Quem convive com
A pesquisa, conduzida por cientistas do Museu de História Natural de Berlim e da Universidade de Nápoles Federico II, revelou que o ronronar dos gatos domésticos é mais confiável para identificar cada indivíduo do que o miado. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports.
De acordo com o estudo, os miados apresentam grande variação e se adaptam a diferentes situações, enquanto o ronronar mantém uma estrutura mais estável e característica de cada gato. Esse padrão indica que a domesticação ampliou a diversidade dos miados, tornando-os mais eficientes na comunicação com humanos.
Entre as vocalizações mais conhecidas dos gatos estão o miado e o ronronar, mas eles cumprem funções diferentes. O miado é curto, tem tom variável e costuma ser usado principalmente para interagir com pessoas. Sua frequência pode variar bastante e muda conforme o contexto, o que garante grande flexibilidade.
Já o ronronar é um som contínuo, de baixa frequência e baixa intensidade, produzido com a boca fechada e acompanhado por vibrações do corpo. Ele costuma aparecer em momentos de relaxamento, durante o contato próximo com pessoas conhecidas e na comunicação entre mães e filhotes logo após o nascimento. Ainda assim, também pode surgir em situações de estresse ou dor.
Para chegar às conclusões, os pesquisadores analisaram 276 miados de 14 gatos e 557 ronronares de 21 gatos, utilizando técnicas de reconhecimento automático de fala. Os dados mostraram que o ronronar permite identificar cada gato com mais precisão. A taxa de acerto foi de 85,5 por cento para os ronronares, contra 64,4 por cento para os miados, quando comparadas amostras equivalentes.
Segundo a coautora Anja Schild, cada gato analisado apresentou um ronronar próprio e reconhecível. Essa singularidade faz do ronronar uma ferramenta importante para o reconhecimento individual, tanto entre os próprios gatos quanto na interação com humanos, especialmente em situações de proximidade.
O miado, por sua vez, se destaca pela capacidade de adaptação. Ele é usado em diversas situações do dia a dia, como pedir comida, chamar atenção ou demonstrar desconforto. Para o pesquisador Danilo Russo, autor principal do estudo, as pessoas tendem a notar mais os miados justamente porque os gatos os utilizam sobretudo na comunicação com humanos.
A flexibilidade do miado está ligada à convivência com pessoas, que têm rotinas, expectativas e reações variadas. Esse ambiente favoreceu gatos capazes de ajustar seus sons de forma mais dinâmica, transformando o miado em uma ferramenta essencial para a vida em lares humanos.
O estudo também aponta que a domesticação teve papel decisivo na evolução da comunicação vocal dos gatos. Comparações com espécies selvagens, como gato do mato, gato da selva, guepardo e puma, mostraram que os gatos domésticos apresentam muito mais diversidade acústica. Enquanto os felinos selvagens têm vocalizações mais padronizadas, os domésticos desenvolveram sons mais variados e adaptáveis.