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Erro de grafia leva eletricista a ser preso injustamente por estupro

Em nota, o Ministério Público do Estado da Bahia apresentou parecer à Justiça, manifestando-se pela revogação da prisão preventiva

A defesa da família de Jabson reuniu as provas e entrou com um pedido de soltura na Justiça da Bahia.

O eletricista autônomo Jabson Andrade da Silva, de 56 anos, ficou mais de uma semana preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, acusado de estupro por conta de um erro ortográfico.

Jabson nasceu em Araci, Bahia, mas mora no Grajaú, zona sul da capital paulista. Casado e com duas filhas, ele não tem passagem pela polícia. Contudo, uma pequena diferença na grafia do seu nome o levou a ser procurado pela Justiça e ficar preso entre 7 e 15 de julho.

O erro ocorreu pois quando o estupro foi denunciado na delegacia de Ubatã, na Bahia, o nome citado no inquérito policial foi Jabson, sem a letra “i”. A falha persistiu até o mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça.

Ele foi confundido com Jabison Andrade da Silva, que foi denunciado pela ex-companheira por estuprar a enteada entre os anos de 2008 e 2015 em Ubatã, na Bahia.

Após a denúncia equivocada, Jabson, sem “i”, foi preso em São Paulo.

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Em entrevista ao G1, o eletricista contou que estava em casa com a esposa quando policiais deram o mandado de prisão, parte de uma operação que prendeu quase mil foragidos da Justiça.

“Era por volta de 10h, e os policiais foram à minha casa. Perguntaram se eu tinha passagem pela polícia, e eu disse que não. Aí ele disse: ‘Olha, estou aqui com um mandado de prisão que vem do estado da Bahia. A acusação de um crime gravíssimo, coisa séria’. Aí perguntei o que era e me disseram que era estupro de vulnerável. Falei que não havia feito nada e que minha consciência estava limpa. Nisso, minha mulher já começou a passar mal”, contou.

Na entrevista, ele conta que foi levado para um distrito policial e chegou a informar que deveria haver algum erro, que não era ele que estavam procurando.

“Me levaram para um DP, depois para outra delegacia e pegaram meus documentos, dados. O investigador disse que aparecia mais crimes no meu nome, e eu falei que nunca tive passagem pela polícia. Na primeira delegacia que me levaram, eu consegui falar com minha esposa para acionar meu compadre para ver um advogado.”

No dia seguinte, Jabson foi encaminhado para o Fórum da Barra Funda, onde passou por uma audiência de custódia. Na sequência, ele ficou em uma cela no CDP Pinheiros. O eletricista conta ainda que sofreu com a hostilidade por parte dos agentes penais.

“Quando cheguei, eles raspam a cabeça e me fizeram colocar a mão numa grade. Um policial penal gritou comigo: ‘Recolhe a mão, seu arrombado’. É assim o tratamento lá dentro. Te tratam muito mal. Você não pode responder nada. É enlouquecedor. Tem pessoas que surtam lá dentro. Eu falava que era inocente, mas diziam que todos falam isso”, ressaltou.

Jabson conta que tentou se manter calmo no período em que esteve detido, pois sabia que era inocente. Ele foi solto na última terça-feira (15), após a prisão preventiva ser revogada.

Em nota, o Ministério Público do Estado da Bahia apresentou parecer à Justiça, na última sexta-feira (11), manifestando-se pela revogação da prisão preventiva de Jabson Andrade da Silva.

No documento, o MPBA registra que, após detida análise dos autos e da petição apresentada pela defesa, constatou-se “a existência de indícios de possível equívoco na qualificação do custodiado, apontando possível homonímia entre ele e o real autor dos fatos”.

Ainda não há informações sobre a prisão de Jabison Andrade da Silva, com “i”, denunciado em Ubatã, na Bahia.

Mestrando em Comunicação Social na UFMG, é graduado em Jornalismo pela mesma Universidade. Na Itatiaia, é repórter de Cidades, Brasil e Mundo