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Vídeo: pedagoga e amiga negras denunciam racismo na Leroy Merlin em BH após compra via Pix

Caso foi registrado na Polícia Civil; vídeo mostra parte da abordagem

Abordagem ocorreu na loja da Leroy Merlin do Center Minas

‘Se fossem duas clientes brancas, eles iriam colocar três seguranças atrás delas até o estacionamento’? O questionamento é feito pela pedagoga Marcela Cristina Alexandre, de 35 anos, que denuncia ter sido vítima de racismo e constrangimento na loja da Leroy Merlin do Centerminas, no bairro União, região Nordeste de Belo Horizonte, na noite de segunda-feira (13). Bastante emocionada, a pedagoga procurou a Polícia Civil nesta terça-feira (14) para registrar boletim de ocorrência.

De acordo com o relato, o problema ocorreu após ela ir à loja com uma amiga, também negra, para comprar uma extensão, lâmpadas e outros produtos (no valor de R$ 270), e fazer o pagamento via Pix. “Escolhi as coisas que queria comprar, fiz o pagamento por Pix. E, por um erro e não atenção e cuidado dos profissionais da loja, fui seguida por três seguranças até o estacionamento como se tivesse roubado os itens. Me seguiram até o carro, ameaçando chamar a polícia, tiraram foto do meu carro, queria que eu devolvesse os produtos mesmo mostrando o comprovante do valor do pagamento debitado da minha conta”, escreveu a pedagoga em uma rede social.

A Leroy Merlin informou à Itatiaia que houve uma “inconsistência” para identificar o pagamento realizado via Pix (confira abaixo).

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“A gente sai para comprar uns produtos e no outro dia tem que ir na delegacia, tem que procurar advogado e tem que dar entrevista. Me sinto péssima, porque a gente fala tanto sobre conscientizar. A gente não pode ser preto, não pode ter dread... a gente tem que seguir um padrão para ser respeitada”, disse Marcela, chorando muito.

Além da Polícia Civil, Marcela procurou o advogado Gregório Andrade para acompanhar o caso. “Na verdade, é mais um caso de racismo. São duas negras que foram abordadas de forma desrespeitosa na Leroy Merlin, sob a alegação de a conta não ter sido paga. Mas ela tinha realizado o Pix. Enfim, foram barbaramente constrangidas pelos seguranças. Teve uma situação vexatória, porque elas foram cercadas e os seguranças ficaram tirando fotos delas. Um comentando com o outro que poderia ser golpe de Pix”, disse Gregório.

Vídeo

A amiga que acompanhava Marcela durante a compra filmou parte da abordagem. As imagens mostram dois seguranças, sendo uma mulher, abordando a pedagoga. Em um primeiro, o homem e a mulher aparecem chamando a pedagoga para voltar à loja e fazer o estorno.

“Fiz o pagamento e não quero devolver meu produto. Você está me obrigando a devolver um negócio que eu comprei?”, questiona. Na sequência, a segurança se aproxima da amiga e pede que ela pare de filmar.

As imagens mostram a pedagoga pegando caixas de papelão e seguindo para o estacionamento. Em outro trecho da filmagem, já com a pedagoga e amiga dentro do veículo, os seguranças aparecem na frente do veículo fotografando. “Foto do comprovante (de pagamento) você não quer tirar, né?”, disse a amiga de Marcela.

Veja o vídeo:

Resposta da loja

Em nota, a “Leroy Merlin esclarece que, no momento da compra, a cliente realizou o pagamento via Pix, mas por uma inconsistência sistêmica a ação não foi concluída, o que ocasionou um transtorno. Como prática, quando a companhia não identifica o pagamento é fornecido ao cliente o comprovante com a garantia do estorno em até 48 horas, contudo a consumidora não aceitou, após a intervenção os responsáveis pela Leroy Merlin foram acionados e permitiram a saída da cliente com o produto. A empresa destaca que o estorno foi realizado ontem (segunda-feira). Além disso, irá reforçar suas comunicações sobre o processo de estorno que é corriqueiro e seguiu a tratativa padrão”.

Injúria racial

Em janeiro deste ano, o presidente Lula (PT) sancionou a lei que tipifica como crime de racismo a injúria racial, com a pena aumentada de um a três anos para de dois a cinco anos de reclusão. Enquanto o racismo é entendido como um crime contra a coletividade, a injúria é direcionada ao indivíduo.

Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.
Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.