Ouvindo...

Influencer que prepara corpos para velórios desvenda mitos da profissão: ‘Carinho e cuidado com mortos’

Carina Mattei, de 23 anos, trabalha preparando corpos para velórios e usa as redes sociais para desmistificar preconceitos sobre a profissão

Carina Mattei, de 23 anos, tem repercutido nas redes sociais ao conscientizar e informar as pessoas sobre a tanatopraxia

Já dizia a autora Ana Cláudia Quintana Arantes, a morte é um dia que vale a pena viver. Seja no momento que antecede a partida dos entes queridos, seja após a morte deles, as pessoas esperam que eles sejam tratados com carinho e respeito. E é exatamente isso que a jovem Carina Mattei, conhecida como Egocarina na web, faz e compartilha nas redes sociais. Ela é tanatopraxista e cuida de corpos mortos e os prepara para velório e enterros.

Clique aqui e veja vídeo sobre ela.

A jovem de 23 anos tem repercutido nas redes sociais ao conscientizar e informar as pessoas sobre a tanatopraxia — manejo e cuidado de corpos de pessoas mortas que antecede as cerimônias de despedida. Com a voz meiga, ritmo constante e vocabulário fácil, ela responde todas as perguntas dos seguidores com muita paciência, trazendo luz a assuntos delicados e que, muitas vezes, são repletos de mitos e preconceitos.

À Itatiaia, Mattei explica que a tanatopraxia é uma higienização do cadáver de dentro para fora. O procedimento é importante para evitar a contaminação das pessoas que terão contato com o corpo no enterro. Para ela, além de necessária para biossegurança, essa prática é também uma forma de os familiares, já sensibilizados pela perda, cuidarem do ente querido e terem uma despedida mais tranquila. Isso porque, após o processo, parte dos aspectos cadavéricos é amenizada.

Leia também

“A morte traz consigo suas características físicas e, depois do falecimento, o corpo muda muito. Então, muitas vezes, um corpo que não passa por uma tanatopraxia terá características da morte muito presentes, o que é chocante para a família. Lembrar daquela pessoa de quem tinham uma imagem quando era vivo, ir ao velório — que já é uma coisa muito triste - e ver aquela pessoa com uma fisionomia completamente diferente do que conhece”, pontua.

O trabalho de Mattei, que remete a tantos pontos sensíveis para as pessoas, não é simples e, por mais que ela seja profissional, há casos que a deixam sensibilizada. “Tem situações que não tem jeito, e a gente se identifica e se sensibiliza. Normalmente, casos de suicídio me deixam pensativa. [...] A primeira criança que eu preparei, eu lembro que chorei muito enquanto preparava, porque me lembrei do meu irmão e porque, quando a gente vê uma criança morta, é inevitável olhar para ela e a maginar viva, correndo e brincando. Nesse caso dá uma tristeza muito grande”, comenta.

Preconceito

No Brasil, a morte é um assunto repleto de tabus e, mesmo sendo extremamente necessário, o trabalho exercido por Mattei é visto com preconceito por muitas pessoas. “Elas não querem ouvir sobre morte e é da nossa cultura esconder a todo custo. As pessoas têm esse preconceito com a morte e de acharem o meu trabalho nojento. Já ouvi muito de pessoas que elas tem nojo do meu trabalho, que têm nojo de mim”, diz.

Mattei afirma que já, inclusive, teve a sua profissão associada à psicopatia. “Se tem uma coisa que eu não sou é psicopata. Não sou fria ou insensível. Na verdade, eu tenho muita empatia”, pontua."Não consigo entender como as pessoas sempre que veem mortos na rua tiram fotos, fazem vídeos e compartilham nas redes sociais, mas, ao mesmo tempo, se sentem no direito de repudiarem o meu trabalho”, desabafa.

Como ela escolheu a profissão?

Desde pequena, Mattei se interessava por temas mais sombrios, como filmes do Tim Burton e as bonecas ‘Monster High’. Contudo, o que não passava de um estilo mais ‘gótico’ se transformou quando Mattei perdeu o pai aos 15 anos. No enterro, ao vê-lo com uma expressão pacífica e tranquila, a adolescente começou a se interessar sobre os processos que foram feitos nele para que estivesse daquela forma. “Eu vi que ele estava diferente, eu percebi que tinha algo diferente. Então, acabei entendendo que ele estava assim graças a uma preparação e comecei a pesquisar sobre essa profissão”, relembrou.

Mitos x verdades sobre tanatopraxia

Justamente porque as pessoas não costumam falar sobre a morte, existem muitos mitos que envolvem o procedimento de tanatopraxia. Um deles é a ideia de que os profissionais quebram os ossos dos corpos para que eles caibam no caixão. A prática é proibida por lei. “A gente não quebra nenhum osso. Na verdade, quebrar partes do cadáver é crime. Muita gente pensa que, quando a pessoa é muito alta, quebramos as pernas para caber no caixão. Não quebramos, o que a gente pode fazer é apenas dobrar um pouco as pernas daquele falecido”, explica. “Caso mesmo flexionando os joelhos, ele ainda não caiba naquela urna, então pedimos que a urna seja trocada”, esclarece.

Conheça mais sobre o trabalho da jovem em @egocarina no Instagram e no TikTok.


Participe dos canais da Itatiaia:

Ana Luisa Sales é jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia desde 2022, já passou por empresas como ArcelorMittal e Record TV Minas. Atualmente, escreve para as editorias de cidades, saúde e entretenimento