A OMS divulgou uma nova diretriz, surpreendendo as sociedades médicas - especialmente pediátricas. De acordo com recente publicação, o órgão avaliza que crianças de 6 a 11 meses de vida que não são amamentadas no peito sejam alimentadas tanto com fórmulas infantis quanto com leite de vaca.
A recomendação difere das anteriores, assim como das recomendações de sociedades médicas, que orientam apenas fórmulas para essa faixa etária.
A partir de agora estão liberados pela OMS os seguintes produtos lácteos para crianças de 6 a 11 meses: leite integral pasteurizado, leite reconstituído evaporado (mas não condensado) leite fermentado ou iogurte natural.
OMS ressalta que os dois primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento do bebê
No documento, a OMS cita esses estudos, mas conclui que alimentar as crianças com leite de vaca integral pasteurizado é uma “escolha segura”, assim como o uso de fórmula. Já a partir de um ano de idade, as fórmulas ou compostos lácteos não devem ser utilizados, apenas o leite de origem animal.
A OMS ressalta que os primeiros dois anos de vida são cruciais para o desenvolvimento do bebê, tanto físico quanto cognitivo.A inadequação nutricional na infância pode levar à desnutrição, que é composta tanto por subnutrição (retardo de crescimento e emaciação) como por supernutrição (sobrepeso e obesidade).
Evidências mostram que a associação da má ingestão alimentar durante a infância aumenta o risco de morbidades, mortalidade, neurodesenvolvimento prejudicado e resultados tardios no desenvolvimento a curto prazo, além de prejudicar o desempenho intelectual, a capacidade de trabalho, aumento do risco de problemas reprodutivos, problemas cardiovasculares e distúrbios autoimunes no longo prazo.
Veja outras recomendações do novo documento:
- Amamentar até pelo menos os dois anos de idade;
- Iniciar a introdução de alimentos complementares a partir dos seis meses de idade - salvo exceções, que podem se beneficiar de um início mais precoce;
- Garantir uma dieta diversificada para crianças de 6 a 23 meses;
- Evitar que crianças de 6 a 23 meses comam alimentos ricos em açúcar, sal, gorduras trans, adoçantes e bebidas açucaradas;
- Limitar o consumo de suco de fruta natural;
- Suplementos nutricionais e alimentos fortificados podem ser indicado para crianças dessa faixa etária;
- Estimular a alimentação responsiva das crianças.
Ministério da Saúde se posicionou em 2019
A recomendação não difere muito, no entanto, do que Ministério da Saúde já dizia em 2019 em seu “Guia Alimentar para Crianças brasileiras menores de 2 anos”.
“O leite de vaca podem ser utilizado como ingredientes em receitas feitas em casa, desde os 6 meses de idade”, previa a pasta.
Apesar da recomendação nacional, o Ministério da Saúde ressalta que se a criança ainda toma o leite materno não é necessário substitui-lo pelo leite de vaca ou pela fórmula.
Pediatra destrincha nova diretriz
A pediatra e nutróloga Lígia Klein, de Belo Horizonte, contou à Itatiaia que participou de discussões “muito interessantes” numa comunidade de estudo de Nutrologia Pediátrica da qual faz parte.
“Tivemos uma aula com a Dra. Denise Brasileiro e com o Dr. André Laranjeira logo que saiu a diretriz. O documento da OMS foi destrinchado por eles, que estão habituados a interpretar publicações científicas e eles ressaltaram que a OMS, antes de divulgar uma diretriz, faz vários estudos. É uma instituição renomada que fala para o mundo inteiro, países pobres e ricos. Então ela tem que ter muito cuidado, muito rigor ao recomendar ou não recomendar alguma coisa sob o risco de causar problemas até de outras ordens como políticos e sociais”, explicou Lígia.
No caso desse estudo, eles compararam as fórmulas com o leite de vaca, usando parâmetros de desenvolvimento das crianças, como peso e altura e comprovaram que não faz diferença usar um ou outro alimento. Apesar disso, de acordo com Lígia, não é correto dizer que a OMS recomenda o leite de vaca e sim que ela não contraindica.
Mesmo assim, as Sociedades de Pediatria recomendam que, entre seis meses e um ano, se dê preferência para as fórmulas. Por quê? “É que a gente considera também a questão do ferro, da anemia, da microbiota intestinal, do neurodesenvolvimento e as fórmulas têm uma composição mais parecida com o leite materno. Então, vamos deixar claro: o ideal é o leite materno, não se cogita usar o leite de vaca se existe a possibilidade do aleitamento materno”.
A partir de um ano, a gente orienta que não é proibido dar leite de vaca, desde que a criança tenha uma alimentação complementar saudável. E isso está bem especificado no documento. Que pra se usar o leite de vaca é preciso que a criança esteja recebendo o aporte adequado de outros nutrientes” .