Ouvindo...

Cidade mineira usa ‘mosquitos geneticamente modificados’ para combater a dengue

Congonhas (MG) vai adotar tecnologia inglesa que aumenta população de mosquitos machos, que não transmitem doença

Método aumenta número de mosquitos machos, que não transmitem doenças

Congonhas, cidade na região Central de Minas Gerais, vai adotar uma tecnologia inglesa para combater um problema muito conhecido do brasileiro: a dengue. A cidade mineira vai usar “mosquitos geneticamente modificados” para combater o Aedes aegypti, responsável por espalhar a doença.

O método, apelidado de Aedes do Bem, foi desenvolvido pela multinacional de biotecnologia Oxitec e está sendo aplicado integralmente em uma cidade pela primeira vez. O produto consiste em uma caixa com refis de ovos de mosquitos Aedes aegypti machos, que não picam nem transmitem doenças. Após 14 dias, eles atingem a fase adulta e começam a acasalar com as fêmeas, que são responsáveis pela disseminação da dengue, zika e chikungunya.

Apenas os filhotes machos deste acasalamento chegam à fase adulta, herdando as características do pai. A Oxitec afirma que o processo diminui o número de fêmeas e permite um controle proporcional dos mosquitos.

A partir de agosto, 4.560 caixas com os ovos dos mosquitos modificados vão ser instaladas em 1.520 pontos da cidade de Congonhas. A cada 28 dias, os refis devem ser trocados. O secretário de Saúde da cidade, Allan Diego Falci, afirma que o Aedes do Bem traz orgulho para Congonhas.

“Tenho muito orgulho de estar à frente desse projeto e a certeza de que teremos excelentes resultados, com reduções drásticas do mosquito, proporcionando melhores condições de saúde para as pessoas.”

A cidade de Congonhas já confirmou 1.042 casos de dengue em um total de 3.964 casos prováveis. Já os casos confirmados de chikungunya, transmitida pelo mesmo mosquito, são 174.

Especialista critica método

Cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Niterói e Petrolina adotam outro método para combate ao mosquito da dengue, o Wolbachia. Liderada pelo World Mosquito Program (WMP) e administrada no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a tecnologia usa mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que impede que os insetos transmitam dengue, zika, chikungunya e até febre amarela.

Segundo Mauro Martins Teixeira, professor da UFMG e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Dengue, o método da Oxitec tem resultados diferentes do Wolbachia.

“Tem muita diferença. Eu diria que Wolbachia é uma vacina e o outro é um medicamento. Além disso, ele necessita de um tratamento contínuo. O Wolbachia se estabelece por mais tempo e usa uma bactéria natural. Não vou dizer que é para sempre, mas dura muito tempo.”

A Prefeitura de Congonhas informou que preferiu a tecnologia autolimitante da Oxitec por considerar que ela é “mais apta a atender as necessidades do município de Congonhas”.

Dengue em MG

De acordo com os últimos dados da Secretaria de Estado de Saúde, divulgados no dia 3 de julho, Minas Gerais tem 401.203 casos prováveis e 237.710 confirmados de dengue, com 139 mortes oficiais e outras 139 em investigação. Outras 52.591 pessoas foram infectadas pela chikungunya, 29 morreram e 16 óbitos são analisados. A zika acumula 34 casos confirmados e nenhuma morte.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.