Uma ferramenta inovadora promete intensificar o controle de verminoses em
Desenvolvida em parceria entre Embrapa e Universidade Federal do Ceará (UFC), a ferramenta auxilia o produtor a identificar quais animais realmente necessitam de vermifugação. A tecnologia analisa imagens da mucosa ocular do animal, captadas pela câmera do celular, e identifica se ele está com grau avançado de anemia, um dos principais sintomas de infecção parasitária.
Inteligência artificial identifica anemia nos animais
Segundo o pesquisador Marcel Teixeira, da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE), e membro da equipe que desenvolveu o aplicativo, o StopVerme opera de forma semelhante à técnica tradicional de exame da coloração da mucosa ocular por meio do cartão Famacha. A diferença está, especialmente, no uso de inteligência artificial para análise das imagens e potencial para resolver dois problemas: a baixa disponibilidade desse cartão no Brasil e possíveis erros de leitura da mucosa causados pela subjetividade do manejador.
“Buscamos minimizar, com o aplicativo, a questão da subjetividade do olho humano. A inteligência artificial tem a vantagem de aprender com novos dados. Com isso, a cada captura de imagem, ela vai se aperfeiçoando. A gente espera que a acurácia e a sensibilidade do método sejam, com o tempo, melhoradas. E ele estará disponível com instruções, tutoriais, informações para facilitar seu uso”, destacou o pesquisador.
Para Teixeira, o aplicativo pode, ainda, colaborar, de forma mais efetiva, com a seleção dos animais que realmente necessitam de vermifugação. Isso deve evitar a prática, ainda comum, de aplicação indiscriminada desses medicamentos em todo o rebanho, o que pode, no longo prazo, favorecer a resistência dos parasitas aos vermífugos disponíveis no mercado. “O nosso objetivo no desenvolvimento da ferramenta é massificar um controle seletivo, reduzir o uso das drogas no tratamento e evitar esses problemas com resistência”, contou o cientista.
O pesquisador da Embrapa Selmo Alves, que também integrou a equipe do StopVerme, ressalta que essa primeira versão contou com estratégias para garantir boa acurácia, como a comparação das leituras de mucosa realizadas com exames de sangue dos mesmos animais. Com isso, foi possível verificar se os graus de anemia eram, de fato, compatíveis.
Testes realizados em campo
Também foi observado o envolvimento de extensionistas e agricultores nos testes preliminares do manuseio do aplicativo. “Na última fase, estivemos em 65 propriedades, incluindo animais de diferentes raças ovinas, como Somalis, Santa Inês e mestiços, incluindo em torno de 35 a 40 técnicos, além de alguns produtores na atividade. Essas pessoas testaram o aplicativo e o consideraram de uma aplicabilidade e facilidade muito grande”, destacou Alves.
Uma dessas usuárias dos testes preliminares foi Helena Oliveira, médica-veterinária da Secretaria de Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Uruoca (CE), que confirmou a percepção de facilidade de acesso às funcionalidades do StopVerme. “A impressão que tive é de que o aplicativo é extremamente fácil de utilizar, tanto para os técnicos quanto para os produtores. Sua proposta é ser simples e prático, com uma interface que facilita a compreensão, até mesmo para aqueles que não possuem familiaridade com a leitura”, avaliou ela.
Integração com manejo e políticas públicas
Os pesquisadores da Embrapa destacam também o potencial da ferramenta em contribuir com outras estratégias de manejo para controle de verminose e para o fornecimento de informações como insumos de políticas públicas para sanidade dos rebanhos no Brasil.
Teixeira conta que esse trabalho seletivo para vermifugação é uma etapa do controle integrado de verminose, que envolve uma série de outras medidas de manejo em uma estratégia mais ampla.
“O aplicativo é uma ferramenta a mais, mas, quando a gente se baseia na anemia, estamos falando de um único verme que causa o problema, o Haemonchus contortus, e isso não exclui a necessidade de um técnico avaliar a possibilidade de outros vermes estarem atacando este animal. Às vezes o animal está com uma mucosa de boa coloração, mas está com diarreia ou perdendo peso”, ponderou o pesquisador da Embrapa. “Em todo caso, achamos que o aplicativo vai ter alto impacto, porque 90% da carga parasitária nos animais, normalmente se trata do Haemonchus, ele é nosso principal problema”, esclareceu.
Segundo o pesquisador, algumas das funcionalidades permitirão dados úteis para pesquisas e, possivelmente, para estratégias que podem integrar as políticas sanitárias. “Poderemos mapear o uso do aplicativo e saber em quais locais estamos encontrando maiores níveis de anemia, onde estes animais estão recebendo mais vermífugos, quais vermífugos são utilizados. São dados que podem servir para planejamentos futuros e novas políticas públicas”, acrescentou Teixeira. “O aplicativo poderá ser uma ferramenta dentro de um plano sanitário de controle em que outras doenças infecciosas também podem estar presentes”, endossou Selmo Alves.