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Cigarrinha-das-raízes ameaça cana-de-açúcar com prejuízos para agricultores e indústria

Inseto sugador de cana está associado à transmissão da escaldadura das folhas

As projeções indicam um processamento de 612 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2025/26 do Centro-Sul do Brasil, segundo dados divulgados pela DATAGRO. No entanto, esse volume representa uma queda de 1,4% em relação à safra anterior.

A baixa é reflexo dos impactos causados por incêndios e condições climáticas adversas. Além disso, a presença da cigarrinha-das-raízes e sua ligação com a escaldadura das folhas (doença bacteriana) também representam riscos adicionais para os canaviais, podendo comprometer ainda mais a produtividade no próximo ciclo.

A cigarrinha‐das-raízes, Mahanarva fimbriolata, é um inseto sugador de grande importância na cultura da cana-de-açúcar e atualmente figura como uma das principais pragas do setor. A sua incidência nos canaviais aumentou a partir da adoção da colheita da cana crua, no final da década de 1990.

Especialistas alertam para a necessidade de um controle eficiente a fim de evitar prejuízos expressivos ao setor sucroenergético. Segundo a pesquisadora científica do Centro de Cana do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Leila Luci Dinardo-Miranda, apesar da redução recente das populações devido a períodos mais secos, a praga não deve ser negligenciada, ainda mais porque a cigarrinha-das-raízes continua sendo relevante nos canaviais em razão das condições favoráveis proporcionadas pelo manejo da cana.

“A colheita mecanizada de cana crua deixa a palha no solo, mantendo umidade, o que favorece a incidência do inseto. Além disso, algumas variedades de cana são mais suscetíveis à praga”, explica Leila.

Danos da cigarrinha vão além do campo

Os insetos atacam as raízes e os adultos se alimentam das folhas, injetando toxinas na planta, o que leva ao amarelecimento e seca das folhas. Em variedades suscetíveis, o colmo - tipo de caule - pode secar completamente, reduzindo o teor de açúcar, aumentando a fibra e dificultando a extração industrial.

Além disso, quando os colmos começas a secar, formam microfissuras que facilitam a entrada de fungos e bactérias, podendo causar também a podridão vermelha. Isso gera problemas na indústria, como a contaminação dos processos durante a extração do açúcar.

O engenheiro agrônomo e gerente de Marketing Regional da IHARA, Marcos Vilhena, reforça o impacto econômico do inseto. “O controle inadequado pode gerar uma queda de 30% do TCH por hectare, podendo chegar até 50%. Em regiões como Ribeirão Preto, onde a produtividade é mais alta, em torno de 130 toneladas por hectare, o prejuízo pode ser bem significativo. Essa porcentagem de quebra e o preço da tonelada da cana em torno de R$ 150,00 significam uma perda financeira de R$ 4.500 por hectare”, alerta.

Escaldadura das folhas

A escaldadura das folhas, causada pela bactéria Xanthomonas albilineans, compromete a absorção de água e nutrientes pela planta. Embora conhecida desde 1940, a doença ganhou destaque com a mecanização da colheita, que pode facilitar a sua disseminação entre as plantas.

Estudos recentes do IAC confirmam que a cigarrinha-das-raízes atua como vetor da doença, tornando ainda mais essencial a necessidade de controle desse inseto. Essa descoberta reforça a importância do uso de mudas sadias e de boas práticas de manejo para evitar a propagação da doença, pois ela também afeta a produtividade de forma significativa.

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Desafios e soluções

O avanço da cigarrinha das raízes e sua relação com a escaldadura das folhas impõem novos desafios ao setor sucroenergético. No entanto, com estratégias de manejo adequadas, investindo na qualidade das mudas e no uso de tecnologias modernas, é possível minimizar os impactos e garantir a produtividade dos canaviais.

Um dos pontos mais relevantes no manejo é a rotação de ingredientes ativos para evitar a seleção de insetos resistentes. “Se um inseticida é usado repetidamente, os insetos resistentes sobrevivem e se multiplicam. Por isso, a IHARA busca desenvolver produtos com múltiplos ingredientes ativos para reduzir esse risco e que possam ser integrados a um programa de rotação de inseticidas. Produtos como o Maxsan, que combinam moléculas e diferentes modos de ação, e que agem sobre os ovos, são essenciais para o controle eficaz e para a saúde do canavial. Isso ajuda a diminuir a população não apenas no ciclo atual, mas também no próximo”, afirma Vilhena.

Segundo o engenheiro agrônomo e gerente de Marketing Regional, a IHARA está pesquisando novas soluções para contribuir com os canavieiros. “Na linha de inseticidas, entre 2025 e 2026 serão lançados dois produtos e, mais recentemente, foi disponibilizado o Terminus para o controle da Cigarrinha, com registro de aplicação aérea, quando a cultura está mais desenvolvida e com corte da cana mais alto. Além dessas tecnologias, o Zeus obteve registro de bula para o controle do Sphenophorus levis, também conhecido como Bicudo da cana-de-açúcar, causador de danos significativos no canavial. Essa solução tem apresentado ótimos resultados no campo”, complementa Vilhena.

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde
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