Ouvindo...

Cólera volta após 18 anos: entenda por que não há vacina disponível no Brasil

Imunizantes são reservados para países onde há um grande número de infectados; dados preliminares da OMS indicam que houve 700 mil casos da doença em todo o mundo em 2023

Atualmente, 31 países reportam casos de cólera e região africana é a mais afetada

O Brasil registrou o primeiro caso de cólera autóctone (que teve origem no local onde ocorreu o diagnóstico) nesta semana. O paciente é um homem de 60 anos, que mora em Salvador, na Bahia, e não viajou ou teve contato com pessoas vindas de países com casos confirmados. A doença havia sido registrada pela última vez no Brasil em 2005.

A cólera é transmitida por água ou alimentos contaminados e pode ser letal. A doença é caracterizada por episódios de diarreia e vômito, que podem ser intensos, causando uma grave desidratação do infectado. A prevenção está relacionada ao saneamento básico, a uma boa higienização dos alimentos e ao consumo de água tratada.

Vacina não está disponível no Brasil

A vacina contra a cólera também é uma importante forma de prevenção da doença. Porém, os imunizantes não estão disponíveis em todos os países. Eles são reservados para as localidades onde há um grande número de contaminados.

“A vacina é muito eficaz. Ela tem uma ação em torno de 80% a 85% de proteção. Só que é uma vacina em que o efeito diminui muito ao longo do tempo. Então, ela requer uma vacinação frequente, até com períodos mais curtos. Por isso, atualmente é uma vacina indicada para populações onde há um surto de cólera, ou regiões com casos endêmicos e frequentes. Ela não é uma vacina aplicada de rotina em locais onde não tem casos significativos aí da doença”, explica o infectologista Cristiano Galvão, da Oncoclínicas.

Leia também

Apesar da cólera ter voltado a ser registrada no Brasil, não há risco iminente de surto. Por isso, ainda não há vacinas no país.

"[A confirmação] gera uma preocupação porque a gente já estava há um tempo sem ter casos de cólera confirmados. Com esse primeiro caso, realmente acende o alerta para focarmos na questão do saneamento básico. Mas é muito precoce falar em risco de surto. Isso serve para a gente ficar atento e tentar identificar como aconteceu a contaminação para impedir que a doença se alastre”, afirma.

OMS aprova imunizante oral

Na última sexta-feira (19), a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou a versão oral do imunizante. Segundo a OMS, a vacina Euvichol-S é uma fórmula simplificada da Euvichol-Plus, com menos compostos, o que deve permitir o aumento da sua produção. O composto é produzido pelo grupo sul-coreano EuBiologics e tem eficácia semelhante à das formulações mais complexas.

“A nova vacina é o terceiro produto da mesma família de vacinas que temos para a cólera em nossa lista de pré-qualificação da OMS”, disse Rogério Gaspar, diretor do departamento de regulação da agência de saúde da ONU.

Segundo a OMS, houve uma explosão dos casos de cólera nos últimos anos em todo o mundo. Em 2022, a organização registrou 473 mil, o dobro de 2021. Segundo dados preliminares, houve 700 mil casos em 2023. Atualmente, 31 países reportam casos de cólera e a região africana é a mais afetada.

O recente aumento da demanda por vacinas causou uma escassez do produto. Para combater a doença, a OMS passou a recomendar uma dose da vacina, ao invés de duas.


Participe dos canais da Itatiaia:

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.