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Traficantes picham muro de hospital negando vínculo com facções em BH: ‘Somos neutros’

A transferência de Rafael Bibiano, apontado como líder do ‘Beco do Fi” e membro do Comando Vermelho (CV), pode ter motivado ação, visto que membros da quadrilha querem se distanciar de facções

Pichação feita em um dos muros do Hospital Municipal Odilon Behrens

Traficantes do “Beco do Fi”, na Pedreira Prado Lopes (PPL), Região Noroeste de Belo Horizonte, picharam, durante a manhã desta sexta-feira (31), o muro do Hospital Metropolitano Odilon Behrens, localizado nas proximidades da comunidade, negando que mantenham vínculo com facções criminosas.

Em uma das pichações, estava escrito: “Nós do Beco não tem nada contra facção. Somos neutros”. (sic)

Na outra: “Nois do Beco do Fi respeitamos quem é faccionado po(...) somos de nenhuma facção, somos Fi”. (sic) Na parte que não aparece na imagem, imagina-se que escreveram “porque não”.

Em uma das pichações, os criminosos dizem ‘respeitar quem é faccionado’

O ato acontece após a publicação da matéria “Líder do tráfico na Pedreira, em BH, é levado para presídio federal de segurança máxima”, que relata a transferência de Rafael Michel Bibiano, conhecido como “Espaguete” — apontado pela inteligência da Segurança Pública como um dos principais líderes do tráfico de drogas da Pedreira Prado Lopes, na Região Noroeste de Belo Horizonte —, para o sistema penitenciário federal. A informação foi obtida com exclusividade pela Itatiaia.

Segundo a investigação, Bibiano é faccionado do Comando Vermelho (CV) — maior facção carioca e recentemente alvo da megaoperação “Contenção” — e possui número de batismo 17622, registrado em junho de 2022. Ele é apontado como líder do ''Beco do Fi’’, uma das principais quadrilhas da Pedreira Prado Lopes, que trava disputa com o grupo da ''Malokinha’’, também na comunidade.

A divulgação da informação pode ter motivado a ação, visto que os integrantes do “Beco do Fi” querem se distanciar de facções. Porém, como se pôde notar nas pichações, os criminosos afirmam “respeitar os faccionados”.

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Transferência de Bibiano

A decisão da transferência de Rafael Bibiano é do juiz federal Luiz Augusto Yamasaki, da 5ª Vara Federal Corregedora da Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), onde o detento permanecerá por pelo menos dois anos.

O sistema federal abriga criminosos de alta periculosidade, como chefes do tráfico e líderes de facções — casos de Fernandinho Beira-Mar, Marcola e Marcinho VP. Nesses presídios, o isolamento é rigoroso: os presos passam 22 horas por dia na cela e têm apenas duas horas de banho de sol.

Antes da transferência, ''Espaguete’’ estava preso no presídio de Muriaé (Zona da Mata), unidade que abriga majoritariamente integrantes do Comando Vermelho. De lá, foi levado para a PPP de Ribeirão das Neves (Grande BH), e depois para o presídio federal de Campo Grande (MT).

Guerra na PPL

A guerra entre as facções “Beco do Fi” e “Malokinha” provocou mortes recentes. O irmão de Espaguete, Richard Bibiano , o “Índio”, foi executado em 6 de outubro, em um posto de combustíveis na Avenida Tereza Cristina, no bairro Padre Eustáquio.

Já Nathan Kellerson de Souza, apontado como autor do crime e ligado à ''Boca da Malokinha’’, foi morto no último dia 22 de outubro, no bairro Sagrada Família, quando se dirigia à academia.

Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.
Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.