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Mãe de criança que morreu após ser internada em BH diz que filho tinha medo de ver o pai: ‘história muito mal explicada’

Segundo a mãe, a criança tinha medo de ir para a casa do pai e até chorava; pai e madrasta foram presos e são investigados

A mãe da criança de dois anos que morreu após ser internada em estado gravíssimo no Hospital João XXIII, afirmou que o filho tinha medo de ir para a casa do pai e sempre voltava com hematomas ou sangrando. Ainda segundo Isabela Carolina de Almeida Costa, de 27 anos, Ian teria se machucado no sábado (7) à tarde, mas ela só foi avisada pelo pai quando a criança tinha sido internada, na madrugada do domingo (8).

A Polícia Civil abriu inquérito para investigar a morte de Ian, e o pai, de 31 anos, e a madrasta, de 34, foram presos em flagrante por “omissão de socorro qualificada”. O casal informou à polícia que a criança escorregou e bateu a cabeça no chão mas, ao analisar os ferimentos, a polícia não descarta que Ian tenha sido vítima de violência física.

Segundo Isabela, o pai teria deixado a criança sozinha com a madrasta, e foi neste momento que ele teria sofrido, pelo menos, duas quedas. Ao chegar em casa do trabalho, por volta das 3 horas da manhã, o pai teria encontrado Ian desmaiado e o levou para o Hospital Risoleta Neves. Lá, a criança sofreu duas paradas cardíacas e foi transferida para o Hospital João XXIII, onde não resistiu e morreu.

“Quando foi no domingo, cerca de 5 horas da manhã, ele [o pai] me mandou mensagem dizendo que estava indo paro Risoleta Neves, porque o Ian tinha caído. Os relatos que chegaram pra mim foi que ele teve uma queda durante o dia e o pai foi acionado, porque ele não estava em casa, o Ian estava só com a madrasta. O pai foi para casa, viu que o Ian estava bem e não chegou a levar pro hospital. Quando foi mais tarde, por volta de seis horas, ele saiu pra trabalhar e deixou novamente o Ian com a madrasta. Segundo ela, Ian teve outra queda, parece que vomitou várias vezes, e ela, mesmo vendo a situação, não chamou o SAMU, não levou pro hospital, não prestou socorro. A única coisa foi dar remédio e colocar o Ian pra dormir novamente. Eu já fui comunicada no momento que ele já estava indo pro hospital”, relata a mãe.

Mesmo acreditando que o filho morreu por falta de responsabilidade do pai e da madrasta, Isabella disse que não irá acusá-los de violência e maus-tratos até que seja provado pela Polícia. Ela questiona, entretanto, porque o casal não prestou socorros à criança antes.

“Segundo o depoimento do pai, ele encontrou o Ian desacordado, gemendo de dor. Onde que a madrasta dele estava? Porque, se ele estava gemendo de dor, não é possível que ele não estava com a madrasta. Por que ela não prestou socorro pra ele? Eu não julgo enquanto não sair a perícia. Mas, na verdade, tinha alguns machucados na boquinha, ele tava com roxinho na testa. No Risoleta [Neves] eles falaram que a pancada dele [Ian] é como se tivesse sido um acidente de moto, como se tivesse batido uma moto na parede. Então, assim, está muito mal explicada essa história”.

Relação da criança com o pai e madrasta

Isabela e o pai de Ian se relacionam por pouco tempo, já que ela descobriu que ele tinha um relacionamento sério com outra mulher. Ao se separarem, o pai assumiu as responsabilidades e compartilhou a guarda de Ian com a mãe, o que não foi bem aceito pela madrasta, segundo Isabela.

“A gente ficou pouco tempo e, quando eu engravidei, eu descobri que ele tinha outra mulher. Então, ela desde o início nunca aceitou muito bem essa história do Ian, de chegar mais uma pessoa na família deles. Depois que eu fui ligar os fatos, me pareceu que ele às vezes brigava com ela e ia dormir na minha casa, então sempre ela me odiou porque ela sempre achava que eu era errada, que eu sabia dela. Desde o início que ela teve que engolir o Ian e a gente já teve várias discussões, várias brigas. Eu tinha contato só com o pai dele e, mesmo assim, com o pai dele o contato era muito difícil, porque ele é muito ignorante”, relatou Isabela.

Ainda conforme o relato da mãe, Ian frequentemente chegava da casa do pai com ferimentos e, uma vez, estava com os ouvidos sangrando. Além disso, ele tinha dificuldade na fala e sempre se mostrava resistente a ir para a casa do pai, chegando a chorar algumas vezes.

“O Ian ia fazer três anos e não falava completamente. Então, eu não sei o que aconteceu na vida dele para interferir nessa fala. Ele já chegou com hematomas em casa e o pai falava que ele tinha subido na porta e caído. Passando-se duas semanas, o Ian chegou com o ouvido sangrando e eu levei para o Pronto Atendimento e a médica já ficou horrorizada que o pai não tinha levado. Eu falei com ele que, se o Ian chegasse em casa machucado mais uma vez, eu não ia deixar o Ian voltar pra casa dele. Mas o Ian realmente nunca mais chegou machucado, só que dessa vez ele chegou e foi fatal”.

Isabela relata, ainda, que até os vizinhos da família percebiam que Ian era resistente a ir para a casa do pai e já chorou algumas vezes. Entretanto, ele nunca deixou claro se tinha problemas com o pai ou com a madrasta.

“O Ian era muito resistente de ir para casa do pai, todos os vizinhos estão de prova que ele até chorava. Às vezes o pai dele ia pegar ele aqui em casa e ele agarrava no meu pescoço. Eu não posso te falar se ele tinha algo com a madrasta ou com o pai. O pai dele sempre foi muito preocupado. Eu só achei que foi negligência da parte dele não ter levado para o hospital”.

Versão do pai e madrasta

O pai de Ian disse aos policiais que, por volta das 13h de sábado (7), saiu para cortar o cabelo e deixou o filho com a namorada. Na versão da madrasta, ela estava no quarto colocando a filha para dormir quando escutou um barulho na cozinha e, em seguida, o choro da criança. Foi então que notou “uma vermelhidão nas costas e um e amassamento na cabeça”.

O pai, então, teria recebido uma ligação da namorada dizendo que o menino havia caído e que ela o teria medicado com um remédio anti-inflamatório. Quando retornou, na versão do pai, o filho estava “normal”. Por volta das 17h30, ele saiu novamente para trabalhar. Às 19h, a madrasta disse que deixou o menino assistindo vídeos no celular enquanto tomava banho e, quando saiu, viu a lesão na boca do garoto. Uma hora depois, a mulher percebeu que o enteado havia vomitado e se queixava de dores na região do pescoço.

Por volta das 00h30, o pai teria recebido uma mensagem de áudio no WhatAapp enviada pela namorada, dizendo que a família foi dormir e o menino estava deitado junto com ela na cama. Ao chegar em casa, por volta das 3h, o pai encontrou o filho “deitado com a cabeça no sofá e os pés para fora de maneira estranha”. Ele foi ao quarto e perguntou à companheira onde a criança estava.

Segundo o pai, Ian estava “com a mão esquerda torta e as pernas duras”. Ele afirmou que tentou abrir os olhos do filho, mas ele não acordava. Foi então que o pai socorreu o menino para o Hospital Risoleta Neves. Durante o atendimento, ele sofreu duas paradas cardíacas e, por isso, foi encaminhado para o Hospital João XXIII Pronto-Socorro.

O corpo de Ian foi liberado nesta terça-feira (10) e levado para a funerária. O pai e a madrasta da foram presos e a hipótese da criança ter sido vítima de violência não está descartada.

Cursou jornalismo no Unileste - Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais. Em 2009, começou a estagiar na Rádio Itatiaia do Vale do Aço, fazendo a cobertura de cidades. Em 2012 se mudou para a Itatiaia Belo Horizonte. Na rádio de Minas, faz parte do time de cobertura policial - sua grande paixão - e integra a equipe do programa ‘Observatório Feminino’.
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