos com a negativa.

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Segundo o relato, o cartório alegou que “Mboup” seria tratado como sobrenome, e não como parte de um nome composto, o que inviabilizaria o registro da forma pretendida. A orientação dada foi procurar outra unidade, mas a negativa se repetiu. Agora, o caso está protocolado e só deve ter resposta da Justiça no dia 2 de outubro.

“Violência mascarada”, diz mãe

Em entrevista, a mãe desabafou sobre o sentimento de revolta diante da situação.

“O sentimento é de desgaste total, porque enquanto mulher preta, a gente nesse momento de gestação pensa tanta coisa, como a violência obstétrica, que impacta mais sobre nossos corpos. Tivemos um atendimento tão humanizado no Sofia Feldman, mas no fim não conseguimos registrar nossa filha como sonhamos”, disse.

Ela ressaltou que a escolha do nome foi feita com propósito simbólico:

“Queríamos ressignificar nossa história, dar voz ao nosso povo que foi silenciado pelo colonialismo e pelo racismo. Mas nos deparamos com leis rasas, aplicadas de forma fria, que parecem não contemplar a todos”.

Impacto na vida da criança

Enquanto aguardam a decisão judicial, os pais afirmam que enfrentam dificuldades até mesmo em procedimentos básicos de saúde, como o teste do pezinho e o acompanhamento pediátrico. Sem o registro civil, a filha ainda não tem CPF nem acesso integral a direitos.

“Por enquanto, ela não é nem gente perante a lei. Isso é revoltante. Mais uma vez, vemos como o racismo estrutural se consolida nas instituições. É uma violência que nossos ancestrais já viveram, quando tiveram seus nomes arrancados, e que ainda persiste, só que mascarada”, afirmou a mãe.

Nome e identidade cultural

Para a família, o nome escolhido tem um significado profundo. Segundo a mãe, trata-se de uma forma de resgatar a memória de povos silenciados pela escravidão e pelo colonialismo.

“É muito frustrante passar por esse processo. A escolha de Tumi Mboup não foi aleatória, foi um gesto político, de pertencimento e de resistência. Mas ainda encontramos barreiras que mostram o quanto o racismo estrutural está presente”, destacou.

Próximos passos

A solicitação formal para o registro está protocolada e deve ser analisada pelo juiz responsável no dia 2 de outubro. A família também estuda a possibilidade de acionar um advogado para agilizar o processo e garantir que a filha seja registrada com o nome original.

Estudante de Jornalismo no Centro Universitário Una. Passagens por assessoria política, assessoria de imprensa e TV Alterosa, onde atuou como repórter, produtor e editor do Jornal da Alterosa. Atualmente, produtor do Plantão da Cidade, na Rádio Itatiaia.