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Há 60 anos, moradores convivem com preguiças em praça no centro de Teófilo Otoni (MG)

Levantamento de 2018 mostrou que havia 16 preguiças vivendo no local; novo plano de manejo pode retirá-las de praça

Quem caminha pela Praça Tiradentes, no centro de Teófilo Otoni, na região do Vale do Mucuri, em Minas Gerais, costuma se deparar com olhares atentos e camuflados em meio às árvores. São as famosas preguiças da cidade. Os animais chamam a atenção de visitantes e moradores, principalmente quando descem das altas copas das árvores e caminham pela rua.

O vendedor ambulante Domingos de Matos já está acostumado com a presença das fofurinhas em pleno coração da cidade.

“Tem hora que elas descem e querem atravessar a rua. Aí, a gente tem que pegar. A gente pega elas pelas costas, porque como elas se defendem com a unha, aí não tem perigo. A gente tem que pegar para proteger. A gente sempre olha por elas, é uma atração da cidade”, conta.

Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Lucas Ribeiro, a relação entre Teófilo Otoni e as famosas preguiças começou há mais de 60 anos.

“Entre as décadas de 1960 e 1970, o prefeito da época decidiu criar um viveiro na Praça Tiradentes. Tinha vários animais silvestres, como macacos de grande porte, avestruzes, tamanduás e as preguiças. O viveiro acabou ainda na década de 1970, porque em 1980 já não tinha mais nada. Restaram só as preguiças”, conta.

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Último levantamento contabilizou 16 preguiças

Segundo Ribeiro, o último levantamento, realizado em 2018, contabilizou 16 preguiças na praça. O monitoramento foi realizado por biólogos da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“O estudo mostrou que essas preguiças estavam bem e tinham um bom relacionamento com o ser humano. Elas não se assustavam quando alguém chegava perto. Nessa época, também fizemos algumas ações de manejo para aumentar o bem-estar das preguiças, como plantar árvores de Embaúba e Amora, que são a base da alimentação delas”, explicou o secretário.

Ribeiro diz que as árvores localizadas na praça são nativas da Mata Atlântica e algumas são centenárias. Segundo os moradores, a preferida das preguiças é uma árvore localizada atrás do ponto de ônibus da praça. Ali, elas passam o dia deitadas e se alimentando. Os animais só descem ao chão quando precisam fazer as necessidades fisiológicas.

Para ajudar as preguiças a se deslocarem pela praça e ruas próximas, em 2018, a Prefeitura de Teófilo Otoni instalou cabos ligando uma árvore a outra e ligando a praça às ruas laterais. Tudo para evitar que as preguiças atravessassem a rua e corressem risco de serem atropeladas.

Moradora tira foto de preguiça na Praça Tiradentes, em Teófilo Otoni

Preguiças podem ser retiradas da praça no futuro

Agora, o plano é realizar um novo monitoramento para estimar a população atual dos animais. Dessa vez, o estudo será realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA).

“A gente vai fazer uma nova contagem e fazer um plano de manejo. As informações preliminares já indicam que elas podem estar com a saúde fragilizada. Como é uma população muito pequena, eles cruzam entre si e isso pode causar alterações genéticas. Isso pode acabar causando um enfraquecimento da musculatura, por exemplo”, afirma o secretário.

Ribeiro não descarta ter que transferir as preguiças de lugar, caso seja confirmado que a saúde delas corre perigo.

“O ideal é que elas vivessem em um local maior, com mais animais da espécie para se reproduzir. Se chegar a um ponto que prejudique a saúde delas, vamos ter que pensar em alternativas. Claro, que por elas estarem há décadas aqui, temos medo de que não se adaptem em outro lugar. Mas vamos fazer o que for preciso para manter as preguiças saudáveis. Elas são um símbolo”, ressalta.

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Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.