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O aluno que sonhava ser professor e transformou o ensino da matemática pela robótica

No Dia do Professor, conheça a história da sala de robótica da Escola Municipal Mestre Paranhos, em BH, iniciativa de um professor abraçada por toda a comunidade escolar

Vitor Fiuza ministra aulas de matemática e robótica para o quinto ano da Escola Estadual Mestre Paranhos

Desde quando ele era aluno, Vitor Fiuza sonhava com o dia em que poderia inverter os papeis e se tornar professor. Ele sempre soube que os professores fazem parte da formação dos mais diversos tipos de profissionais e são, muito além da vida acadêmica, os responsáveis por ensinar as primeiras coisas para as crianças. Como telas em branco, são os professores os pintores que tornaram a imagem algo colorido e enorme. Foi munido da paixão por lecionar e muita vontade de impactar a vida dos alunos que Vitor resolveu se aventurar até mesmo na arquitetura para trazer o melhor ensino possível para as crianças.

Há dois anos, Vitor passou no concurso para ser professor da rede municipal de educação em Belo Horizonte e foi designado para trabalhar na escola Municipal Mestre Paranhos, no conjunto Santa Maria, região Centro-Sul da capital. E foi lá que encontrou campo fértil para colocar em prática várias ideias que somassem o ensino, a tecnologia e o impacto social.

Sala de robótica

Assim, surgiu a disciplina de robótica e o laboratório prático da matéria. Quando Vitor apresentou o projeto, a escola precisou se reunir com a direção pedagógica para que mudasse a estruturação curricular e pensar em um local que pudesse receber as aulas. A direção da escola embarcou e abraçou a ideia do professor, que acompanhou até mesmo a obra para construção do laboratório, que muito pouco se assemelha a uma sala de aula tradicional.

“Uma coisa muito essencial foi a permeabilidade visual, eu quis trazer para essa sala duas ‘janelonas’. Pros meninos que estão do lado de fora quererem estar do lado de dentro e os meninos que estão aqui dentro conseguirem compartilhar com que está do lado de fora aquilo que eles estão aprendendo. Essa permeabilidade visual traz pro processo de ensino e aprendizado uma leveza e o engajamento orgânico. Assim como, só o fato da gente ter uma sala de aula que não tem carteira, em que o papel do professor não é definido.”, explica Vitor.

O pedagogo conta que as mudanças fizeram com que os alunos se sentissem mais à vontade, seguros e consequentemente mais engajados e dispostos a prestarem mais atenção. Além das questões físicas da nova sala, o aumento do engajamento com a disciplina pode ser explicado por ser um estudo aliado às tecnologias - que já fazem parte do dia a dia das crianças.

Tecnologia e educação

A vice-diretora da escola, Miriam Oliveira, conta que desde o pós-pandemia a Secretaria de Educação de BH fez investimentos para que as escolas pudessem utilizar as tecnologias adquiridas durante o período de isolamento social nas salas de aula.

“Quando a gente voltou para o atendimento das crianças pós-pandemia, não fazia sentido não ter a tecnologia nesse espaço para que a gente pudesse desenvolver o trabalho. A Secretaria de Educação teve esse olhar desde o início, também vislumbrando que a gente poderia usar dessa estrutura que já tinha sido criada e ‘comprou’ projetos diferenciados que pudessem contribuir para o desenvolvimento dos aspectos do ensino pedagógicos para as crianças.”, explicou Oliveira.

Engajamento da comunidade

O investimento tem dado resultado. Alguns dos alunos do quinto ano da escola fazem parte de uma equipe de robótica que já foi vencedora de dois torneios. Além dos alunos, os pais também estão engajados com a disciplina por perceberem o valor do conhecimentos para a vida das crianças, que estão inseridas em um mundo cada vez mais tecnológico.

Vitor explica que o ensino da robótica auxilia em todas as áreas de conhecimento, “a gente consegue intercalar a área de linguagem, de ciências humanas, Ciências da Natureza no desenvolvimento desse projeto de inovação. Quando a gente vai para o design do robô, para a parte de programação, a gente desenvolve engenharia. E eles desenvolvem também valores muito importantes, como trabalho em equipe, criatividade, o dinamismo que eles têm para executar as atividades, sabe? Isso é muito importante, além da animação, da diversão, que é muito válida”, explica.

O sucesso da disciplina e o impacto na vida dos alunos e na rotina da escola só é possível por conta desse encontro que parece ter acontecido no melhor momento possível. Um professor engajado, uma escola que abraça e incentiva novas ideias e alunos dispostos a aprenderem de maneiras diferentes. “Acho que aí foi um bom casamento e aí a gente tem hoje esse resultado aqui de um investimento que é fantástico, os meninos estão super animados, a equipe já está participando de competições. E foi algo que começou aqui na escola Mestre Paranhos e que com certeza a gente vai ter uma ampliação no próximo ano”, explica a vice-diretora Miriam.

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Aprendizados

Um dos alunos que está na equipe e das aulas de robótica é o venezuelano Angel, de 11 anos. Ele conta que a parte preferida das aulas é a hora de montar os robôs. “A gente conhece várias peças de Lego que nunca tinha visto antes”, contou o menino em meio a risadas envergonhadas. O garoto também explica que prefere montar robôs a ficar no celular, por acreditar que a tecnologia é menos nociva à saúde.

Angel veio pro Brasil há seis anos com a mãe, o pai e os irmãos. Ele conta que apesar de gostar e ser bom na disciplina de matemática - na qual também é aluno de Vítor - o sonho mesmo é ser jogador de futebol. Mal sabe ele que, ao estudar robótica e matemática, está se preparando também para a arte da bola, que também envolve equações e expressões matemáticas.


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Graduada em Jornalismo pela PUC Minas, é repórter da Itatiaia desde abril de 2023, na equipe de redes sociais. Já passou pela redação do jornal Estado de Minas e assessoria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tem experiência principalmente em vídeos, podcasts e reportagens multimídia.