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Internações por desnutrição infantil crescem em 682% na última década em Belo Horizonte

Em 2023, cinco crianças menores de 4 anos já foram internadas em Belo Horizonte por desnutrição

No Brasil, 43 mil crianças abaixo de 5 anos foram internadas por sequelas da desnutrição na última década

Em uma década, Belo Horizonte registrou aumento de 682,35% de casos de internação por desnutrição em crianças menores de 1 ano. Enquanto em 2013 foram apenas 17 internações nessa faixa etária, em 2022 foram registradas 133. No ano de 2023, até o momento, 4 crianças menores de 1 ano já foram internadas por desnutrição.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), na última década o Brasil internou 43 mil crianças menores de cinco por sequelas da desnutrição. Os dados do Sistema de Informações Hospitalares, do Ministério da Saúde, mostram que, entre janeiro de 2012 e novembro de 2022, foram registradas 400 mil hospitalizações em todas as faixas etárias por desnutrição na rede pública.

Entre menores de 5 anos, a proporção de internações mais que dobrou em uma década, passando de 8% em 2012, para 18% em 2022. Segundo a presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Isabel Suano, estes aumentos são vistos com preocupação por especialistas, pois demonstram um sucateamento da rede pública de saúde e aumento da desigualdade social no país.

“A insegurança alimentar aumentou de forma importante nos últimos anos, especialmente em 2022, com 33 milhões de indivíduos nesta situação. A criança é sempre mais suscetível, porque seu organismo está se desenvolvendo e, se faltam nutrientes, ela consome as suas reservas. Esta situação pode ser agravada por infecções, como a diarreia, infecção de pele e pneumonia”, explica a médica.

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Políticas públicas e combate à fome

A médica Isabel Suano explica que o Brasil havia saído do Mapa da Fome em 2014 por meio de medidas coordenadas entre o executivo federal e estadual, mas vem demonstrando aumento no número de desnutrição nos últimos anos devido a crises financeiras, sanitárias e políticas.

“A fome não é um fenômeno ligado a ter ou não ter um alimento, ela tem a ver com desigualdade, oportunidade de educação, acesso a alimentos e políticas públicas de promoção de saúde dentro do Sistema Único de Saúde, que vai desde a atenção básica até a atenção especializada. A gente teve uma desorganização importante das políticas públicas que combateram a fome e uma fragilização do SUS, que é um grande estrutura de promoção de saúde, mesmo para quem o usa diretamente”.

Isabel explica que o número de pessoas desnutridas aumenta junto com o aumento da vulnerabilidade social, desemprego e aumento da inflação. Desta forma, comidas consideradas saudáveis ficam mais caras e a população fica dependente de alimentos industrializados e ultraprocessados, que são mais baratos e mais pobres nutricionalmente.

“A gente precisa retomar e reestruturar políticas públicas que já existem no nosso país e eu reforçaria três grandes pontos: o primeiro é o investimento do SUS em todos os seus níveis de atenção. Segundo o investimento em educação, para que crianças de extrema vulnerabilidade possam estar inseridas dentro das creches, onde elas podem receber alimentação saudável e adequada. O sistema educacional está interligado à saúde, a educação pode oferecer saúde e a saúde pode oferecer educação. O terceiro é a redução da desigualdade, o Brasil não é um país pobre, é um país extremamente desigual”.

A especialista destaca, ainda, que seria importante uma política pública para reorganizar o preço dos alimentos. Desta forma, as famílias mais pobres teriam acesso ao arroz, feijão, legumes, frutas e carnes, e menos necessidade em investir em comidas instantâneas e biscoitos e sucos em pó sem valor nutricional.