Uma organização criminosa com funções pré-definidas e olheiros que faziam o monitoramento em um raio de pelo menos 6km. Assim o tenente Joiner Dornelas, do batalhão de Meio Ambiente da Polícia Militar (PM), resume como funcionava a exploração ilegal de minério de ferro na Serra da Piedade, patrimônio ambiental de Minas localizado entre as cidades de Caeté e Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Batizada de ‘Piedade’, a operação ainda está em andamento, já que militares rastreiam a área, que é de difícil acesso, em busca de mais maquinário. Até as 9h desta quinta (22), 15 caminhões, uma pá carregadeira, dois carros, celulares e documentos foram apreendidos.
“É uma organização criminosa. Um grupo extremamente organizado. As pessoas tinham funções pré-definidas, alguns eram responsáveis pela carga do caminhão, outros responsáveis pela extração por meio do uso da pá carregadeira, outros por olhar a movimentação. Esses olheiros estavam distantes do local, aproximadamente 6km do local de extração”, disse o tenente.
Ainda conforme o militar, o grupo era monitorado há 30 dias. A operação Piedade começou por volta das 16h dessa quarta-feira (22), quando os militares se dividiram para fechar os acessos.
“A operação iniciou na data de ontem, por volta de 16h, quando a equipes policiais foram ao local para fazer o reconhecimento. Feito isso, algumas equipes se dispuseram no terreno. Na medida que a movimentação começou no local, conseguimos fechar o cerco em todas as possíveis entradas de veículos e de pessoas e conseguimos efetuar a prisão hoje de vinte pessoas”, explicou.
O tenente destacou que ainda não possível saber qual era o destino do minério retirado ilegalmente. No entanto, adiantou que a área explorada, que fica mais para o lado de Sabará, e Zona de Amortecimento (áreas localizadas no entorno de uma unidade de conservação). Como é um crime ambiental, os presos e todas as informações da operação serão entregues à Polícia Federal (PL).
A Serra da Piedade está localizada na formação geológica do Espinhaço, a 1.746 metros acima do nível do mar, ponto onde se encontra o Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, que, em nota, elogiou a operação. Veja a nota:
A exploração predatória da Serra da Piedade expressa a ação egoísta do ser humano, que tudo faz em nome da ganância. A Serra da Piedade tem recursos naturais essenciais à vida, com mananciais de água que abastecem casas, asseguram a sobrevivência de famílias. Um território com plantas e animais que não existem em outros lugares do planeta - patrimônio da humanidade, que não pode ser destruído.
Gratidão à Polícia Militar de Minas Gerais que prontamente age em defesa da Serra da Piedade, combatendo um crime de consequências irreversíveis. A Igreja reafirma o seu compromisso de denunciar todo tipo de exploração predatória da Serra da Piedade, que ameaça o futuro de um território sagrado, guardião e promotor da vida.
Estamos no mês dedicado à conscientização sobre o cuidado com o meio ambiente, o Junho Verde, assim nomeado por Lei Federal sugerida pela própria Igreja. É tempo de olhar para as nossas serras, patrimônio de Minas Gerais, com a sensibilidade de São Francisco de Assis, Padroeiro da Ecologia, acolhendo a profética indicação do Papa Francisco, de bem cuidarmos do planeta, a Casa Comum.
1673
Os primeiros apontamentos sobre a Serra da Piedade datam de aproximadamente 1673, quando o bandeirante Fernão Dias buscava encontrar prata na então chamada Serra de Sabarabuçu. O percurso até o topo da montanha é feito por uma estrada sinuosa, na qual estão dispostos 15 painéis de azulejos com cenas da via sacra.
Barão de Cocais e Santa Barbará
No começo deste mês, a polícia ambiental prendeu sete suspeitos de envolvimento com a extração ilegal de minério em Barão de Cocais e Santa Barbará, municípios da região Central de Minas Gerais. O grupo usava maquinário pesado para retirar o minério.