A Avenida Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, continua sendo palco de graves acidentes —
O número de acidentes com vítimas em uma das principais vias da capital cresceu nos últimos anos: foram 38 ocorrências entre janeiro e julho de 2023, 34 no mesmo período de 2024 e 44 em 2025, um aumento de 29,4% em relação ao ano passado.
O total de ocorrências também segue em alta: 422 em 2023, 465 em 2024 e 493 em 2025, considerando apenas os sete primeiros meses. No acumulado anual, os números passaram de 748 acidentes em 2023 para 832 em 2024, uma elevação de 11,2%.
De rodovia para corredor urbano
Segundo o consultor em transporte e trânsito Silvestre de Andrade, a explicação está no aumento do fluxo de veículos — algo perceptível para quem passa muito tempo parado no trânsito.
“Por ser uma via de tráfego intenso e de grande importância para a cidade, a probabilidade de acidentes é maior em comparação a outras regiões”, avaliou.
Ele lembra que a transformação da antiga via de saída de Belo Horizonte em corredor urbano, cercado por casas, escritórios, escolas e hospitais intensificou o movimento. “A expansão em direção a Nova Lima e ao Jardim Canadá, com centros de eventos e novas atividades, agravou ainda mais a situação. Sem a devida adequação viária, esse cenário favorece a ocorrência de acidentes”.
Pontos mais perigosos
Durante muito tempo, a chamada Curva do Ponteio foi considerada o ponto mais perigoso da avenida. A instalação de radares e semáforos, no entanto, ajudou a reduzir a velocidade no trecho, de acordo com o especialista.
“Apesar de a geometria da via ainda representar risco — por ser uma curva fechada em descida no sentido Belvedere–Centro —, hoje os cruzamentos e travessias ao longo da avenida concentram maior potencial de acidentes, em função do aumento da circulação de pedestres, veículos e da intensificação do uso da via”, explicou.
Dados de janeiro a julho do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais
Foi justamente em um desses cruzamentos que ocorreu o acidente do último domingo (7), no encontro da Avenida Nossa Senhora do Carmo com a Rua Rio Verde. Conforme o Boletim de Ocorrência BO), o veículo conduzido pelo namorado de Brunna, de 26 anos, perdeu o controle e colidiu violentamente contra um poste de sinalização, provocando um princípio de incêndio.
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“O acidente de domingo 97) foi em uma dessas interseções”, disse. Além da complexidade do cruzamento, outros fatores aumentam a probabilidade de colisões, como o fato de ter ocorrido de madrugada — período em que, normalmente, há excesso de velocidade.
“Com o tráfego reduzido, a velocidade média aumenta, e os acidentes, quando acontecem, tendem a ser mais graves”, completou.
Dados do Observatório de Segurança de Minas Gerais de janeiro a dezembro
Perfil das vítimas
De janeiro a julho, três pessoas morreram na Avenida Nossa Senhora do Carmo. De acordo com dados da Sejusp, a faixa etária de 18 a 29 anos concentra a maioria das vítimas. Do total de 54 registros, 42 tiveram ferimentos leves, cinco graves e, em dois casos, não houve informação. Entre as vítimas, 38% são homens.
Mortes
O número de óbitos já supera o registrado em todo o ano passado, quando foram duas mortes. De janeiro a setembro de 2024, houve 95 vítimas no total — 72 com ferimentos leves e o restante graves.
Necessidade de novas medidas
Em 2010, após uma sequência de tragédias envolvendo caminhões pesados, foi proibida a circulação de veículos com mais de cinco toneladas de carga ou 6,50 metros de comprimento na avenida. Para especialistas, a medida ajudou a reduzir riscos.
“A proibição de caminhões na avenida é fundamental, pois diminui a chance de acidentes graves pelo peso e impacto desses veículos. Outras medidas, como reforço da sinalização, manutenção de radares e fiscalização constante, também são necessárias. Apesar dos avanços, as ações ainda não foram suficientes, e é preciso ampliar os projetos de segurança viária”, concluiu.
‘Descumprimento da norma’
Por meio de nota, a Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) esclareceu que a Avenida Nossa Senhora do Carmo conta com ampla sinalização e sete pontos com equipamentos de fiscalização eletrônica — para excesso de velocidade, avanço de semáforo, invasão de faixa exclusiva de ônibus, tráfego em local proibido para caminhões e parada irregular sobre a faixa de pedestres.
Além disso, há monitoramento diário no trevo do Belvedere, com agentes orientando condutores sobre as regras de circulação de veículos de carga na via e na área central.
“Toda a sinalização e as ações de fiscalização — eletrônica e também realizadas por agentes da BHTrans, Guarda Municipal e Polícia Militar — são essenciais para ampliar a segurança viária. No entanto, é fundamental que motoristas e pedestres sigam as orientações. Parte dos acidentes e das situações de risco ocorre justamente pelo descumprimento das normas de trânsito na região”, informou o órgão.