Ouvindo...

Tragédia na BR-423: ‘Sonho dela era ver o mar’, diz filho de vítima em relato emocionado

Sobrinho de Sirlene Alves também se emociona e revela drama: ‘Abalou toda a nossa família’

Maria Sueli sonhava em construir sua casa própria e conhecer o mar

“Agora que ela estava conquistando suas coisas, tinha acabado de comprar sua caminhonete, sua moto, ela falou comigo que as coisas iriam melhorar com essa viagem, com essas compras que ela fez. Falou que a gente ia viajar para a praia. O sonho dela era ver o mar. E o meu também”.

Essa são palavras de Manoel Simões, de 27 anos, filho de Maria Sueli Simões Nogueira, de 55 anos, moradora de São João das Missões, no Norte de Minas, uma das vítimas do grave acidente com um ônibus de turismo na BR-423, no Agreste de Pernambuco, que deixou 17 mortos e dezenas de feridos na noite da sexta-feira (17).

Manoel se emocionou ao falar dos sonhos da mãe e lamentou a falta que ela fará. “Eu me sinto muito mal, me sinto só. A gente só tinha um ao outro. Espero que Deus possa me guiar nesse mundo”, desabafou. “Era uma pessoa incrível, cheia de saúde, de energia. Eu brincava que ela parecia ter um motor ligado dentro dela. Não parava um minuto, trabalhava até de noite para ter as coisinhas dela”, continuou.

Em entrevista à Itatiaia, o jovem revelou que sua mãe era muito querida na cidade de pouco mais de 13 mil pessoas e que costumava ajudar a quem precisava.

“Ela era uma mulher tão sonhadora, tão incrível, tão boa. Uma pessoa honesta de verdade que ajudava mesmo, não só as pessoas de fora, mas também a família, era o nosso pilar”, contou Simões.

Maria Sueli construiu sua vida trabalhando em uma barraca

Manoel relatou que sua mãe trabalhou mais de dez anos vendendo roupas em uma barraca e que, após se mudar para São João das Missões, ela ficou um ano e sete meses trabalhando dessa forma, até alugar um ponto para ela comercializar seus produtos.

Manoel Simões e Maria Sueli Simões; jovem contou que mãe não gostava de tirar fotos

“Foi adquirindo suas coisinhas. Ela sempre falava que o pessoal da reserva indígena Xakriabá sempre a acolheu, comprou na mão dela, algumas pessoas aqui da cidade também. Depois ela saiu desse ponto que ela alugou, construiu a loja dela, que tem até hoje. Ela passou a vida todinha trabalhando lá dentro”, contou.

Segundo Simões, a mãe vinha realizando seus sonhos. Um deles era construir sua casa própria. A obra já havia se iniciado em cima da loja onde vendia seus produtos.

“Ela trabalhou a vida toda para ter suas coisinhas e infelizmente quando ela está tendo a oportunidade de viver acontece esse acidente trágico”, lamentou ele.

Ele apontou, ainda, que toda a cidade sentiu a perda de Maria Sueli. Porém, valorizou o legado deixado por sua mãe.

“O legado que ela deixou é um legado para a vida inteira. A população aqu está toda em choque. A minha cidade está praticamente morta. Você não vê movimento nenhum, nada mais”, completou.

Leia também

Sobrinho de Sirlene Alves relata família abalada

A Itatiaia também conversou com Daniel Muniz, sobrinho de Sirlene Alves de Jesus Souza, que morava no município de Manga, no Norte de Minas. O rapaz era muito próximo da mulher e funcionário de sua loja chamada “Bela Sempre Bela”.

Sirlene Alves era religiosa e muito querida em sua cidade

Muniz conta que Sirlene era muito querida na pequena cidade de quase 19 mil habitantes.

“A Sirlene sempre foi uma mulher guerreira e sonhadora. Manteve sua loja por mais de quinze anos, nutrindo uma paixão inabalável pelo seu negócio. Alegre, humilde e querida por seus clientes, todos estão em choque com tamanha fatalidade. Eu, como sobrinho e responsável pelo marketing da loja, fiquei extremamente abalado com a notícia que recebi no sábado pela manhã, a qual abalou toda a nossa família”, relatou ele.

Apesar do momento de luto, Daniel ressaltou o legado deixado por Sirlene e fez votos de gratidão a ela.

“Sabemos, porém, que ela deixou um legado de coragem, superação e amor. Seremos eternamente gratos a Deus pela sua vida. A Sirlene foi uma mulher cristã que levava a palavra de Deus por onde passava, e é assim que sempre vamos nos lembrar dela: alegre e de fé”, completou.

O acidente

Os passageiros do veículo saíram da cidade de Brumado, no Sudoeste da Bahia. O ônibus também levava passageiros do Norte de Minas Gerais. O objetivo da excursão era revender os produtos adquiridos no polo de confecções de Santa Cruz do Capibaribe.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o condutor perdeu o controle da direção, invadiu a contramão, colidiu em rochas e, ao tentar retornar ao sentido correto, bateu em um banco de areia, o que acarretou tombamento do ônibus. Alguns passageiros foram jogados para fora do veículo.

O motorista alegou às autoridades que o acidente foi causado por falha no sistema de freios. Segundo ele, o carro vinha em “velocidade normal”.

Os resgates contaram com 23 militares e cinco viaturas especializadas do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE), entre unidades de resgate, salvamento, combate a incêndio e apoio operacional.

Os mineiros mortos no acidente: Sirlene Alves de Jesus Souza; Luciene Augusta de Oliveira e José Aparecido de Oliveira Filho; Aldir Tintiliano Borges e Maria Adriana de Souza Borges; Maria da Glória Antunes Martins; Maria Sueli Simões Nogueira

Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.