Depois do sucesso do própolis, os cientistas têm estudado, cada vez mais, os benefícios do pólen apícola. O professor Décio Luiz Gazzoni, que é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciências, explica que o pólen é o gametófito masculino produzido pelas anteras (órgãos masculinos das flores), como as angiospermas e gimnospermas. Segundo ele, para transportar o pólen que retira das flores, as abelhas o acumulam em um depósito, localizado nas patas traseiras, chamado de corbícula. Para elas, o pólen é uma fonte de proteínas indispensável, fornecendo lipídios, vitaminas, carboidratos e sais minerais.
Qual é a diferença entre o pólen das flores e o apícola?
A grande diferença está no processo de enriquecimento que essa substância passa ao ser coletada pelas abelhas. Esses insetos secretam sua saliva nos pequenos grãos coletados em cada flor, quebrando sua estrutura e adicionando substâncias essenciais.
Assim, a saliva das abelhas acrescenta um complexo de enzimas e aglutina os pequenos grãos florais em bolotas maiores do pólen apícola natural. Quando o inseto chega à colmeia adaptada, ela passa por pequenos furos para chegar ao seu interior, mas parte do pólen apícola preso ao seu corpo fica na armadilha.
É essencial que esse processo de coleta não retire todo o pólen apícola produzido pelas abelhas, considerando sua importância para o desenvolvimento e a saúde da colmeia. Esse também é o principal motivo para que o alimento não seja tão abundante no mercado.
Abelha transportando pólen na curbícula.
Uso da substância é milenar
De acordo com o professor, o pólen apícola é utilizado como alimento ou medicamento, há milênios havendo registros de seu consumo pelas civilizações romana, grega e egípcia. Gazzoni conta que textos médicos do século XII descrevem pessoas que usavam pólen de abelha como sedativo e afrodisíaco. Também foi usado para doenças estomacais e cardíacas.
Benefícios vão da redução dos sintomas da Covid à prevenção do câncer
Mas afinal, o que temos a ganhar se adicionarmos a substância na nossa bebida matinal ou salada? Muito. Existem diversos estudos recentes que comprovam os benefícios.
De acordo com o professor, a substância pode variar muito em sua composição química. Um estudo do Dr. Pascoal e equipe afirma que a composição pode oscilar entre 13% e 55% de carboidratos, 0,3% a 20% de fibras brutas, 10% a 40% de proteínas e 1% a 10% de gorduras ou lipídios, também contendo vitaminas e sais minerais, além de teores variados de flavonoides e polifenois, responsáveis pela maior parte dos benefícios à saúde. Confira:
- Estudos feitos em 2021 demonstraram que o pólen de abelha é um produto antiviral eficaz e, especialmente potente contra vírus que causam doenças respiratórias graves, como os coronavírus humanos, sendo capaz de reduzir a intensidade e a duração dos sintomas.
- Um outro estudo, publicado na revista Herba Polonica, concluiu que o consumo de pólen de abelha diminui o teor de triacilglicerois no plasma sanguíneo de ratos e coelhos.
- A equipe da professora Komosinska-Vassev demonstrou que o consumo do pólen apícola reduz a quantidade de gordura ou lipídios no sangue.
- De acordo com o mesmo estudo, em pacientes com arteriosclerose, houve redução nos níveis de colesterol no sangue e melhora da visão.
Professor Décio Gazzoni que é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciências
Reduz alergias e inflamações
- O pólen de abelha também protege o corpo de reações alérgicas porque impede que os mastócitos, um tipo de célula imunológica, liberem histaminas. Estas causam picos de reações alérgicas, como urticária, vermelhidão e coceira.
- Um outro estudo da equipe do professor Medeiros, da Universidade Federal da Paraíba, concluiu que o extrato fenólico de pólen de abelha, administrado em ratos, reduziu parcialmente o choque anafilático entre outras reações alérgicas, como inflamação das patas e asma.
- O pólen de abelha pode ajudar ainda a reduzir a inflamação não bacteriana da próstata. Em ratos, o pólen de abelha melhorou a inflamação causada pelo inchaço da próstata, de acordo com um estudo publicado no International Journal of Advanced Research.
- Devido a seu efeito no sistema imunológico, o pólen de abelha também pode reduzir o risco de doenças como o câncer e doenças neurodegenerativas, de acordo com um estudo conduzido pela equipe do Dr. Peng Lu.
- Em algumas partes da China, o pólen de abelha coletado de nabos oleaginosos já é usado como preventivo contra o câncer, sendo que aquele coletado de rosas-de-praia nativas do leste da Ásia (Rosa rugosa) pode ter algumas propriedades antitumorais.
- De qualquer forma, seu consumo já seria justificado em função do alto valor nutricional que oferece, com altas concentrações de vitamina C, E e B, além de proteínas e de suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antimicrobianas.
Vai bem no café da manhã, na salada de frutas ou sucos
O consumo máximo diário deve ser de cerca de 5g, aproximadamente duas colheres de chá, uma quantidade reduzida, mas suficiente para acessar todos os seus benefícios. Em geral, o pólen apícola é encontrado no mercado na versão desidratada, em grãos com textura crocante. Vai bem no suco de frutas, na vitamina ou na salada de frutas com cereais.