Um bebê fruto de fertilização in vitro (FIV) com registro de dupla maternidade nasceu no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), em Belo Horizonte. Este tipo de nascimento pelo SUS é inédito na instituição.
Desde o início do relacionamento, o desejo de formar uma família acompanhava as mães K. R. e N. X., cujos nomes serão resguardados. A oportunidade de concretizar este sonho aconteceu através do Serviço de Reprodução Humana, que existe há 26 anos no HC-UFMG e auxilia, através do Sistema Único de Saúde (SUS), famílias que desejam ter filhos, e, por conta de impedimentos diversos, necessitam de acompanhamento especializado.
As mães ingressaram no serviço em 2021, e todo processo, até a fase da fertilização, ocorreu entre o final do ano de 2023 e fevereiro de 2024.
Neste caso, foram utilizados os óvulos da mãe K. R. e espermatozoides de um doador anônimo. Ao longo do período de tratamento, todo procedimento envolveu a retirada dos óvulos, a fertilização, o cultivo dos embriões e a transferência desses embriões para o útero da mulher.
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Após nove dias de implantação do embrião, foi confirmada a gestação. “A fertilização foi de primeira, nem precisou de outro procedimento. A gravidez foi tranquila, o tratamento foi bem feito e eu não tive intercorrências”, afirmou a mãe K. R.
Desde a fertilização até o parto, todo acompanhamento da família foi realizado no HC-UFMG, sendo o pré-natal no ambulatório Jenny Farias e o nascimento do bebê na maternidade, localizada no 4º andar do prédio principal. “Minha gestação foi tranquila, foi considerada de risco, por causa da fertilização, mas nem eu ou o bebê tivemos problemas”, acrescentou K.R.
Para o registro civil do recém-nascido, além da apresentação da Declaração de Nascido Vivo (DNV) e os documentos das mães, foi necessária a apresentação de um relatório atestando a realização do procedimento de FIV.
Além dos aspectos técnicos e legais a serem observados, Kelly Cristina Bordonove, Chefe da Unidade de Saúde da Mulher, destacou que, embora este tenha sido um caso inédito, o fator prevalente é o foco no atendimento ao usuário do Sistema Único de Saúde. “Procuramos fazer nosso trabalho de forma ética, de acordo com a legalidade. E, neste caso, o que o que fica como marco para a gente é que todo o percurso dessa família foi através do SUS”, afirmou a enfermeira.
Para N. X., também mãe do recém-nascido, esse foi um passo importante no âmbito pessoal e coletivo. “A gente fica muito feliz por ter quebrado essa barreira e de saber que isso é uma abertura de portas para pessoas que virão futuramente, que têm o mesmo desejo que nós tivemos e conseguimos realizar”, declarou.