A Justiça mineira já contabiliza mais de 50 mil processos de violência contra a mulher e feminicídio só em 2025. De acordo com o Poder Judiciário, o número de ações desses crimes mais que dobrou nos últimos quatro anos.
Apesar do aumento no volume de processos, especialistas alertam que a realidade da violência é ainda mais grave, pois o número de casos não denunciados também está crescendo.
Ludmila Ribeiro, professora da UFMG e pesquisadora do CRISP (Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública), explica: “Todas as vezes que a gente está falando de registros policiais, a gente está falando daquela mulher que foi vítima de violência, e, na maior parte das vezes, já é a segunda vitimização. Ela vai procurar a polícia porque acha que foi uma coisa suficientemente grave para demandar a intervenção do Poder Público”.
“Então, todas as vezes que a gente vê, por exemplo, a Sejusp noticiando mudanças no padrão de violência doméstica, a gente está vendo mudanças no padrão de denúncias de violência doméstica”, completa.
Ribeiro aponta para a pesquisa “Visível e Invisível”, do Fórum Brasileiro, feita em parceria com o Datafolha, que mostra que a violência doméstica tem aumentado. “Essa é uma pesquisa que bate na porta da casa das mulheres e pergunta: ‘Você foi vítima de algum tipo de violência?’. Se a pessoa responde que sim, ela é questionada sobre o tipo de violência e depois se registrou ou não”.
“E a taxa de registro ela nos indica que apenas um terço de tudo que acontece em âmbito doméstico é denunciado às organizações policiais. Então, sim, estamos com aumento do número de casos e com aumento do número de denúncias”, destaca.
A pesquisadora esclarece que, mesmo que um pesquisador descubra que uma mulher foi vítima, ele não pode denunciar por ela. Devido ao dever de sigilo de qualquer pesquisa, a informação é utilizada apenas para fins estatísticos.
Como romper o ciclo da violência
Ludmila Ribeiro aponta que existem duas formas de romper o ciclo de agressões:
- Em caso de violência no momento em que está acontecendo, a melhor alternativa é ligar imediatamente para o 190 da Polícia Militar;
- Se for uma situação passada, a vítima pode recorrer à Delegacia Online.
Ela ressalta, ainda, que as redes de relacionamento dessas mulheres não podem ser desprezadas. “Então, muitas das vezes, a mulher está trazendo uma violência do âmbito privado para dentro desse contexto público, e são essas redes que vão dizer, ‘olha, a gente pode te ajudar, vem aqui, você pode passar um tempo na minha casa, eu conheço uma outra pessoa que passou por isso que pode te dar dicas’. É do ponto de vista do acolhimento, ou seja, ‘você fez a coisa certa, vou te ajudar a sair dessa situação de violência’”.
“E a gente tem redes que fazem exatamente o contrário, que, muitas das vezes, redes que vão dizer: ‘ai, foi apenas um tapa’, ou vão tentar minimizar a violência sofrida pela mulher em razão da preservação da família, a ideia de que o que Deus uniu o homem não separa, mesmo em casos de violência contra a mulher, ou a ideia de que ‘ele é um péssimo marido, mas é um bom pai’”, conclui.