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Ceratocone: campanha Junho Violeta alerta para detecção precoce da doença ocular rara

Doença genética rara nos olhos se manifesta na adolescência ou no início da vida adulta, entre os 10 e 25 anos de idade; em situações extremas, o transplante de córnea pode ser necessário

A campanha ‘Junho Violeta’, lembrada neste mês, visa aumentar a conscientização sobre o ceratocone, destacando a importância do diagnóstico precoce da doença ocular genética e rara. Quanto mais rápido for detectada, maiores são as chances de retardar a doença e evitar a cegueira dos olhos.

O que é ceratocone?

O ceratocone é uma doença ocular progressiva genética rara caracterizada pelo afinamento e pela deformação da córnea, que assume uma forma cônica. Essa alteração na estrutura da córnea provoca distorções visuais significativas, afetando a qualidade da visão do paciente.

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‘Geralmente, a doença afeta ambos os olhos, embora a progressão e a gravidade possam variar entre eles. Em alguns casos, um olho pode ser significativamente mais afetado do que o outro’, explica o Tiago César Pereira Ferreira, oftalmologista preceptor de cirurgia oftalmológica na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e diretor da Ampla Oftalmologia.

Procurada pela reportagem, o Ministério da Saúde informou que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece assistência integral à saúde ocular, garantida pela Política Nacional de Atenção em Oftalmologia em todas as unidades federativas do Brasil. A porta de entrada para o início da assistência adequada é a Atenção Primária à Saúde, onde o usuário será acolhido e avaliado pela equipe multiprofissional da unidade.

Casos da doença

De acordo com o Sistema de Informações Hospitalares e Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2023, foram realizadas 2.041 internações relacionadas à Ceratocone. De janeiro a março de 2024, foram realizadas 506 internações.

No âmbito ambulatorial, foram registrados 31.679 procedimentos relacionados à doença em 2023. No primeiro trimestre de 2024, foram registrados 6.726 procedimentos. 'É importante reforçar que os números relacionados às internações e aos procedimentos ambulatoriais não são referentes ao número de pessoas atendidas, mas sim ao número de procedimentos realizados. Dessa forma, o mesmo indivíduo pode ter feito mais de um procedimento ou ter sido internado mais de uma vez’. destaca a pasta.

Segundo o oftalmologista, o ceratocone geralmente se manifesta na adolescência ou no início da vida adulta, entre os 10 e 25 anos de idade. ‘A progressão da doença pode continuar até os 30 ou 40 anos, quando tende a estabilizar’, afirma o especialista.

Sintomas

Nos estágios iniciais, o ceratocone pode ser assintomático ou apresentar sintomas leves que podem ser confundidos com outros problemas visuais. À medida que a doença progride, os sintomas tornam-se mais evidentes.

Os sintomas do ceratocone incluem visão embaçada; distorção das imagens; sensibilidade à luz (fotofobia); visão dupla (diplopia) e dificuldade em enxergar à noite. A perda de visão pode ocorrer, especialmente se a doença não for tratada adequadamente, devido à deformação progressiva da córnea.

Diagnóstico

De acordo com o oftalmologista, o diagnóstico do ceratocone é realizado através de um exame oftalmológico completo, que inclui a topografia corneana, um exame que mapeia a curvatura da córnea e detecta suas irregularidades. Outros exames complementares, como a tomografia de coerência óptica (OCT) e a paquimetria corneana, também podem ser utilizados.

Tratamento

O tratamento do ceratocone varia conforme a gravidade da doença. Nos estágios iniciais, óculos ou lentes de contato rígidas podem corrigir a visão. Em casos mais avançados, são indicados procedimentos como: o crosslinking corneano, uma cirurgia em que é depositada uma solução contendo riboflavina (vitamina B2) na córnea do paciente com ceratocone, juntamente com a aplicação de um espectro de radiação ultravioleta (UVA) por cerca de 30 minutos.

O implante de anéis intracorneanos também é uma opção de procedimento, e, em situações extremas, o transplante de córnea pode ser necessário.

‘O transplante de córnea é indicado em casos avançados de ceratocone, quando outras formas de tratamento não são mais eficazes e a visão está severamente comprometida. Esse procedimento substitui a córnea danificada por uma córnea saudável de um doador, restaurando a transparência e a forma corneana’, ressalta Tiago.

Segundo o Ministério da Saúde em relação ao número de transplantes de córnea relacionados à doença, foram realizadas 3.125 no ano de 2023 no país. De janeiro a maio de 2024, foram 1.188 transplantes realizados.

Prevenção

Embora o ceratocone tenha um componente genético, algumas medidas podem ajudar a controlar sua progressão. O crosslinking corneano é um procedimento eficaz para fortalecer a córnea e retardar a progressão da doença. Além disso, evitar esfregar os olhos pode prevenir o agravamento do afinamento corneano.

*Sob supervisão de Enzo Menezes


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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde
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