O juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis, que
O magistrado se apresentava como Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield por mais de 40 anos.
Juiz com identidade dupla há 40 anos está ‘sumido’ há quatro meses Edward, Lancelot e outros: de onde juiz tirou os nomes de sua falsa identidade Juiz que tinha identidade dupla tinha ‘leve sotaque britânico’, dizem testemunhas
A farsa só foi descoberta após José Eduardo solicitar a segunda via da identidade em nome de Edward Wickfield. O sistema acusou que haviam duas identidades, com nomes diferentes, com a mesma impressão digital.
Em abril deste ano, o Ministério Público denunciou a farsa do juiz à Justiça. Na última sexta-feira (5), o poder judiciário tornou José Eduardo réu e ainda suspendeu os pagamentos da aposentadoria do magistrado.
Conforme o Portal da Transparência, entre a descoberta da farsa e a suspensão dos pagamentos, José Eduardo recebeu uma quantia líquida (com os impostos já descontados) de R$ 553.826,23. O mês de maior valor foi dezembro de 2024.
Veja os detalhes abaixo:
- Novembro de 2024: R$ 87.032,66
- Dezembro de 2024: R$ 187.427,28
- Janeiro de 2025: R$ 136.075,74
- Fevereiro de 2025: R$ 143.290,55
Como foi a descoberta
José Eduardo foi descoberto ao ir ao Poupatempo da Sé, na região Central de São Paulo, para solicitar segunda via da carteira de identidade. Isso foi em outubro do ano passado. Quando foi colhida a biometria, os agentes descobriram que as digitais dele - que, até então, se identificada como Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield - eram as mesmas de José Eduardo Franco dos Reis.
Conforme a denúncia do MP, com a inconsistência dos dados, o caso passou a ser investigado pela Delegacia de Polícia de Combate a Crimes de Fraude Documental e Biometria.
Os agentes descobriram, então, que havia documentos no nome de José Eduardo e da persona fictícia Edward Wickfield, criada por ele. Além de documentos, como duas carteiras de identidade, também havia dois CPFs e dois títulos de eleitor ligados ao juiz.
Segundo o MPSP, por razões ainda desconhecidas, em 1980, José Eduardo Franco dos Reis criou a persona de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, dizendo ser filho de Richard Lancelot Canterbury Caterham Wickfield e Anna Marie Dubois Vincent Wickfield, descendentes de nobres britânicos.
No entanto, o juiz é natural da cidade de Águas da Prata, no interior paulista, e é filho de Vitalina Franco dos Reis e José dos Reis. Apesar de ter criado uma segunda identidade, José Eduardo nunca abandonou a verdadeira e, em 1993, apresentou-se com sua real certidão de nascimento para registrar-se como vendedor, alegando ter apenas o primeiro grau concluído.
Com a identidade de Edward Wickfield, José Eduardo entrou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), onde se formou em 1992, e passou no concurso de Juiz de Direito em 1995. Ele exerceu a magistratura até 2018, quando se aposentou.