Depois de mais de dois anos, o pronto atendimento do Hospital Júlia Kubitschek, em Belo Horizonte, volta a funcionar nesta quarta-feira (20). A unidade ficou fechada porque todo o local foi utilizado para atendimento de casos de Covid-19 durante a pandemia. A reabertura, que atende a determinação do Ministério Público, pode expor outros problemas da unidade de saúde.
Para o Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed), feita dessa forma, sem planejamento, estrutura e contratações, a reabertura pode significar riscos para médicos e pacientes. Profissionais estão sendo remanejados de outras áreas para o pronto atendimento para suprir a demanda de uma equipe de urgência que foi dispensada ainda no ano passado. É o que explica o diretor de Mobilização do Sinmed, Cristiano Maciel.
“Setores muito importantes serão impactados com a reabertura do pronto atendimento e a realocação de médicos. Especialistas como cardiologistas e pneumologistas serão desviados dos seus ambulatórios, e esses pacientes de hipertensão pulmonar, fibrose cística e várias outras clínicas ficarão sem assistência. Não terão seus retornos, suas próximas consultas marcadas, a renovação dos seus medicamentos e terão que recorrer ao pronto atendimento. Isso ainda vai superlotar o pronto atendimento”, alerta.
Maciel diz ainda que a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) está se desmobilizando para direcionar os recursos humanos para o atendimento de urgência. Com isso, médicos estão pedindo demissão.
“É um absurdo isso. O que é o nosso maior medo? Esses médicos especialistas, intensivistas, emergencistas, pneumologistas que estão sendo desviados para o pronto atendimento não fizeram concurso para isso. Com isso, nós já temos registro de aproximadamente dez médicos super importantes para o Júlia Kubitscheck que pediram demissão. A Justiça ordenou que eles cumpram aviso prévio, mas daqui a 30 dias a situação vai piorar”, diz o diretor.
Os riscos para profissionais e, principalmente, para pacientes também são ressaltados pelo pneumologista Sílvio Musman, no hospital há 14 anos.
“Nós, do corpo clínico interno do hospital, somos favoráveis à reabertura. A gente sabe que precisa, mas o que nos preocupa é a maneira como está sendo reaberto. O ideal seria a contratação de médicos especialistas no atendimento de urgência e não a utilização de médicos do corpo clínico interno, porque vai desfalcar serviços essenciais que são prestados pelo Júlia, em especial os ambulatórios e, talvez, até o CTI”, alertou o médico.
“Tem muitos médicos que estão no Júlia há muito tempo e não atuam mais na área da medicina de urgência há muitos anos”, completou.
Resposta
Em nota, a Fhemig diz que executou um planejamento gradativo para a retomada da unidade de emergência e destaca que o retorno do pronto atendimento já estava previsto no Plano de Capacidade Plena da Fhemig, a partir da melhoria dos índices da Covid e da decisão acertada com a Prefeitura.
Conforme a nota, foram realizados 12 editais para admissão de médicos para o Complexo de Especialidades do qual o hospital JK faz parte.
Além das contratações, foi necessário remanejar alguns médicos, de forma a completar a escala para o retorno do atendimento na porta. Ainda segundo a Fhemig, todos os médicos que estão sendo realocados para o setor têm plena capacidade para realizar os atendimentos na Unidade de Emergência do Júlia.