“Eu quero que a minha filha seja lembrada como a menina que ajudou a prevenir outros feminicídios e não a que foi morta”, afirma Keila Souto, mãe de Ana Luiza Souto Dompsin. A dentista de apenas 25 anos foi assassinada pelo namorado, em março de 2021, em Divisa Alegre (MG), cidade na divisa de Minas Gerais e da Bahia.
Em um evento de comemoração ao aniversário de um ano da Casa Lilian, instituição do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que promove acolhimento a familiares e mulheres vítimas de violência, realizado nesta sexta-feira (23), Keila contou a história da própria filha para ajudar outras mulheres vítimas da violência doméstica.
Segundo um levantamento realizado pelo MPMG, entre 2021 e 2023,
“Vai passando um filme na cabeça. O feminicídio é o fim, mas tem todo um processo que a gente imagina que minha filha passou antes do feminicídio. O maior sofrimento é que não se pode fazer mais nada depois do feminicídio. Um amigo da minha filha escreveu um texto que dizia: ‘Onde a gente estava quando a Ana gritou?’. Quantas mulheres não estão gritando agora?”, questiona Keila.
Mãe afirma que só vai viver o luto quando autor for condenado
O assassino de Ana Luiza é o tenente da Polícia Militar da Bahia, Amaurí dos Santos Araújo. Atualmente, ele cumpre pena em regime domiciliar e ainda aguarda julgamento. Segundo a mãe da jovem, já foi definido que o caso irá a júri popular, mas, mesmo três anos e cinco meses após o crime, ainda não há uma data marcada para o júri.
Enquanto espera a Justiça ser feita, Keila relata como o feminicídio impactou profundamente a história de toda a família.
Autor era violento e tentou forjar suicídio da vítima
Camila Souto, prima da vítima, conta que Ana Luiza e o namorado só estavam juntos há quatro meses quando tudo aconteceu. Camila relembra como era o relacionamento da dentista com o autor.
“Ele sempre foi possessivo com ela, sempre teve crises de ciúmes muito fortes. Ele começou a ameaçá-la falando que queria matar o ex-namorado dela, que queria matar a mãe e ir atrás da família. A Ana Luiza sempre foi uma mulher muito preservada. Ela ficava com muito medo, sabe? Então, ela não falava muito com a mãe sobre isso”, contou Camila.
No dia do crime, Amaurí deu um tiro na nuca de Ana Luiza, que morreu na hora. O policial militar tentou enganar a Justiça dizendo que a dentista havia se suicidado, o que foi desmentido pelas investigações.
“Foi graças ao IML (Instituto Médio Legal), e à promotoria de Justiça que provou o contrário. Eu espero que a Justiça seja feita em algum momento e que a gente consiga levar o exemplo da Ana Luiza para outras mulheres e consiga salvá-las”, finaliza.