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Do boi se aproveita tudo, até o berro

Quatro anos atrás a Embrapa produziu uma matéria sobre os subprodutos do boi, e vale a pena relembrar; além da carne, o animal tem muito a oferecer à sociedade

Coluna deste domingo

De repente o boi passa a ser um dos principais fornecedores de gás metano do planeta e tem provocado as mais diversas reações, muitas vezes por total desconhecimento técnico e da verdade.

Primeiro falaram que o “pum” do boi era o grande responsável pela emissão de gás metano. Não é verdade! O arroto dele é que lança o gás na atmosfera mas não trata-se do volume que se propaga.

Os movimentos de determinados segmentos da sociedade são cíclicos. A carne de porco já foi vilã em sua época, o ovo chegou a ser banido do prato de muita gente e depois voltou com força total, a carne de frango pouco tempo atrás estava carregada de hormônio e não se fala mais nisso, até o leite chegou a ser visto de forma negativa mas essa é uma proteína sem igual no mundo. Ai das crianças sem ele!

Há estudos científicos responsáveis que merecem ser avaliados e respeitados e a questão do gás metano merece atenção sim! Só que não é da maneira que muitos propagam como autoridades ou professores do nada. O que mais emite gás metano? O arroto do boi ou as descargas de veículos automotores? Todos sabem que o asfalto não sequestra ou segura o gás, mas a vegetação retém o carbono e o boi não anda no asfalto.

O que mais se vê nos dias de hoje são os pecuaristas preocupados com a emissão de gases, produzir em parceria com o meio ambiente, até porque esse comportamento retorna em dinheiro, produtos mais valorizados, financiamentos com juros mais baixos e a consciência que a grande maioria já absorveu.

No Brasil estamos batendo recordes em tudo que faz parte do agronegócio. Excluindo a produção de carne e grãos, nunca implantamos tantas usinas fotovoltaicas no país. Energia limpa! Também os biodigestores que transformam dejetos de humanos, animais e vegetais em energia elétrica ou mesmo gás.

As reações nos mais diversos países por causa de tentativas em mudar bruscamente o sistema de produção têm sido constantes. Dias atrás houve um protesto nunca visto pelos agropecuaristas holandeses que pararam as principais autopistas do país, fecharam a chegada do aeroporto de Amsterdam e deixaram desabastecidos por dois dias os supermercados da Holanda. E o resultado foram as gôndolas vazias. Se organizaram de forma tal que ninguém forneceu carne, leite e hortifrutigranjeiros as grandes redes de supermercados.

Esse movimento cresceu em velocidade até a Polônia, Itália e teve rápido início na França e Alemanha. Tudo porque o primeiro ministro da Holanda resolveu implantar regras ambientais absurdas para o setor agropecuário. Chegou a dizer que quem não seguisse estaria fora do mercado. O corte de boa parte dos fertilizantes e pesticidas fazia parte do protocolo. O governo holandês falou ainda sobre a redução de 30% de seu rebanho bovino.

Só que o governo não esperava uma reação de tamanho impacto e uma semana depois o primeiro ministro voltou atrás e afirmou que a melhor maneira de se resolver o assunto seria com diálogo, mas os agropecuaristas não admitem essa mudança radical.

A Holanda supera o Brasil em valores de exportação. Só perde para os Estados Unidos. Além da genética do gado os holandeses exportam em grande quantidade: batata, cebola, flores, frutas, queijos, lácteos, hortaliças de altíssima qualidade, quase 30% do tomate mundial, máquinas de processamento e agrícolas, agricultura de alta precisão.

Voltando ao título da coluna...

Do boi se aproveita tudo, até o berro. É verdade, pois o som emitido pelo bovino é utilizado em gravações musicais, filmes e novelas e animam festas agropecuárias. E as outras utilidades ou os outros subprodutos:

Pele: fabricação de bolsas, calçados, bancos de carro e avião, luvas de goleiro, calçados esportivos e também roupas de luxo. Da pele extrai-se o colágeno usado em domésticos (cremes e esmaltes), chicletes, filmes radiológicos.

Pelos: da cauda são fabricados pincéis e escovas de cabelo. Dos pelos de dentro da orelha são feitos pincéis finíssimos de pintura.

Glândulas tireoide, suprarrenais e pâncreas: usadas em medicamentos e perfumaria. Do pâncreas vem a insulina para diabéticos.

Intestino: dele são feitos os fios cirúrgicos. A gordura serve para sorvetes e confeitaria.

Sebo: fabricação de velas, sabão e sabonetes perfumados.

O pó do extintor de incêndio sai do chifre e serve também para fabricar pentes e botões.

O osso serve para ração. Se calcinado é utilizado na fabricação de porcelanas e enxertos ósseos dentários.

O sangue serve para ração. O plasma é usado na fabricação de embutidos e vacinas.

Então... Ficou faltando dizer o que o boi nos oferece muita carne, a proteína mais cobiçada do mundo.

Produtor rural no município de Bambuí, em Minas Gerais, foi repórter esportivo por 18 anos na Itatiaia e, por 17 anos, atuou como Diretor de Comunicação e Gerente de Futebol no Cruzeiro Esporte Clube. Escreve diariamente sobre agronegócio e economia no campo.