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Serra Pelada: conheça corrida do ouro que virou o maior garimpo a céu aberto do mundo

Serra Pelada atraiu milhares de trabalhadores e chegou a ser considerada como uma das maiores corridas pelo ouro da história moderna

Mineração foi progressivamente desativada, sendo oficialmente encerrada no início dos anos 1990. Hoje, o local abriga um grande lago

A Serra Pelada, descoberta no Pará em 1970, foi o cenário de uma das maiores corridas pelo ouro no mundo, chegando a ser considerada o maior garimpo a céu aberto. O local também foi o objeto de uma das fotos mais icônicas de Sebastião Salgado, que registra um imenso “formigueiro humano”.

Essa corrida pelo ouro começou em 1979, quando Genésio Ferreira da Silva, um fazendeiro que morava na região, encontrou uma pepita de ouro em suas terras. A notícia se espalhou rapidamente e logo atraiu uma multidão de trabalhadores de todo o Brasil. A serra remota na Amazônia virou uma cratera de aproximadamente 400 metros de diâmetro e 200 de profundidade, escavada com ferramentas manuais.

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Logo, o garimpo entrou no radar dos governantes da época. Sob o regime militar de João Figueiredo, o governo federal interveio, em 1980, para controlar a extração comercial do ouro. A área foi colocada sob a gestão do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e a segurança ficou a cargo da Polícia Federal.

A partir disso, o garimpo foi organizado em “barrancos”, lotes de terra de 2x3 metros que eram sorteados ou vendidos. Todo o ouro extraído deveria, por lei, ser vendido exclusivamente à Caixa Econômica Federal (CEF), que instalou um posto de compra no local. Estima-se que, oficialmente, a CEF tenha adquirido cerca de 30 a 40 toneladas de ouro de Serra Pelada. Porém, o contrabando era forte no local: muitos especialistas acreditam que a produção real pode ter superado as 100 toneladas.

Como era trabalhar na Serra Pelada

A rotina de trabalho na Serra Pelada era marcada pelo perigo e pela violência. Os homens carregavam sacos de terra com 40 quilos para fora da cava, e subiam escadas de madeira precárias, conhecidas como “adeus mamãe”. Além disso, os trabalhadores entravam em conflito constantemente, disputando por barrancos e ouro, causando grande número de mortes no local.

Nas cidades próximas, logo surgiu uma rede de prostituição e de bares. Isso porque a entrada de mulheres e de bebidas alcóolicas era proibida nas crateras. Nesse cenário, a riqueza recém-adquirida era rapidamente gasta.

Onde está o ouro da Serra Pelada?

Com o passar do tempo, o ouro de superfície foi se esgotando e os deslizamentos de terra se tornaram mais frequentes, tornando a exploração manual inviável. Em 1986, um grande deslizamento de terra soterrou parte da cava, e a mineração foi progressivamente desativada, sendo oficialmente encerrada no início dos anos 1990. Hoje, o local abriga um grande lago.

O metal comprado oficialmente pela Caixa Econômica Federal foi incorporado às reservas do Banco Central do Brasil, e é utilizado para fortalecer a economia nacional e auxiliar no pagamento da dívida externa do país. Já o ouro desviado pelo contrabando, estimado em um volume superior ao oficial, foi disperso no mercado negro internacional, tornando seu rastreamento impossível.

A maior parte da riqueza não permaneceu na região nem transformou a vida da maioria dos garimpeiros, que gastaram seus ganhos rapidamente ou foram vítimas de golpes e violência. A Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (COOMIGASP) ainda hoje luta por direitos de exploração mecanizada na área.

*Sob supervisão de Edu Oliveira

Paula Arantes é estudante de jornalismo e estagiária do jornalismo digital da Itatiaia.