A análise de
A proposta vem do
Segundo Bar-Ron, os textos revelam frases como ‘ZT MMŠ' (‘Isto provém de MŠ') e ‘N’UM MŠ' (‘Um dito de MŠ'), que ele interpreta como marcas de autoria. “Se estiver correto, esta poderia ser a primeira evidência escrita de Moisés como indivíduo histórico”, afirmou ao portal Patterns of Evidence. A linguagem utilizada nas inscrições - um dialeto semítico do noroeste próximo ao hebraico bíblico, com influências aramaicas - reforça sua tese.
Para sustentar suas conclusões, o pesquisador utilizou tecnologia de ponta, incluindo imagens de alta resolução, escaneamentos 3D e moldes preservados no Museu do Antigo Oriente Próximo de Harvard. Ele identificou padrões linguísticos e formas como a letra ‘mem’ (מ), que estariam associadas a autores semitas da elite egípcia - uma descrição compatível com a narrativa bíblica que mostra Moisés sendo criado na corte do faraó.
A pesquisa também propõe uma identificação do visir egípcio Ankhu como possível representação histórica de José, figura central do livro de Gênesis. A inscrição Sinaí 350, por exemplo, apresenta um cartucho com elementos egípcios e semíticos, além de referências à divindade El, associada ao antigo culto hebraico.
Bar-Ron sugere ainda um cenário de conflito religioso em Serabit el-Khadim, baseado em alterações visíveis nas inscrições. “Vemos inscrições de adoração que aludem a Baalat, só para que escribas posteriores as modificassem, apagando símbolos como o peixe e os substituindo por louvores a El”, afirmou. Segundo ele, isso indicaria uma ‘rebelião teológica’, talvez liderada por seguidores de El - com possível participação de Moisés -, que culminaria na destruição de um templo dedicado a Baalat.
Apesar da repercussão, a proposta divide especialistas. O egiptólogo Thomas Schneider, da Universidade da Colúmbia Britânica, considerou as alegações “completamente infundadas e enganosas”, questionando a identificação das letras e o viés teológico da interpretação.
Mesmo assim, as enigmáticas inscrições de Serabit el-Khadim continuam atraindo atenção acadêmica. Caso as interpretações de Bar-Ron sejam confirmadas, elas podem reconfigurar a arqueologia bíblica ao oferecer indícios materiais sobre personagens e eventos antes restritos à tradição religiosa.