Renata Coan Cudh, de 35 anos, denunciou em vídeo, nessa segunda-feira (9), a soltura do homem condenado por sequestrá-la, violentado e quase a matado por estrangulamento. A decisão judicial que liberou o homem foi tomada por uma juíza do judiciário cearense.
Renata relatou que o crime aconteceu no dia 19 de janeiro, quando ela pediu um carro de transporte por aplicativo para voltar para casa em Fortaleza, no Ceará. Durante a corrida, foi levada para um matagal, onde foi atacada. O agressor a imobilizou com um “mata-leão”, deixando-a inconsciente. Ao acordar, ela estava sendo estuprada enquanto era enforcada.
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“Me lembro de cada segundo em que o ar me faltava”, contou no vídeo. Ela disse que só sobreviveu graças à chegada de três policiais: “Foi Deus quem enviou três policiais que já estavam indo embora, no fim do turno, e conseguiram prendê-lo em flagrante.”
Após meses tentando esconder o trauma nas redes sociais, Renata decidiu falar publicamente ao saber que o réu havia sido solto. Mesmo condenado, a juíza determinou que ele respondesse em liberdade, por ser réu primário.
Condenação
“Mesmo com o depoimento de três policiais, testemunhas oculares, exame pericial, a confissão do agressor e toda a violência que eu sofri, ela julgou que ele poderia responder em liberdade”, desabafou Renata.
De acordo com o jornal Diário do Nordeste, Edilson Florêncio da Conceição foi condenado a 8 anos de prisão por estupro de vulnerável — já que a vítima estava alcoolizada — e mais dois meses por resistência à prisão. Ele foi detido em flagrante no dia 5 de junho, mas já estava preso desde janeiro. Segundo o alvará de soltura obtido pelo jornal, ele cumpriu 4 meses e 12 dias de prisão.
Mensagem para as mulheres
Para Renata, a decisão deixa uma mensagem perigosa a todas as mulheres: “O sistema está dizendo para as mulheres que forem violentadas amanhã, hoje, ou agora, que a palavra delas não basta, que nem mesmo uma confissão é suficiente, e que o agressor vai sair pela porta da frente.”
Ainda emocionada, ela afirma que perdeu o direito de sair de casa com tranquilidade: “Como posso ter paz sabendo que ele está solto nas ruas?”
Em um apelo comovente, Renata reforça que a violência contra a mulher é uma questão de toda a sociedade: “Faço esse vídeo expondo minha dor não só por mim, mas por todas as mulheres do mundo. Porque uma coisa eu sei: eu não fui a primeira e não seria a última. Se não fosse eu naquela noite, teria sido outra mulher. E talvez essa mulher não estaria aqui hoje para contar a história.”
Defesa motorista de app
A defesa de Edilson Florêncio, conduzida pela advogada Carolina Dantas Azin Rocha, afirmou ao G1 que, embora o crime seja classificado como hediondo, a fixação da pena deve respeitar os princípios constitucionais da legalidade.
“Essa decisão não representa absolvição nem impunidade, mas o estrito cumprimento da legislação brasileira. Trata-se do respeito ao devido processo legal, com possibilidade de reexame pelas instâncias superiores, conforme previsto no ordenamento jurídico. A defesa continuará atuando com ética, responsabilidade e respeito à dor da vítima, reafirmando que a verdadeira justiça deve ser feita com base na lei, e não movida por reações emocionais ou pressões sociais”, afirmou a advogada em nota.
Apoio político
A vice-governadora do Ceará, Jade Romero, também se manifestou sobre a decisão judicial que liberou Edilson, lutador de MMA e motorista de aplicativo, condenado pelo estupro. “A dor da Renata é de todas nós, mulheres. Mas deve ser também a dor de toda uma sociedade que, diariamente, vivencia a impunidade da violência de gênero”, escreveu Jade Romero.
O Tribunal de Justiça de Ceará (TJCE), por meio de nota, informou ''que o réu foi condenado, em primeira instância, pelos crimes de estupro e resistência à prisão. Em razão da pena aplicada, foi fixado, conforme critério legal, o regime inicial semiaberto para cumprimento da condenação, sendo-lhe reconhecido, em razão da primariedade e ausência de maus antecedentes, o direito de recorrer em liberdade.’'