De acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), aderir ao flexitarianismo é adotar uma alimentação reduzida em alimentos de origem animal como as carnes vermelhas, peixes, ovos, aves, leites e derivados que passarão a ser consumidos esporadicamente. A decisão pode ser também um passo importante para quem está ensaiando tornar-se vegetariano ou vegano.
Pois pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) decidiram investigar quem é esse público. O resultado foi publicado, recentemente, pela revista científica “Appetite”: mulheres de alta renda e de alta escolaridade, residentes em grandes centros urbanos. De cada dez brasileiros que decidem reduzir o consumo de carne, sete são mulheres
O objetivo da investigação foi traçar o perfil socioeconômico, demográfico e as motivações dos chamados flexitarianos. Os pesquisadores analisaram dados coletados por uma pesquisa online com 1029 pessoas que se autodeclararam flexitarianas. Mais da metade (56%) das pessoas escolhem uma dieta com baixo consumo de carne por causa de preocupações ambientais e de bem-estar animal.
“As preocupações com a degradação ambiental e a forma como os animais são tratados para fins de consumo parecem estar conectadas com o perfil político, de renda e nível educacional destas pessoas”, analisa Carla Djaine, cientista social pesquisadora da UFRN e principal autora do estudo. Em seguida, vêm as preocupações com a saúde individual.
O estudo revela que os flexitarianos consultados têm um salário médio relativamente mais alto em comparação à renda média da população brasileira: eles ganham 3,6 vezes mais, ou seja, R$ 9.050,92, enquanto a renda média é de R$ 2.533, segundo dados do IBGE.
“Isso mostra que o poder de compra pode não ser o principal motivador da redução do consumo de carne, sendo importante diferenciar flexitarianos daqueles que limitam o consumo por questões financeiras”, afirma Djaine.
No entanto, o aumento de gastos com a alimentação é um fator relevante. A pesquisadora comenta que a dieta flexitariana pode custar até 60% a mais do que dietas convencionais, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A escolha pelo flexitarianismo pode ter uma relação de gênero que precisa ser mais investigada. “É preciso entender os motivos de as mulheres serem uma maioria tão expressiva. Acredito que elas têm uma maior preocupação com o outro, seja em relação ao meio ambiente, aos animais ou à saúde própria e da família”, afirma Djaine.
Outro ponto levantado pela pesquisa é que o flexitarianismo é considerado uma transição para o veganismo e vegetarianismo. Assim, a prática pode servir como trampolim para sistemas alimentares mais sustentáveis.
“Mas é preciso que existam políticas públicas e campanhas que incentivem uma alimentação diversa, com o uso de alimentos subutilizados da biodiversidade brasileira, como as plantas alimentícias não convencionais (PANCs) que são ótimos substitutos para a carne animal”, conclui a pesquisadora.
(*) Com informações da Agência Bori.