Ouvindo...

Biomédica indiciada por morte de paciente em MG é condenada por deformar modelo

Justiça condenou Lorena Marcondes de Faria a quase cinco anos de prisão, mas biomédica não deve ser presa; profissional também terá que pagar indenização e não poderá exercer a profissão temporariamente

A Justiça condenou a biomédica Lorena Marcondes de Faria por lesão corporal grave e exercício ilegal da medicina no caso do modelo Eduardo Luiz Santos, que ficou com uma deformação permanente na boca após passar por um procedimento estético na clínica da biomédica. A profissional de Divinópolis, na região Centro-Oeste de Minas, ainda responde na Justiça por homicídio doloso qualificado pela morte de uma paciente que passava por uma lipoescultura (relembre o caso no fim da página).

A sentença foi assinada na última sexta-feira (31) pela juíza Marcilene da Conceição Miranda, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Divinópolis. Em julho de 2022, Lorena realizou um procedimento estético na boca de Eduardo. Dias depois, o modelo apresentou complicações e acabou sendo internado em um hospital de Belo Horizonte. Na época, ele compartilhou o relato nas redes sociais junto com fotos e vídeos que mostravam a aparência necrosada dos lábios após o procedimento.

De acordo com a denúncia do Ministério Público, Eduardo foi informado de que teria que remover o lábio inferior e parte do queixo. Porém, ele se negou a fazer o procedimento e, segundo depoimento, “cogitou até mesmo ceifar a própria vida”. O modelo passou por um tratamento para conseguir recuperar os lábios sem precisar removê-los. Porém, um laudo atestou a presença de uma deformidade permanente no lábio inferior.

Durante o julgamento, os advogados de Lorena alegaram que o tribunal não tinha competência para julgar o caso, que não havia provas do delito ou ligação entre a lesão e as ações de Lorena, além de alegar “cerceamento de defesa”, pedindo a absolvição da biomédica, o que não foi atendido pela juíza.

Lorena respondia inicialmente por três crimes: lesão corporal grave (por ter causado deformidade permanente); exercício ilegal da medicina; e omissão de socorro. Porém, o juiz decidiu por absolvê-la da acusação de omissão de socorro.

Com isso, Lorena foi condenada a quatro anos, seis meses e 14 dias de reclusão por lesão corporal mais 11 meses de detenção por exercício ilegal da medicina. Porém, a Justiça determinou que ela inicie o cumprimento da pena em regime semiaberto. Com isso, ela não deve ser detida.

Lorena ainda foi condenada a indenizar o modelo em R$ 50 mil por danos morais e a pagar todas as custas do processo. Por fim, foi aplicada a suspensão da atividade profissional de Biomédica pelo período da condenação e a proibição do uso de redes sociais para promoção de sua profissão pelo mesmo tempo. O caso cabe recurso.

A Itatiaia entrou em contato com os advogados da biomédica Lorena Marcondes e do modelo Eduardo Luiz Santos e aguarda retorno. O espaço segue aberto.

Leia também

Relembre o caso

Irís Dorotéia do Nascimento Martins, de 46 anos, morreu no dia 8 de maio durante um procedimento estético em uma clínica de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. A responsável pela operação foi a biomédica Lorena Marcondes de Faria. Íris teria pago R$ 12 mil para realizar a lipoescultura. A vítima sofreu duas paradas cardiorrespiratórias e precisou ser levada para o Hospital São João de Deus, onde morreu horas depois.

Segundo a Polícia Civil, essa cirurgia só pode ser feita com a presença de um médico e de um anestesiologista. A clínica não possuía equipamentos básicos, como monitor cardíaco, e o laser que seria usado no procedimento não tinha chegado no local no momento em que a cirurgia começou.

A profissional e a enfermeira que a auxiliava nas cirurgias foram presas preventivamente após o caso, mas foram beneficiadas com um habeas corpus e progrediram para a prisão domiciliar. Mesmo em prisão domiciliar, a biomédica continuava oferecendo lipoaspiração em suas redes sociais, mesma cirurgia que causou a morte de Íris Martins. Cerca de 15 dias após a reportagem da Itatiaia, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) suspendeu a licença da biomédica. Lorena também é citada em três processos na Justiça por erro médico. Um deles envolve um modelo que teria ficado com a boca deformada após passar um procedimento estético com a mesma profissional em Divinópolis (MG).

Lorena voltou a ser presa no fim de março de 2024 em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Dois dias depois, a Polícia Civil confirmou o indiciamento da profissional por homicídio doloso qualificado pelo motivo torpe e pela traição com dolo eventual. Ela segue detida no Presídio de Floramar. No dia 30 de abril, ela foi beneficiada com um novo alvará de soltura e deixou o Presídio de Floramar, em Divinópolis.


Participe dos canais da Itatiaia:

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.
Leia mais