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Bombeiro que matou policial em bar em BH vai a júri popular; Justiça nega soltura

Naire Assis Ribeiro teria executado Wallysson Guedes por revolta ao descobrir que a vítima, um homem negro, era policial penal; idoso responde na Justiça por homicídio triplamente qualificado e racismo

Naire Assis Ribeiro foi denunciado pela execução do policial penal Wallysson Alves dos Santos Guedes

A Justiça vai levar à júri popular o bombeiro militar Naire Assis Ribeiro, acusado de matar o policial penal Wallysson Alves dos Santos Guedes em um bar no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, em fevereiro de 2024. Além de ser indiciado por homicídio triplamente qualificado, Naire também foi apontado como autor do crime de racismo, já que teria matado Wallysson por ‘revolta’ ao descobrir que ele, um homem negro, era policial (relembre o caso no fim da matéria).

A Itatiaia apurou que a decisão foi assinada neste mês de agosto pelo juiz Bruno Sena Carmona, do Tribunal do Júri 1º Sumariante. O documento obtido pela reportagem traz detalhes do caso, inclusive a informação de que Naire teria dito, após o crime, que solicitou a presença da Polícia Militar várias vezes, mas que ‘o mal já havia acontecido’.

Ainda de acordo com o Sargento, durante a conversa o acusado rechaçava a informação de que a vítima seria um policial penal (‘ele não é policial penal não!’) e a todo o momento dava a entender que havia atirado em ‘um bandido’, diz um trecho da denúncia, que reforça a acusação de racismo contra o bombeiro.

Com a decisão, Naire vai a júri popular por homicídio triplamente qualificado (‘motivo torpe’, ‘uso de meio cruel ou que possa resultar em perigo comum’ e ‘recurso que dificulte a defesa do ofendido’) e racismo. A data do julgamento ainda não foi marcada.

Além disso, o juiz manteve a prisão preventiva de Naire ‘considerando [...] a brutalidade do crime em questão [...] e a necessidade de pronta e severa resposta do aparato estatal’. Naire Assis Ribeiro segue detido em um batalhão do Corpo de Bombeiros.

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Posicionamento

Confira abaixo o posicionamento de Audrey Silveira, advogado de Naire:

A Defesa de Naire Ribeiro respeita, mas discorda da decisão de pronúncia e vai recorrer.

Nesta fase, mesmo na dúvida, mesmo não tendo nenhuma prova ou testemunha, a lei determina que o caso deve ir a Júri, conforme reconheceu o Juiz: “não se exige, para a pronúncia, o juízo de certeza necessário para a prolação da sentença”

Não houve motivo racial. A vítima já chegou no bar muito embriagada, falando de forma tão desconexa que “enrolava a língua”. Quem via achava que era um estrangeiro. Portava uma arma na cintura, para fora da camisa. Naire e outras pessoas ao conversar com a vítima foram agredidos por palavras. A vítima dizia que “bombeiro não é polícia” e que não tinha que “dar satisfação a um bombeiro de merda”, que “todos os bombeiros são uns bostas que gostam de pagar de polícia”.

Naire achou que um policial não se portaria assim. Ligou três vezes para a polícia (2h02m, 2h19m e 2h28m), dizendo que uma pessoa estava bêbada e armada em público.

Naire foi treinado nos bombeiros a descrever um elemento por gênero, característica, idade e vestimentas. Por isso disse à atendente do 190 que se tratava de um homem, negro de 40 anos. A atendente da PM, no lugar de enviar uma viatura que teria resolvido a questão e evitado o crime, ficou debatendo com Naire sobre a cor da pele da vítima, ficou perguntando “qual o problema de a pessoa ser negra?” “você so consegue dizer que ele é negro”.

O policial militar que comandava a viatura em patrulhamento, disse em juízo que foi acionado já com a notícia de tiros disparados, ou seja a atendente não passou a ocorrência para a viatura, mesmo tendo recebido 3 chamadas.

Nunca houve racismo, a briga ocorreu entre um homem bêbado, agressivo, não identificado, com arma ostensiva na cintura e um morador do bairro, bombeiro aposentado e preocupado com a segurança dos presentes'.

Relembre o caso

A Polícia Militar (PM) foi acionada na rua Tenente Freitas, 258, e encontrou a vítima sangrando muito e ainda respirando. O policial penal foi socorrido para o Hospital João XXIII, passou por cirurgia, mas não resistiu e acabou morrendo.

Testemunhas contaram à corporação que o policial e o bombeiro estavam bebendo juntos e que, em determinado momento, o bombeiro questionou o policial penal sobre o porquê dele estar armado. Assim, teria se iniciado uma discussão entre os dois.

Ainda conforme o relato de quem estava lá, o bombeiro saiu, foi em casa, buscou o revólver e atirou diversas vezes no policial penal, fugindo de moto logo em seguida. Contudo, os militares encontraram o suspeito. Ele foi preso e o revólver calibre 38. apreendido.


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Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.