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Vaqueirinho foi atendido pelo Conselho Tutelar de Mangabeira dos 10 aos 18 anos de idade. Ele era filho e neto de mãe e avós com diagnóstico de esquizofrenia, segundo Verônica.
“Eu nunca consegui ver você como as redes sociais te pintavam. Eu conheci a criança destituída do poder familiar da mãe, impedida de ser adotada como os outros quatro irmãos. Você só queria voltar a ser filho da sua mãe, que é esquizofrênica e não tinha condições de cuidado. Sua avó, também com transtornos mentais. Mas a sociedade, sem conhecer sua história, preferiu jogar você na jaula dos leões”, escreveu Verônica.
Em outra parte da publicação, Verônica contou que Gerson já chegou a cortar a cerca de um aeroporto e invadir a área de pouso. “Gerson, meu menino sem juízo. Quantas vezes, na sala do Conselho Tutelar, você dizia que ia pegar um avião para ir a um safári na África cuidar de leões. Você ainda tentou. E eu agradeci a Deus quando o aeroporto me avisou que você tinha cortado a cerca e entrado na área de pouso de um avião da Gol. Graças a Deus, observaram pelas câmeras antes que uma tragédia acontecesse”, escreveu ela.
A conselheira tutelar afirmou que o jovem não recebeu o tratamento que precisava. Ela acrescentou que, mesmo com o Conselho solicitando laudos de transtorno mental, o Estado dizia que ele tinha apenas um problema comportamental.
Problema antigo
O diretor da Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega (Presídio do Róger), Edmilson Alves, conhecido como Selva, também conviveu com o jovem e publicou um vídeo em suas redes sociais alertando sobre as condições psíquicas dele.
Selva contou que estava em Campina Grande, também na Paraíba, quando soube do caso. Ele ressaltou que, na semana anterior, havia comentado publicamente que o rapaz “precisava de ajuda” e que o local dele não era o presídio. Ele foi levado a um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), mas acabou fugindo.
Vaqueirinho tinha 16 passagens pela polícia: dez no presídio para menores e seis no presídio para maiores de idade. “Ele não conheceu outra vida senão a prisão. A gente chama de preso institucionalizado”, declarou. O jovem havia sido preso duas vezes em apenas uma hora: por danificar um caixa eletrônico e, depois, por arremessar uma pedra em uma viatura policial, em João Pessoa.
“O que ele queria de fato era voltar para o presídio, tanto que pegou uma pedra e jogou na viatura para provocar uma volta à delegacia porque, segundo ele, não queria mais ficar nas ruas”, contou.
O chefe de disciplina da unidade prisional, Ivison Lira, afirmou ainda que o jovem agia como “se tivesse cinco anos de idade”. Ele detalhou que o relacionamento com a vítima “era condicionado à troca, a bombons, ou algo do tipo, para que ele não se rebelasse”. Mas, segundo ele, “era fácil lidar, embora demandasse uma atenção maior”.
Relembre o caso
Vaqueirinho escalou uma parede de mais de seis metros para invadir o recinto de uma leoa, no Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica). Vídeos que circulam nas redes sociais registraram o momento em que ele escalava o muro da jaula onde a leoa estava.
As imagens mostram o rapaz andando por uma tela de proteção. Visitantes também filmaram “Vaqueirinho” descendo por uma árvore até o espaço onde estava a leoa, que o atacou pelas pernas.
Os vídeos também mostram “Vaqueirinho” tentando reagir ou se esquivar do animal antes de ser morto. Após o ataque, o parque foi fechado por tempo indeterminado.