Mãe de alunas do 5º ano diz que PM aposentado tentou ficar sozinho com elas em sala

Suspeito teria chamado uma das garotas, com idades entre 10 e 11 anos, de ‘gostosinha’

Momento em que policial militar da reserva é conduzido à delegacia

A mãe de uma das meninas da turma do 5º ano da Escola Municipal Olímpia Maria da Glória, no bairro Jardim das Alterosas - 2ª Seção, em Betim, na Grande BH — que acusaram um policial militar da reserva, de 55 anos, de tê-las importunado sexualmente durante aplicação de prova, na quarta-feira (19) — afirmou, à Itatiaia, que o homem tentou manter as quatro garotas, com idades entre 10 e 11 anos, sozinhas com ele dentro da sala.

“Em um momento, ele tentou manter as quatro meninas do relato dentro da sala com ele sozinho. Porém, as meninas ficaram insistindo para descer e ele acabou permitindo a descida delas. Foi quando elas acionaram a direção, que acionou a Guarda Municipal”, contou a mãe de uma garota de 11 anos.

Segundo a mulher, o policial aposentado ainda teria apoiado seu órgão genital, mesmo sem o retirar, sobre a mesa em que estava quando as garotas foram até lá para pedir orientações sobre a prova. Além disso, ele teria ido até a mesa de sua filha e feito o mesmo, alegando que “não tinha explicado direito”, enquanto acariciava sua genitália.

‘Pode pegar, gostosinha’

Segundo a mãe da aluna, o homem impediu uma das garotas de pegar o telefone dela e a menina saiu da sala, voltando depois, para reaver o aparelho. Quando ela pediu o celular, o homem teria abaixado os óculos, olhado o corpo da garota, e dito: “Pode pegar, gostosinha”. A mulher afirmou que a situação desesperou as garotas.

“Ela saiu constrangida, minha filha escutou, sentiu o desespero, e disse que aquilo era grave demais. A menina de 10 anos sentiu medo. Ela chorava e falava com as meninas: ‘Eu tentei chamar, eu tentei chamar você para avisar, para pedir ajuda’. Elas relataram para outra menina que deu um incentivo e disse: ‘Vocês tem que falar’.

Inclusive, essa menorzinha se sentiu extremamente desesperada e falava: ‘Eu vou apanhar, eu vou apanhar’. E dizia para mim: ‘Tia, ninguém vai acreditar, nós somos crianças. Vai ficar por isso mesmo’. Já sentindo um medo”, contou.

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‘Mãe, por favor, acredita em mim’

A mulher afirmou que tomou todo o cuidado para que uma acusação injusta não fosse feita, chegando a pedir para a filha “comparar o homem com alguém que amava muito”, se ela gostaria que alguém assim fosse acusado de algo que não fez.

“Ela disse: ‘Mãe, por favor, acredita em mim’. Eu repetia, mesmo dizendo: ‘Eu acredito em você, eu não quero que você seja injusta. Se ele for preso, ele pode ser morto’. E ela chorando disse: ‘Mãe, por favor, acredita em mim’. Eu não acho que minha filha colocaria a vida da de uma pessoa em risco. Primeiro, porque ela é uma criança. Eu acho que só as palavras que usei já pressionavam para ela ver o tanto que seria grave mentir sobre isso, ela não continuaria afirmando algo assim tão grave (se não fosse verdade)”, explicou.

Em sua versão, o suspeito afirmou que não ficou acariciando seu órgão genital, mas sim, ajeitando uma cinta cirúrgica que usava. A mãe, porém, utilizou do pai da garota para comparar os gestos e a criança garantiu que não foram os mesmos.

“Chamei o meu esposo e disse para ele mostrar as formas de quando o homem se sentia desconfortável com a cueca embolada ou quando queria coçar, fazer alguma coisa do tipo, e pedi para ele reproduzir de diversas formas, para que ela comparasse, se o rapaz tivesse feito isso. E ela começou a chorar e disse: ‘Mãe, ele apertava, ele estava fazendo tipo carinho assim, olhando para mim. Estava apertando, soltando, e ele ficava na ponta do pé, colocando em cima da mesa’”, alegou.

Mãe questiona tratamento dado ao suspeito

A mulher questionou, ainda, o tratamento dado ao suspeito quando conduzido à delegacia. Segundo ela, as crianças saíram da escola expostas a outras crianças e pais, enquanto o homem saiu tranquilamente, cumprimentando os policiais.

“Se trata de um policial, o tratamento dele seria exclusivo mesmo, sentando no banquinho de trás da viatura, com seu aparelho celular em mãos. Saiu segurando na mão de todos os policiais, cumprimentando. Então, acredito que realmente não teria justiça, se repetiria. Não acredito também que seja a primeira vez que ele faça isso. Ele estava confortável demais para a situação”, apontou.

Importância da educação e comunicação

Por fim, a mulher reforçou a importância do diálogo e educação infantil, para que as crianças saibam identificar situações como essa.

“Eu dei uma boa criação para minha filha, eu ensino a respeitar as pessoas, mas que ninguém tire o que é direito dela, que ninguém passe dos limites com ela. Não é porque ela é para frente ou ousada que ela teve coragem de contar.

Foi porque ela teve uma boa criação, uma boa comunicação com os pais, coisa que outras crianças não tem oportunidade. Então, muitas vão sofrer com isso se não houver justiça, se não verem que um comportamento desse não é normal”, finalizou.

Entenda o caso

O policial militar aposentado é suspeito de importunar sexualmente alunas da turma do 5º ano, com idades entre 10 e 11 anos, da Escola Municipal Olímpia Maria da Glória, em Betim.

O suspeito não é professor, porém foi até o local aplicar uma prova do Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Educação Pública (Simave), avaliação obrigatória para alguns alunos do ensino público.

Durante a aplicação da prova, no turno da manhã, quatro alunas reclamaram do comportamento do homem.

As meninas afirmaram para seus pais e funcionários da escola que o policial aposentado passou a mão nas partes íntimas por cima da calça diversas vezes. Além disso, alegaram que ele se aproximava muito das meninas, chegando a encostar em uma delas, e que também olhava para elas de forma “maliciosa”, deixando-as desconfortáveis. O homem teria, ainda, utilizado expressões de teor obsceno ao chamá-las.

Recebidas as denúncias, a diretora da unidade de ensino acionou a Guarda Municipal e a Polícia Militar. As estudantes, acompanhadas de seus responsáveis, bem como o aplicador, foram conduzidos ao 66º Batalhão da PM, onde foi registrado o Boletim de Ocorrência.

Em seguida, todos foram encaminhados à 4ª Delegacia de Polícia Civil de Betim, para os devidos encaminhamentos legais. A direção da escola acompanhou todo o procedimento.

O suspeito negou as acusações. Ele foi ouvido e liberado.

O que fazer para denunciar abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes?

Quando há suspeita de violência sexual, é importante acionar uma das instituições que atuam na investigação, diagnóstico, enfrentamento e atendimento à vítima e suas famílias: Conselhos Tutelares, Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude (PJDIJ), 1ª Vara da Infância e da Juventude (1ª VIJ), Disque 100 ou 156.

  • Disque denúncia nacional de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes - Disque 100
Formado em jornalismo pela PUC Minas, foi produtor do Itatiaia Patrulha e hoje é repórter policial e de cidades na Itatiaia. Também passou pelo caderno de política e economia do Jornal Estado de Minas.
Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.

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